A espera

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Laura entra novamente na minha sala fechando a porta atrás de si.

- Ele ainda não foi embora. - Ela me passa informação.

Olho no relógio e vejo que fazem quase 4 horas que ele está esperando.

- Por mim vai apodrecer sentado lá. - Digo entregando os papéis para ela que acabei de assinar.

- Credo Geórgia, atende ele logo de uma vez. - Ela me pede. - Você vai ter que sair pra reunião mais tarde, quer que ele faça cena na frente dos clientes e do escritório todo? - Ela me questiona, e com razão. - E outra, se ele ficar mais uns 30 minutos ali dando sopa, eu vou roubar ele de você, já tô fazendo um esforço para focar no serviço e não nele. - Ela ri e complementa.

Eu bufo.

- Tá legal, manda ele entra logo. - Peço me dando por vencida. -Mas já avisa que são 10 minutos no máximo. - Oriento ela me ajeitando na cadeira, ela olha e ri.

- Disse que por você ele apodrecia lá fora, mas tá se arrumando toda né. - Ela fala me observando.

Eu dou uma risada breve.

- Vai logo Laura, já que é para enfrentar, que seja logo!

Ela sai e fecha a porta atrás de si, e isso me gera um frio na barriga, acelera o meu coração e deixa as minhas mãos suando, é coisa de segundos, mas para mim parece horas quando ele finalmente entra, com um buquê de tulipas nas mãos e com um olhar baixo.

Ajeito a minha postura na cadeira, coloco meus dois cotovelos sobre a mesa, fechando minhas mãos abaixo do meu queixo.

O olho em pé na porta.

- Não vai se sentar? - Pergunto quebrando o silêncio e inclinando a cabeça para a cadeira em minha frente.

Ele caminha até mim e me entrega o buquê, eu o pego, cheiro e coloco com cuidado sobre a mesa.

- Obrigada.

- Pensei que iria gostar. - Ele diz se sentando.

Ficamos em silêncio por uns instantes.

- Geór...

- Apo...

Dizemos juntos ao mesmo tempo, o que nos faz dar um riso breve.

Inclino a mão para ele falar, ele pigarreia e fala:

- Você e pirralho do Frederico estão juntos? - Ele se ajeita desconfortável na cadeira acolchoada.

- Não estou acreditando que você ficou quase 4 horas sentado na recepção, pra me entrar aqui e perguntar isso. - Falo cética.

- Não, não  - Ele fala e balança a cabeça.

Eu o olho e ergo as sobrancelhas e gesticulo para ele falar.

- Estão? - Ele insiste.

- Apolo, se você veio aqui gastar meu tempo, pode ir saindo, tenho várias coisas para dar conta, sem contar que o festival da uva está chegando e deixando meu dia triplamente mais cheio. - Digo fazendo sinal para a porta e puxando um papel da minha pilha para ler.

- Geórgia, você quer me punir, é isso? - Ele fala levemente irritado.

- Não Apolo, eu não estou como Fred, se é isso que veio saber, agora que já te respondi, feche a porta quando sair. - Respondo ele tentando ler o papel na minha frente.

- Então por que ficou de risinho com ele o jantar todo? - Ele perguntar sério.

É, ele tirou o dia pra me encher a paciência.

- Ele me convidou para fazer companhia à ele. - Falo pegando a caneta para assinar o papel.

- Eu também, e você se quer me olhou para dizer que não. - Ele fala, sua voz tem mágoa.

Respiro fundo, assino o papel e coloco para o lado e o olho.

- O que você queria que eu te dissesse? Queria que eu fosse correndo ao teu encontro? - Falo irônica. - Tenha o senso né Apolo! Você não é capaz de acreditar em mim e nem de enxergar que não sou mais aquela menina imprudente e irresponsável que foi um dia sua amiga. - Falo me exaltando um pouco.

- Você quer mesmo entrar nesse assunto? - Ele pergunta sério e levemente irritado.

- Bom, quem veio aqui foi você, mas já vi que veio gastar meu tempo. - Fala dando uma bufada.

- Eu não gostei nem um pouco, nem um pouco de você com risadinha com ele. - Ele fala irritado.

- Eu não estou ouvindo isso não, sério Apolo? - Falo irônica com ele o encarando e gesticulando as mãos. - E quanto Agustina e Juana praticamente pulando para dentro da suas calças? - Falo irritada me lembrando de cena em que elas o comeram com os olhos e se oferecem para ele, principalmente Agustina, quase esfregando seus peitos siliconados na cara dele.

Ele solta uma gargalhada seca e fala:

- Que entrando nas minhas calças o que Geórgia, se você prestou o mínimo da atenção que está dizendo ter prestado, viu que passei a noite toda com Victor, mas não vai achando que eu não percebi o jeito sensual que você olhou e dançou com o língua solta do Frederico?  - Sua voz é puro ciúme.

Então o rapaz que o acompanhou se chama Victor, se não me falho a memória, já vi ele na vinícola comprando vinho.

- Jeito sensual? Aquilo se chama tango, caso você não saiba grego ignorante. - Cuspo isso de volta para ele.

- Falou a italianinha inocente gente. - Ele fala ironicamente, o que me deixa mais irritada e levanto da minha cadeira e vou até ele.

- Inocente porque? Porque você acha que eu não percebi que Fred está afim de mim? - Dou uma risada irônica e um sorrisinho amarelo no final. 

- Se fosse você não fazia disso algo bom, ele já dormiu com mais da metade desta cidade. - Ele fala debochando, se levantando e me encarando de frente quando chego perto dele.

- E quem é você para falar alguma coisa Apolo? - Questiono ríspida ele.

- Ah, então é sobre isso que você quer falar Geórgia? É sobre com quem eu já transei? Bom, diferente do seu amigão aí, eu não fico metendo em qualquer buraco ou qualquer coisa se que mexa por aí. - Ele fala exaltado e dá um passo em minha direção. - Mas você acha pode julgar alguém aqui né Geórgia?  Se acha melhor por ser virgem? - Ele ri seco. -  Fica dizendo aos quatros ventos que aquela garota com espirito livre, que seguia o próprio instinto e fazia as próprias vontades não existe mais e fica aí agindo como se nunca tivesse feito nada do que fizemos de errado, tentando esconder o passado. - Ele dá outro passo.

Isso me deixa extremamente irada, em um movimento rápido e involuntário, defiro um tapa na cara dele.

Ele leva a mão no rosto nenhum pouco surpreso para o meu espanto.

- Está vendo só, ela ainda está aí dentro, seu pai tentou mudar você e não conseguiu, pois essa é quem você  realmente é. - Ele joga isso em mim.

Fico mais irada ainda, e quando vou deferir outro tapa, ele segura meu pulso e me puxa para perto dele.

- O que você quer aqui? - Falo exaltada, quase gritando de tão irada que estou e com choro preso na garganta.

-O que eu quero Geórgia? Eu quero você!



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