Almoço italiano

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O pátio externo está um caos, não me lembro de ver tanta gente assim junto, desde que Matteo nasceu, é um amontoado de italianos aos berros, risadas altas e muitos gestos com as mãos.

Conseguimos fazer com que Eustáquio cedesse ao almoço, com a garantia que ele convidaria até a oitava geração se quisesse para o casamento, e por incrível que pareça, ele já tem uma lista enorme.

- Ainda dá tempo de fugir. - Brinco com Apolo que acabou de chegar com seu pai, irmã e cunhado.

- Jamais, minha família não é muito diferente, já te contei que tem uma tradição em que vão cuspir em você quando te conhecerem. - Ele fala rindo pegando as nossas mãos e entrelaçando.

- Cuspir em mim? Que raio de tradição é essa? - Pergunto brincando franzindo o cenho.

- Não assuste ela Apolo. - Seu pai o adverte. - Quero te casar. - Ele fala logo atrás da gente. 

- Nem todos vão cuspir, é um costume grego muito usado pelas pessoas de idade que é uma espécie de cuspida com uma pequena entonação "Touf touf". Ela é muito usada quando se elogia alguém, pois eles acreditam que nesta cuspida, não vai passar o mau olhado para quem está sendo elogiado. - Demétrio, marido de Maia responde a minha pergunta.

- Apolooo - Mamma praticamente grita ao vê-lo, fazendo todos pararem de fazer o que estavam e olhar para nós, ela vem em sua direção com os braços para o alto.

Ela chega perto dele, coloca as mãos em cada lado do seu rosto, dá um beijo de cada lado com uma certa brutalidade. 

- Senhora Capeletti. - Ele a cumprimenta.

- Lascia (esqueça), pode me chiamarmi (chamar)mamma, se quiser. - Ela fala indo cumprimentar Eustáquio que está logo atrás. - Agora siamo una famiglia! (somos uma família)

 Quando dou por mim, minha família toda está em volta dele, o cumprimentando como mamma fez. Eu vou dizendo para quem é quem enquanto cumprimentam ele e sua família.

- Venham qui (aqui) - Mammachama eles para se sentar na mesa.

Vamos até eles, aos poucos todos vão se acomodando à mesa, e ela vai ficando cada vez mais cheia e movimentada.

- Geórgia que preparato l'impasto (preparou a massa) de hoje. - Mamma fala para Eustáquio. - De fome tuo ragazzo não morre. - Ela fala e eles dão risada.

- Você que fez tudo isso? - Apolo se inclina para a mesa impressionado.

- Claro que não, mas fiz a massa principal, restante foram mamma, Antonella e Judite. - Falo em pé em frente a minha cadeira.

Apolo vem, puxa ela para mim, eu me sento e ele ajeita para eu me sentar.

- Que bellissimo gesto! - Minha tia exclama.

O almoço é servido, a mesa parece mais com uma feira de maritacas, berros, risos, gritos ao mesmo tempo.

- É para quando o casamento? - Uma prima pergunta, fazendo a mesa silenciar para ouvir.

- Ainda não marcamos a data. - Respondo.

- Lembre- se marcar em um domingo. - Eustáquio fala comendo sua comida. - Para atrair bons votos.

"né di Venere né di Marte ci si sposa o si parte" ou seja, "Não se casa nem se parte no dia de Vênus: sexta-feira, nem de Marte: terça-feira" - Uma outra tia minha fala.

- Pergunta que não quer calar, a cerimônia vai seguir qual tradição? Italiana ou grega? - Maia fala em um tom de curiosidade bebendo o vinho.

- Italiana - Mamma dispara.

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