Pela Nossa Nação - Simone e Soraya

Capítulo 21+1

Esta é uma obra de ficção, feita por fã e sem qualquer relação com a realidade.

Soraya chegou em casa tarde da noite e encontrou o marido sentado no sofá.

O corpo curvado. A respiração tensa. O pé nervoso batendo insistentemente contra o carpete. A mão balançando um copo de whisky.

Ao vê-lo naquele estado, Soraya temeu pelo que viria a seguir. Ele sabe, ela pensou. Teve medo, mas ainda assim, coragem o suficiente para não ignorar. A angústia em seu semblante era palpável demais para que ela tivesse o estômago de negligenciar.

— Paulo... — ela o chamou com cuidado.

Ele, espantado, sendo tirado do mundo absorto em que estava, a encarou. Soraya achou que ali mesmo ele a mataria, a expulsaria de casa, jogaria seu nome na lama, condenaria toda sua existência. Mas ele apenas disse de modo indiferente:

— Pensei que fosse dormir na Simone.

Pelo tom, não conseguia supor se ele estava com raiva, mas estava visivelmente abalado. Independente da razão para seu estado, Soraya se sentiu culpada e se aproximou, tirando dele o copo de bebida e colocando-o sobre a mesa de centro.

Sentada ao seu lado, segurando suas mãos, ela o sentia distante demais, como nunca antes.

— Eu ia dormir lá, mas a festa estava chatíssima, sertanejo por horas e você sabe como eu odeio sertanejo, então preferi voltar para casa — mentia, mas buscava acreditar que simulava bem. Porém, para seu nervosismo crescente, o marido não comentou nada, apenas se soltou dela, se inclinou e pegou novamente o copo. — O que está havendo, Paulo? Algum problema no trabalho?

— Não... Problemas em casa — disse após ter pensado em como iniciar uma conversa para a qual ainda não havia se preparado. — A gente fez votos na Igreja, Soraya... Não deveria existir traição na nossa relação. Não deveria existir nem mesmo a vontade de trair.

Um nó se formou na garganta de Soraya. Ele descobriu.  Descobriu!

— Eu nunca te trairia — ele continuou. —, mas eu estou querendo fazer isso. E se cheguei a esse ponto, significa que nosso casamento está uma merda, Soraya. Ok que ainda existe alguma sintonia quando a gente está junto, mas depois você vira para o lado e parece que está em outro lugar.

O peso em seu peito e a tensão em seu rosto deram lugar a uma calmaria que Soraya não imaginou ser possível. E Paulo somente não percebeu tal mudança de expressão porque estava concentrado demais tentando não soar um canalha para a esposa.

Uma crise matrimonial ou de idade. Uma crise, apenas isso, ela pensou.

— Essa conversa é, por acaso, um aviso de que você vai me atrair? É isso? — Soraya não pôde deixar de rir por dentro ao pensar em como aquilo era irônico.

Mas seu semblante murchou quando ele respondeu:

— Não. É uma conversa para a gente encerrar nosso casamento.

Sentiu uma vertigem. Suas mãos começaram a tremer e um nó se formou em sua garganta.

Abalada com a descoberta a respeito da sua não aceitação como vice, fingindo ter que ir embora para resolver uma questão familiar, Soraya não poderia ter imaginado que, de fato, haveria uma questão familiar a ser resolvida.

Pega de surpresa, ela se levantou, andando pela sala e tentando digerir aquela decisão unilateral.

Ele estava pedindo o divórcio. Ela o traia! Mas era ele, que sempre foi acomodado, quem pedia o divórcio por estar insatisfeito. Parecia insano que estivessem tendo aquela conversa.