Refúgio de um solitário

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Sinto um leve ardor no rosto, ajeito minha cabeça na almofada e tento cobrir o meu rosto com o edredom, mas sinto uma resistência no tecido, puxo novamente e não consigo, acabo me irritando e acordando, assim que abro os olhos, sinto uma sensibilidade à luz,  forte dor de cabeça, me fazendo lembrar dos drinks sem moderação que bebi ontem no casamento, meu estômago náusea.

Meio sem jeito, tento me sentar no colchonete improvisado como cama, vejo que o sol lá fora está nascendo, olho para o lado vejo garrafas espalhadas e uma cesta que Apolo e eu pegamos escondido na cozinha com comida do casamento pelo chão de madeira.  Olho para a janela de vidro e tento admirar o nascer do sol sem que a sensibilidade da ressaca me impossibilite, mas está difícil, sinto o colchonete se mexer e me viro para o lado e vejo Apolo acordando, com a cara amassada, cabelo bagunçado, sem o paletó e a gravata, com a camisa com dois botões soltos, amassada e a calça também amassada. Ele tenta abrir os olhos, mas solta um grunhido e fecha novamente, abrindo aos poucos e me olhando.

- Bom dia Geo. - Ele se aproxima de mim e me abraça de costas, me dando um beijo na orelha.

- Bom dia Polo. - Deito minha cabeça no seu ombro direito.

Me lembro da madrugada que tivemos, da surpresa que tive, ao ver que Apolo construiu uma casa na árvore onde era o nosso esconderijo, ele até fez uma varanda, tudo muito simples, me disse que vem aqui quando quer pensar ou ter inspirações para pintar, é possível ver uns quadros perdidos e material de tinta espalhados por todo lugar. Disse que deu nome de refúgio de um solitário.

Que madrugada mágica, sentamos aqui e conversamos até cairmos no sono, relembramos o passado, sem tocar no assunto sobre nós e a minha partida em si, acabamos dormindo sem perceber, ele foi carinhoso todo momento, desde segurando minha mão, até nos beijos roubados enquanto lembrávamos das nossas travessuras. 

Me telefone vibra com uma mensagem de Matteo.

Ele: Geo, cadê você? Mamma sentiu a sua falta, já está no escritório?

 - Puts! - Exclamo sentido uma corrente de adrenalina, me levantando apressada e procurando a minha sandália, vejo expressão surpresa de Apolo que logo pergunta:

- O que foi Geo? O que aconteceu?

- Apolo eu preciso ir, me esqueci totalmente que hoje é segunda-feira e não domingo. - Olho as horas no celular e vejo que já passa das 07:15 da manhã. - Você viu onde foi parar as minhas sandálias? - Meu estomago ronca.

- Geo, me passa seu contato novo? - Ele me pede pegando o celular nas mãos.

Eu passo e ele logo responde:

- Eu me lembro de você ter tirado suas sandálias para subir, pode estar na varanda. - Ele me lembra e vou na varanda procurar. - Mas calma Geo, vamos tomar um café, ainda deve ter pão e queijos na cesta.

Meu estomago nauseia quando penso na comida na cesta e sinto uma ânsia de vomito.

- Estou precisando de um banho, tomar uns remédios para essa ressaca - Digo massageando a minha têmpora. - Fora que mamma já deu por minha falta. 

- Geórgia Capeletti se preocupando com sua mãe? - Ele indaga surpreso com a minha fala. - Cadê a garota do espirito livre, que seguia a própria vontade?

Eu caminho até ele com minhas sandálias nas mãos, olho fixamente nos olhos dele séria e respondo ríspida:

- Ela não existe mais! Não posso mais me dar ao luxo de ser irresponsável com tantas decisões, coisas e pessoas para cuidar.

Vejo seu rosto se transformar, estava leve e com um sorriso de lado, agora está sério.

 - Eu não quis dizer nada que te ofendesse. -  Ele justifica. - Me desculpe.

- Está bem Apolo, não precisa me pedir desculpas, mas agora eu preciso ir. - Vou indo em direção a escada que da acesso ao chão. - Ele corre para me alcançar, me puxa pela braço e me tasca um beijo, um beijo doce.

- Sai comigo hoje a noite?. - Ele pergunta com nossos narizes colados e mais uma vez, as borboletas do estomago flutuam e dou um sorriso bobo para ele.  

- Hoje é segunda Grego, nem todo mundo tem a cultura de se casar no domingo e ficar tranquilo na segunda, e também não vai ter lugar aberto em plena segunda a noite. - Respondo tirando meu rosto do seu e me virando para descer as escadas.

- Hei italianinha, os casamentos gregos são celebrados em um domingo é para desejar bons votos. - Ele justifica. - Nem todos, conheço um ótimo restaurante. - Ele ri. - Que abrirá exclusivamente hoje, se uma italianinha aceitar jantar. - Ele fala alto, pois já estou no meio da escada.

Eu dou risada da insinuação que ele dá, e o olho em cima da escada.

- Só se tiver baklava de sobremesa, e mesmo assim não garanto nada. - Digo chegando no chão.

-É baklava que você quer? Vai ter muitas! - Ele me faz uma promessa em meio um riso bobo.

Sigo as pressas para casa na esperança de Mamma ter saído para levar Matteo para embarcar e não me pegar.

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O que será que esse jantar promete? Será que Geórgia irá? Ou está perdida com tanta responsabilidades?


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