A colheita

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- Andiamo Geórgia! - Chama papai na soleira da porta da cozinha com uma xícara de café na mão. - Oggi (hoje) teremos um dia longo e capaz de já ter persone (pessoas) nos aspettano (esperando).

Ando ainda sonolenta até a mesa, puxo uma cadeira e me sento.

- Levante, não temos tempo para sentar. - Ele diz indo em direção a pia, lavando sua xícara e colocando no escorredor. - Andiamo!

Eu o olho incrédula, como assim não vou conseguir tomar café?
Papá está mesmo disposto a me dar uma boa lição.
Bufo, pego um pedaço de pão e o sigo porta a fora em direção a caminhonete que já está ligada por ele.

***

Papá entra para dentro do teu escritório, me deixando aqui fora com estas pessoas me olhando, me analisando. Estão se ajeitando para irmos para as parreiras, alguns rostos são conhecidos por mim, como o de Emanuel, que antes mesmo de me conhecer por gente ele trabalha com papá.

A porta do galpão se abre, mostrando numa pequena fresta de que o dia lá fora ainda nem nasceu, entra mais alguns homens, e ouço uma voz vindo atrás de mim me fazendo virar:

- Olha pessoal, o que temos aqui? Geórgia capetinha, há que devemos tal honra?

Olho e vejo Jonas, fazendo reverencia para mim com um sorriso sarcástico. Ele está vestindo uma camisa de manga longa e uma calça jeans aparentemente velha, usando bota, ele trabalha com papá desde pequeno, não teve uma boa infância, vem de uma família bem humilde, o pai doente e a mãe com irmãs pequenas sem poder trabalhar, e ele acabou ficando responsável pela casa, ele deve ser no máximo 3 ou 4 anos mais velho que eu, mas já sofreu bem mais, com toda certeza.

Todos riem com sua fala

Me sinto constrangida e envergonhada, mas será que ele ainda não superou a fuga que dei com seu carro? Eu devolvi sem um arranhão e no mesmo lugar, só não estacionado do mesmo jeito.

E outra Geórgia capetinha? Que apelido é esse? Quem é ele pra me dar um apelido assim?

- Acho que não devo satisfações à ninguém aqui, ao contrário, vocês devem satisfações à mio papá. - esbravejo de volta, retratando ele e calando todos que ri.

- Disse certo, ao seu pai, e não à você, mas enfim, peço que mantenham os olhos nela, afinal nunca se sabe o que se passa na cabeça sem juízo Geórgia capetinha. - Ele retruca com um sorriso de triunfo no rosto.

- O dia nem nasceu e vocês dois já estão se estranhando. - Adverte Emanuel falando alto e olhando para nós dois. - Acho que já passou da hora de começarmos a colheita.

Todos param de rir e começam a pegar suas coisas e sair. Ele vem até mim e pergunta:

- O que você aprontou desta vez? - Me abraço de lado e começou a caminhar até o caminhão.

- Por que todo mundo me pergunta isso ? - Faço uma pergunta retórica. - Papá descobriu sobre minha ida à cidade com o carro do Jonas - Confesso - E me colocou aqui como castigo, fora que ele quer me mandar pra Zia Vittória na Itália. - Conto com as lágrimas na borda dos olhos, uma ou outra acaba escapando.

- Não chore Geórgia, seu pai não faria uma coisa dessa, mas te digo, uma hora dessas, você vai enfartar ele, o homem saiu daqui cuspindo fogo pelas ventas. - Ele tenta me consolar e acaba rindo no final. - Ele ficou vermelho igual a um pimentão.

O dia demorou uma eternidade para passar, Jonas não perdeu uma única oportunidade de me alfinetar, paramos para almoçar a logo voltamos, quando já era pro final da tarde, quando meu celular, que havia esquecido, vibra.

Largo a tesoura, que já está marcada em meus dedos e olho a notificação de Apolo.

Ele: É linda até colhendo uvas...

Dou um sorriso bobo e olho em volta, mas vejo apenas o pessoal da colheita e dezenas de parreiras no horizonte.

Eu: Onde você está?

Digitando...

Ele: Estou mais perto do que imagina, consegue escapar daí e me encontrar?

Eu: Claro, até parece que não me conhece, só dizer onde te encontrar.

Ele me explica a sua localização.

Eu aviso Emanuel que vou precisar ir ao banheiro e me desloco do pessoal e o encontro longe dali.

- Ooi Polo. - Digo assim que eu o vejo.

Ele está escorado em um muro baixo e vem na minha direção e me beija com carinho.

- Meu oi vai ser assim agora Geo. - Ele fala com nossos narizes colados e mais uma vez, as borboletas do estomago flutuam e dou um sorriso bobo para ele.

- Por mim tudo bem. - Digo me afastando dele e ele entrelaça nossas mãos.

- Eu não consegui dormir, pensando em você. - Ele me volta a escorar no muro baixo e me puxa para ele de frente. - Eu quero muito isso Geo, eu namorar com você, sem precisar ser escondido, eu não sei como seu pai vai reagir, apenas quero ficar com você, se precisar vou falar com ele agora mesmo. - Ele diz a me olhar com sorriso no rosto.

- Vamos com calma Polo, papá não vai aceitar assim de primeira, fora isso ele ainda está bem zangado com a história do carro e do haras, que quer me mandar pra Itália, na casa da minha zia Vittória, e eu acho que é sério, pois mamma não se intrometeu desta vez. - Vejo o sorriso se diluir e dar lugar uma expressão séria e dura.

- Você está me dizendo que vai aceitar isso? Vai aceitar que ele te mande pra lá? Assim, sem resistir ou lutar? - Ele diz ríspido, sua voz é um misto de mágoa e raiva. - E a gente Geórgia?

Eu me solto dos seus braços, e dou um passo para atrás e digo o olhando atenta:

- Apolo, eu quero isso, quero mesmo. Eu não sabia que gostava de você além da nossa amizade, antes daquele beijo, e olha só para gente aqui- Vejo seu rosto relaxar um pouco. - Mas sabe muito bem que papá não vai aceitar, prima lo studio, e sem contar que você bem sabe, que quando ele coloca algo na cabeça, dificilmente tira. - Ele volta com a expressão dura e endireita o corpo. - Mas não vou aceitar esta sentença! - Eu digo confiante.

Ele me abraça relaxado e me beija apaixonado, um beijo que inicia cheio de carinho e vai ficando cada vez mais apaixonado. Eu me solto dele, para buscar ar. Ele me abraça e fala em meu ouvido.

- Vamos fugir Geo! - Sua voz é firme e ao mesmo tempo calorosa.


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