Capítulo 5

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Remo tinha os olhinhos abertos, incrivelmente azuis, olhando os brinquedinhos pendurados no berço. Estava quietinho, Azriel o dera banho (se molhando todo no processo), e ele estava bem. Ianthe estava parada ao lado do berço, observando-o. O odiava. Podia ter olhinhos azuis e covinhas ao sorrir, mas não a ganhava. Como era possível? Ela mesma sonhou com engravidar de Azriel por anos – tentou e tentou – e nada aconteceu. Se ela engravidasse, não haveria mais esse segredo: Grace ia ter que aceitar. No fim se conformou que ele era estéril, mas então vem a super Gwyn e consegue engravidar. A injustiça que era a existência daquela criança era tão grande que ela tinha vontade de estrangulá-lo, ali no berço mesmo, apertar até aquela serenidade sumir do rosto dele, até os ossos se partirem...

 
Azriel: Pronto. – Disse, tranquilo, entrando no quarto com uma toalha em volta do pescoço, banho recém tomado e uma mamadeira na mão. Remo, que ignorava Ianthe com uma classe digna de Gwyn, balançou os bracinhos ao ouvir a voz do pai. Reconhecia e gostava. – Vamo papa? – Chamou, e o menino riu de leve. Azriel sorriu, apanhando-o no colo.
 
Ianthe: Existem babás pra isso. – Disse, se afastando, observando Azriel dar a mamadeira cuidadosamente ao menino. Era o leite de Gwyn, conservado em casa por uma maquina que o mantinha aquecido e em movimento, de forma que parecia novo.
 
Azriel: É meu filho. – Disse, sorrindo pro menino, que mamava avidamente, as mãozinhas segurando a mamadeira – Eu cuido dele. – Completou, simples.

Ianthe: Você deixa Grace cuidar. – Assinalou, se sentando.
 
Azriel: Bom, minha mãe é... Minha mãe. – Disse, obvio. Grace vinha passar dias com Azriel e ele mesmo ia pra casa dela quando ficava saturado, de forma que ela cuidava do menino enquanto ele dormia feito uma pedra – De qualquer forma, ele já adequou o horário dele. Dorme a noite, não é? – Perguntou, brincando com o Remo, que deu um sorriso sem dentes, o bico da mamadeira ainda na boca. – Está melhorando. - Confirmou, aliviado.
 
Ianthe: Se você diz... – Deu de ombros, desgostosa.
 
Azriel: É, sim. Já tem dado pra trabalhar um pouco em casa, dormir melhor a noite... Ele só acorda quando tem fome. – Disse, orgulhoso – Ei, você pode colocar aquele chocalho na bolsa dele? – Pediu, apontando na cama – Ajuda a dormir.

Eles iam passar o natal na casa de Grace, como sempre. A mala de Azriel estava pronta, assim como a bolsa do menino. Ianthe enfiou o chocalho dentro da bolsa, desejando ser uma cobra, e assim que Remo terminou partiram. Segundo Ianthe o carro dela estava na oficina, por isso ia de carona. Bom, quem faz o que quer...

 
Ianthe: O que estamos fazendo aqui? – Perguntou, quando o motorista fez a curva, parando na frente da entrada do hospital – Sabe que eu não posso entrar. – Disse, obvia.
 
Azriel: Eu sei. Eu vou ver Gwyn. O motorista vai levar você até a casa de minha mãe e voltar pra cá. – Tranquilizou, apanhando só a bolsa do filho e assentindo pra ela, deixando-a furiosa no carro e descendo.
 

Foi meio curioso. Remo já ia fazer 6 meses, estava esperto, os cabelos escuros contrastando perfeitamente com a pele clara e os olhos azuis. Era um bebê essencialmente fofo. Algumas enfermeiras pararam Azriel, pedindo pra olhar o menino. Ele as intimidava, mas a vontade de conferir o motivo pelo qual a paciente do quarto 412 preferira morrer era irresistível. Depois de alguns minutos ele conseguiu se soltar e chegar ao seu objetivo. Gwyn estava deitada, a cabeceira da cama meio levantada, coberta por um edredom azul. Ele largou a bolsa do menino num canto e se aproximou.

 
Azriel: Sei que demorei, desculpe. – Disse a Gwyn, após se ajeitar de modo que o menino visse a mãe – Olha a mamãe, filho. – Disse, ajeitando o cabelinho do menino. – Ele está grande agora, Gwyn. É forte. Veja . – Ele apanhou a mão dela, levando até o bebê, fazendo-o tocá-lo.
 

Era muito triste. Remo olhava Gwyn, sereno, sem sorrir como costumava fazer, e essa continuava apagada, o cabelo caindo sobre os ombros, o tubo de oxigênio no rosto. Quando Azriel soltou, a mão dela caiu frouxa sobre a cama, sem vida. Ele suspirou, olhando Remo, que olhava a mãe, quieto. O menino estendeu a mãozinha, parecendo querer tocar e Azriel o aproximou. Ele agarrou o dedo da mãe, puxando-o, mas não teve força o suficiente. Azriel ficou ali por horas. Colocou Remo no colo de Gwyn um tempo, mas não suportava a imagem. Deixou que o menino se acostumasse com a imagem, mesmo que não tivesse o mesmo cheiro nem o mesmo toque.
 
Azriel: Nós estamos esperando. – Disse, por fim, mas Gwyn permaneceu apagada, pálida – Sei que você está tentando. Quando conseguir, estaremos aqui. – Garantiu, se inclinando e dando um beijo na testa dela, apanhando a bolsa do menino e saindo dali.

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