Capítulo 24

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Levou alguns instantes pra que a afirmação fosse devidamente registrada, então Rhysand se virou pra Azriel. Surpreendentemente, estava lívido de raiva.

 
Rhysand: O que você fez?! – Perguntou, raivoso. Azriel arregalou os olhos. Não fizera nada, fizera?
 
Gwyn: Não! – Rhysand olhou – Não, ele não me pediu nada. Ele só soube agora, como você. – Gwyn era péssima mentindo, então era claro ver que ela falava a verdade.
 
Rhysand: Porque você decidiu isso? – Perguntou, exasperado.
 
Gwyn: Eu já lembrei algumas coisas e... Eu não gosto do que eu me lembro. – Disse, o rosto sem nenhuma gota da alegria inocente que ela tinha, totalmente sério – Eu era infeliz. Profundamente infeliz, atormentada. Eu não amava o meu marido, eu não gostava da minha vida, e algo no meu interior diz que ainda tem algo ruim que eu não consigo lembrar. – Azriel se mexeu, desconfortável.
 
Azriel: E nem precisa ficar tentando. – Cortou. Ele preferia que ela lembrasse que odiava ele do que lembrasse do trauma dela. Gwyn assentiu.
 
Gwyn: O que eu tinha antes do acidente... Minha vida era escuridão pura. – Disse, o olhar determinado – Olhe pra mim agora. Eu amo meu marido, ele me ama, e nós temos um filho que não poderia ser mais perfeito. Eu não imagino um modo de ser mais feliz do que sou hoje. Antes era escuridão, mas agora eu vivo na luz, Rhys.
 
Rhysand: Em todos os anos de profissão, eu nunca... – Ele hesitou.
 
Gwyn: Me diga, você que sabe de tudo: O que eu tenho a ganhar reavendo o que eu esqueci? – Azriel encarou Rhysand, e não havia resposta pra isso. – Nada. Não há nada a ganhar, pelo contrário.
 
Rhysand: Você tem certeza? – Perguntou, ainda exasperado.
 
Gwyn: Eu sou feliz agora. Eu sou feliz, Azriel é feliz, Remoh é feliz. – Gwyn raramente chamava Remo pelo nome inteiro, isso era um sinal de que ela estava falando sério – Não há memória que valha arriscar isso. Eu não vou perder essa felicidade, eu vou vivê-la, mesmo que em cima de uma mentira. – Disse, decidida.
 
Rhysand: Gwyn...

Gwyn: Tudo bem, eu posso ser uma adulta que tem os sentimentos de uma criança de 10 anos, mas não o tempo todo. – Disse, tranquila – Eu estou aqui, conversando com você, eu pareço uma criança agora? – Perguntou, tranquila. Gwyn não lembrava nem de longe uma criança – Eu amo você com a intensidade que uma criança conseguiria amar? – Perguntou, olhando Azriel, que estava totalmente aparvalhado – Eu consigo tocar a minha vida. Meu casamento vai bem. Meu filho é feliz. Eu não preciso de mais nada.
 
Rhysand: Bem, talvez tenha algo que você não queira deixar pra trás, já considerou isso? Sua profissão, por exemplo? – Perguntou, sondando-a. Gwyn estava totalmente adulta agora e completamente decidida.
 
Gwyn: Bem, tudo tem seu preço. Eu não vou me lembrar, Rhys. Eu não quero lembrar. Eu não quero ser infeliz de novo. – Disse, séria – Eu tomei essa decisão semanas atrás, quando voltamos de Hamptons pela primeira vez, mas decidi guardar pra contar hoje. Sei que você ficaria feliz. – Disse, encarando o marido.
 
Azriel: O que você quer fazer? – Perguntou, olhando-a.
 
Gwyn: Parar a terapia. Já parei os remédios. – Confessou. Rhysand suspirou, exasperado – Parei aos poucos, com medo de haver algum efeito colateral, até parar de vez, e não houve nada. – Contou.
 
Rhysand: Você tem flashbacks do seu passado. Como vai lidar com isso? – Perguntou, mortificado.
 
Gwyn: Bem, Balthazar me ensinou a deixá-los fluir. A técnica é esvaziar a mente, relaxar, deixar acontecer... Eu tenho feito o contrário. – Disse, apanhando o pulso. Por baixo da pulseira de diamantes havia um elástico de dinheiro.
 
Rhysand: Um elástico de dinheiro? – Perguntou, cético.
 
Gwyn: Eu não fico fora do ar quando as lembranças vem, é só como se eu tivesse assistindo um filme bem real, mas eu ainda tenho domínio das minhas reações. – Explicou – Quando a lembrança vem, ao invés de deixá-la fluir, e eu a afugento. Assim. – Ela puxou o elástico e soltou, deixando-o dar um pitoque em seu pulso.
 
Rhysand: Não há garantias. – Dispensou.
 
Gwyn: Há, sim. – Cortou, cruzando os braços – Há algumas semanas eu meio que forcei a mente, tentando lembrar de alguma coisa, qualquer coisa. Estava assistindo TV, um filme, e alguém jogou vinho na cara de alguém. A lembrança veio. Começou, no caso. Eu estava com raiva, furiosa, e eu ia jogar o copo de água que eu tinha na mão na cara de alguém, ia mesmo fazer isso... Então puxei o elástico. – Disse, simples. Azriel a olhava como se assistisse um milagre – Não cheguei a ver se joguei a água ou em quem foi. A lembrança fugiu junto com o susto.

A Court Of Beginnings And Lies - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora