2 | vida pós salvação.

71 5 46
                                    

Junto dos flocos de neve, que se chocam contra a janela do nosso quarto, o sol reluzia a distância, mostrando, assim, que Nova York estava amanhecendo. O cômodo até aparentava ser mais alegre, mais contagiante, apesar do cinza escuro colorindo as paredes e dos móveis em um branco chavão. Eu olhava para o teto, contando as linhas curvas do forro, percebendo o quanto a minha vida mudou de uns tempos pra cá. Ela literalmente mudou. Mas quem poderia imaginar que iriam acontecer tantas coisas em um considerável período de tempo? Se me dissessem que seria mãe e dividiria meu apartamento com alguém, juro que não acreditaria.

Olly dorme ao meu lado, com os lábios entreabertos, as duas sobrancelhas franzidas, sem camisa e com um dos braços cobertos pelo travesseiro macio. Seus dedos seguram firme meu pijama de cetim preto, como se não quisesse que eu saísse de perto dele, com medo que eu o abandonasse de repente, mas eu não seria capaz de fazer isso com ele nem que fosse de brincadeira. Oliver me quer aqui, ao lado dele, da mesma forma que eu o desejo. Nós dois já chegamos tão longe, aguentamos tantas circunstâncias, vivemos ciclos viciosos, mas estamos aqui, com a nossa família.

Observei o alarme prestes a tocar, marcando às seis e cinquenta quatro da manhã, em um tom vermelho néon vivo, quase igual aquelas placas de bar na Times Square. Exatamente, às sete, o relógio irá tocar e preciso estar de pé. A foto preferida de Oliver daqui de casa, está na minha mesa de cabeceira, ao lado de um vaso simples com flores de girassol em acrílico. É uma foto minha com Amy ainda com poucos meses nos braços; nós estávamos em um parque no verão, no mês do meu aniversário, eu estava com os olhos fechados, usava um vestido preto e demonstrava cansaço.

E eu sempre me perguntava, por quê aquela foto tão comum, era a preferida dele entre tantas fotografias de nós três espalhadas pelo nosso apartamento? Olly me respondeu como se ele fosse um fotógrafo profissional no caso: disse-me que a imagem exibe a vida de uma jovem mãe que, além de linda, é humana, mostrando que a maternidade não é só um mar de rosas como a sociedade quer sempre nos dizer ser. Admito que fiquei lisonjeada, para não dizer surpreendida com tamanho elogio. Claro que ele se achou por ter tirado a foto com uma ótima qualidade. Afinal, é o Oliver.

- Você e essa sua mania de colocar o alarme mais cedo. - a voz rouca e sonolenta dele soou no meu ouvido. Mesmo resmungando feito uma criança, Oliver é muito sensual. Ele é sensual demais. - Gigi, pelo amor de Deus, desligue essa porcaria de alarme! - estendendo seu corpo sobre o meu, ele desligou o som estridente do despertador, depois se apoiou num dos cotovelos, me olhou: - Tá vendo só, espertinha? Agora estou acordado e preso em você.

- E se eu te disser que não quero que você saia daqui? Você iria sair, Oliver? - sussurrei, com nossas bocas prestes a se encontrar e um beijo nós iríamos dar. Lá estava aquele seu brilho no olhar, que me deixava maluca. Céus, eu não posso me atrasar, mas não consigo ficar longe dele. Não sem provocar: - Se calou, por quê?

- Não sou nem doido de fazer isso, minha Markey. - como pode alguém mexer tanto comigo assim? Principalmente, dizendo o meu apelido preferido. Olly, em seguida, mordeu o próprio lábio inferior com volúpia, da mesma maneira que ele sabia que iria me enlouquecer. - Não sei explicar o que você faz comigo. Você me enlouquece, linda. - observou-me, murmurando: - E eu só preciso de você.

Juntou sua boca à minha, encostando os nossos narizes um ao outro. Seus beijos ao se intensificarem, fizeram com que o meu coração se acelerasse em instantes, acendendo aquela chama presente entre nós dois. Eu o desejava, eu o queria e eu o teria. Ele sussurrou no meu ouvido, expondo que me amava muito e desceu os seus lábios para encontrar o meu queixo e pescoço. Eu gemi ao senti-lo levantar a minha blusa de dormir, - que, apesar de ser bem básica, ele sempre me diz adorar - arfei sentindo a sua língua úmida entrando em contato com a minha pele corada.

ᴍᴇ, ʏᴏᴜ ᴀɴᴅ ᴏᴜʀ ʟᴏᴠᴇʀs (3)Onde histórias criam vida. Descubra agora