Os Capeletti e Os Adrastéia

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Desde muito pequenina, me lembro bem, que corria entre as parreiras feitas por meu papá que veio imigrante tentar a vida em outro país, e fez a única coisa que sabia: cultivar uvas e fazer vinho.

Me encantava pela forma como era feita a bebida que só se pode tomar um cálice antes das refeições generosas que mamma sempre faz.

Essa bebida que parece o elixir da imortalidade, que quanto mais velho for, melhor fica, causador de intensa e vibrantes sensações ao simples ato de escorregar por dentro da minha boca.

Somos os Capeletti, uma família  de origem italiana, e como produtores de vinhos, aprendemos desde cedo com papá a arte da degustação e a fabricação artesanal feita em nossa fazenda.

Sempre fui muito alegre, curiosa e rebelde algumas vezes, e segundo papá Giuseppe: "Geórgia e' matta come un cavallo selvaggio " ou seja, "Geórgia é teimosa como um cavalo selvagem".

Meu espírito é livre e indomável, por isso a associação a um cavalo selvagem.
Meus longos cabelos castanhos e ondulados, que sempre deram trabalho a mamma Geovanna, uma típica Italiana que papá logo se apaixonou quando foi visitar sua irmã, tudo isso ainda na Itália, foi amor à primeira vista, ela o seguiu para o Brasil e aqui está, meus cabelos formam a minha crina, meus olhos verdes como o campo e o modo como bufo quando estou nervosa, me fazendo uma spirit, um cavalo indomável.

Sou a primogênita, logo após vem Antonella, e Matteo, o filho homem tão esperado por papá.

Papá, sempre foi mais rigoroso com a educação e a criação nossa , já a mamma, mais liberal e sempre cuidava de nos acobertar.

A fazenda tem um casarão, e sempre que posso me sento na cadeira de área na varanda do casarão, e mais uma vez estou eu aqui imaginando que no mundo não há melhor lugar do que a vida dentro das cercas desta fazenda.

- Geo, mamma está te chamando na cozinha. - Antonella me fala ao parar no meio da porta da varanda.

Me levanto, e vou até ela já sabendo o que me espera.

Assim que ela me vê, deixa as panelas passando as instruções para Nena, sua auxiliar na cozinha, e segue na minha direção.

- Devemos parlare (conversar), não acha ragazza (menina)?- Ela diz com seu sotaque italiano ainda vivo, me puxando para o canto da cozinha.

- Desculpa mamma, mas... - Ela me interrompe.

- Olha minha figlia (filha), se tuo papá descobrir o que você aprontou dessa vez, não sei do que ele será capaz Geórgia, conhece muito bem o papá que tem, Dio santo! Você não cria juízo! - Ela diz aflita me olhando com aqueles olhos castanhos cheio de aflição.

- Mama, fica tranquila, papá não vai saber de nada. - Digo tentando acalmar ela e dando um sorriso espontâneo ao lembrar do que fiz.

- Engano teu minha figlia, todos os empregados do seu papá estão comentando o que você e o ragazzo dos Adrastéia fizeram, pegar o carro do pobre Jonas e ir a cidade enquanto ele trabalhava na colheita. - Ela conta o que aconteceu em voz baixa pra que ninguém mais ouça.

- Na verdade, eu e Apolo, não agimos na maldade mamma, fomos apenas comprar uma moldura para a mais nova pintura dele, e Jonas nem iria usar o carro naquele momento. - Me justifico indo pegar um cacho de uva que está sobre a fruteira.

Ela vem até mim, e diz:

- Que seu papá não saiba disso Geórgia, torça para que não chegue até ele. - Pego o cacho de uva, chego perto dela e a abraço.

- Ele não vai saber, pois tenho a melhor mamma do mundo em guardar segredos. - Digo em seu ouvido, ela me abraça de volta.

- Só se for pedir scusa(desculpas) à Jonas. - Concordo com a cabeça e me soltando, dando um beijo em sua bochecha e saio comendo uma uva.

- Ele não vai saber, mamma. - Falo com a maior confiança.

- Tome giudizio (juízo) Geórgia. - Ela diz alto voltando a falar com sua auxiliar.

Os Adrastéia são uma família de gregos que se mudaram há uns anos atrás, na fazenda vizinha a nossa, nossos vizinhos de cerca como gostam de falar, são donos de um restaurante que vem sendo conhecido, cultivam alguns legumes, tudo para fins no restaurante. 

Eustáquio, pai de Apolo , é amigo de papá desde que chegou com sua família, precisavam de um fornecedor de vinho, e nós de clientes, o acordo perfeito. Sua esposa Cora que se tornou amiga de mamma, e seus dois filhos Apolo da minha idade e Maia ainda bebê na época, e por existir tal amizade entre as famílias, Eustáquio e papá sempre falam de negócios em qualquer oportunidade.

Por sermos amigos e vizinhos, realizamos almoços de domingos juntos, pelo menos uma vez no mês e foi em um desses almoços que me tornei a melhor amiga de Apolo, crescemos juntos, inevitavelmente seríamos amigos como nossos pais, papá nunca gostou de tanta aproximação, por eu ser uma menina e ele um menino, devido a forma que foi educado, mas não demostrava na presença de Eustáquio, apenas reclamava para mamma, que de tanto ela falar com ele, fez com ele aceitasse a nossa amizade.

E assim, os Capeletti e os Adrastéia formaram uma amizade e aliança.




Geórgia

Geórgia

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Apolo

 Apolo

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