O jantar

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O  dia passou devagar, talvez porque eu tenha ficado olhando para o relógio toda hora ansiosa para encontrar com Apolo. Fui para casa, não estou 100% ainda devido a ressaca, mas o remédio de Laura ajudou muito, avisei mamma que sairia para um jantar e ela logo me encheu de perguntas, quando eu disse que seria no restaurante dos Adrastéia, ela faz uma careta, mas não disse nada, só me pediu para não chegar tarde.

Dirijo até o restaurante, que está com apenas as luzes do fundo acesas, aviso por mensagem a  Apolo que cheguei e ele logo aparece na porta com um sorriso, usando uma roupa formal sem gravata. Desço do carro, ajeito o meu vestido preto colado e pego a minha clutch, fecho o carro e guardo as chaves nela.

Caminho para um abraço nele, o abraço e ele pega na minha mão, me guiando para dentro do restaurante após fechar a porta.

- UAU! - Exclamo ao ver o quão chic e elegante o lugar ficou. - Aqui mudou bastante, não se parece nada com o lugar que me lembro. - Digo seguindo ele pelo lugar.

- Meu pai deixou Maia redecorar, ela se formou em designer de interiores, mas o que ela não pede chorando que meu pai faz sorrindo? Uma mimada. - Ele comenta comigo.

Logo chegamos em um barzinho com velas sobre a bancada, vejo dois quadros com caricatura dos pais de Apolo na parede, e pergunto:

- Foi você? - Aponto para os quadros na parede, ele se vira, olha os quadros e me olha de volta.

- Sim, Maia insistiu tanto, que acabei cedendo.

- Pelo visto não é só o seu pai que mima ela. - Dou uma risada e ele ri junto e ergue os braços rendido.

- O que vai querer beber? - Ele pergunta indo para trás do bar.

- Hoje vou de água mesmo. - Dou risada. - Ainda estou de ressaca. - Comento.

Ele ri e complementa:

- Eu também, não bebia assim há tempos. 

Pego a taça de água saborizada que ele me serve, me sento no banco alto, dou um gole e coloco sobre o balcão do bar, ele dá a volta e fica em pé ao meu lado.

- Ainda bem então que preparei um menu leve hoje. - Ele diz segurando seu copo de água saborizada. 

- Foi você quem cozinhou? - Pergunto surpresa.

Ele assenti com a cabeça dando um gole no seu copo.

- Sim, eu mesmo, fiz gastronomia com ênfase de culinária grega, por que será? - Ele me conta fazendo uma careta engraçada no final.

Eu entendo sua piada e dou risada.

- Eu fiz administração, mas confesso que sempre gostei da área,  e fiz também enologia a pedido de papá. - Conto um pouco sobre mim à ele.

- Não me mata tá? Mas qual é a diferença entre enólogo e sommelier? - Ele pergunta dando outro gole.

Dou uma risada breve e respondo:

- O enólogo é aquele que participa ativamente do processo produtivo dos vinhos, o sommelier é o especialista em técnicas e harmonizações, que também é preciso realizar um curso para ser profissional.  -  Tiro a dúvida dele dando um gole na minha água.

- Nossa, não sabia. - Ele exclama.

Meu estomago ronca e fico sem graça.

- Bom, pelo visto, temos uma italianinha faminta aqui, o que não me é surpresa. - Ele ri. -Vamos comer? - Ele estende a mão para mim me ajudando a descer do banco alto.

Assim que eu desço, ele passa a mão na minha cintura, indo direto para minhas costas me puxando para perto dele e me dando um beijo suave.

- Agora podemos ir comer. - Me solta e me guia para uma mesa próximo a cozinha.

Ele me serve um jantar delicioso, realmente leve como ele me disse que seria, logo ele trás a sobremesa, uma assadeira toda de Baklava de avelã, exatamente do jeito que eu pedi. Dou uma garfada, e fecho os olhos soltando um gemido ao sentir a massa dissolver na minha boca, quando abro os olhos, vejo Apolo me encarando com um lampejo no olhar fixo e com uma expressão que nunca vi.

Existe um certo clima de tensão meio que sexual no ar.

- Pare de me olhar assim. - Brinco um pouco sem graça com a situação.

- É só não gemer assim na minha frente. - Ele me diz fazendo o olhar olho - boca - olho com uma voz mais firme.

Dou uma leve engasgada com sua resposta direta e firme.

Se eu pensei que passaria por uma situação dessas com Apolo?  Claro que não pensei que passaria, mas onde eu estava com a cabeça? Agora somos dois adultos, e não dois adolescentes que dão uns amasso e está tudo bem, sem contar que eu fiquei mais ou menos uns 10 anos fora, aposto que ele deve ter tido suas noites por aí, mas aí que está o problema, como dizer para ele que eu não? Que fiz um voto enquanto estudei na escola de Santa Catarina* administrada pela ordem das freiras dominicanas delle Mantellate.  

Não me sinto à vontade de compartilhar isso com ele, não agora, que o que temos não tem nenhum rótulo. Eu tive um único namorado, Giovanni, ele era um bom namorado, sabia do meu voto e não forçava a situação, mas ele era bem morno, bem correto e com postura mais séria, papá consentiu depois de passar um pente fino no rapaz, me lembro do dia em que ele chegou com mamma e conheceram Giovanni, o que papá não previu era que ele me daria um pé na bunda, quando eu disse que precisaria voltar e ele não quis deixar sua amada terra, eu o entendo, foi um término tranquilo.

- Não vai terminar de comer? - Apolo me pergunta ao ver que larguei o garfo sobre o prato e bebi água.

- Não, mas estão ótimas, obrigada. - Respondo rápido para ele limpando o canto da boca com o guardanapo de pano.

Ele olha para os lados com os olhos, em seguida franzi o cenho, com uma expressão confusa.

- O que foi? Não estavam do jeito que você queria? - Ele pergunta atencioso segurando a minha mão que está na mesa.

- Estavam ótimas, te disse, é que já estou cheia mesmo. - Dou uma desculpa sem olhar nos olhos dele.

- Ei, Geórgia, foi o que eu disse? Eu não quis indelicado com você, jamais, mas ver você gemer na minha frente, do jeito que você fez, não dá. - Ele diz atencioso e se justificando. - Não é como se você nunca tivesse feito algo né. - Ele complementa.

Eu balanço a cabeça lentamente negando.

Um silêncio se instaura entre nós.

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*Santa Catarina é a padroeira da Itália.

SonhadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora