30 | juramento de dedinho.

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Passar aquela tarde ao lado de Gigi e de Amy, sendo que o meu dia pela manhã parecia triste, foi libertador. Às vezes é difícil poder desabafar e conversar com alguém sobre todos os nossos problemas e se libertar daquilo que está nos machucando. E com a Gigi, é incrível como se torna fácil e é nessas horas que percebo que eu não estou sozinha e que terá alguém pronto para me ajudar. É por isso que eu escolhi a psicologia como profissão, para que eu pudesse ajudar outras pessoas com suas feridas mais internas as quais tanto lhes corroem, mas estou quase desistindo do trabalho.

É complicado, porque eu amo o que eu faço e não trocaria o meu emprego por nenhum outro neste mundo, a psicologia é a minha paixão desde que me entendo por gente, mas com tanto desânimo e a vida não sabendo amigável comigo, penso em desistir. A Gigi sempre acaba encontrando tantos defeitos em si mesma, se vendo como a pior pessoa do mundo e muitas das vezes, se auto sabotando, se achando uma garota problemática. Mas, não é assim que eu vejo. Ela é amorosa, atenciosa e cheia de amor para dar, mas ainda está aprendendo a lidar com a sua intensidade. E se não fosse ela ao meu lado hoje, não sei como eu teria ficado. Sozinha? Já que Dylan não estava em casa desde que ele foi ajudar a mãe e levar Enrico na escola por volta das oito ou nove da manhã.

Claro, eu tenho que admitir que eu o mandei embora, não queria ajuda de ninguém, mas ele também tinha que precisar entender o meu lado. Eu estive naquela consulta sozinha, fui eu que ouvi o que a Dra. Hodges tinha a dizer, por mais doloroso que fosse, então estou mais do que no direito de me sentir péssima e pedir espaço. Só que a única coisa que anda me deixando inquieta, é a demora dele em voltar para casa. Já são sete da noite e nada dele voltar. Se ele ao menos tivesse me ligado ou mandado mensagem, mas nada.

Eu tentei fazer o que ele tinha me dito: comer ou tomar alguma coisa que me desse energia para poder levantar e seguir em frente como sempre fiz, mas eu simplesmente não consigo. Não tenho fome, não sinto vontade de sair ou fazer alguma coisa útil para mim ou para a minha vida. Nem sequer abrir o computador e trabalhar, eu tenho força de vontade ou qualquer motivação existente, tudo está repleto de escuridão. Quando me levantei da cama, me senti tonta e demorei até chegar ao banheiro e decidir que era melhor tomar um banho para relaxar a tensão.

Eu estou aqui, sentada na minha banheira redonda com espumas e sais minerais, olhando para a decoração simples e minimalista do banheiro, relembrando os dias em que ajudei Dylan a pôr todos esses azulejos nas paredes estreitas com a determinação que agora não existe e nem sinto em mim; desde das seis da tarde e não sai mais daqui. Há cerca de uma hora em uma viciosa melancolia. Por quê não consigo deixar isso de lado e seguir adiante? Céus, por que? Nem sempre as coisas irão ser da forma que queremos e tenho que me conformar.

- Lindinha, cheguei! - A voz de Dylan ecoou pela casa de forma lenta, quase hesitante, até chegar em mim em forma de graves ecos. Até a nossa casa estava triste ao meu ver. Sem luz, sem vibração. - Me desculpa a demora. Eu esqueci de te avisar.

Ouvi o barulho das chaves a serem guardadas na pequena cesta de palha no armário do hall de entrada, ouvi ele limpar os calçados no tapete da porta e enfim, caminhar pela cozinha. Ouvi a pia ser ligada e o som da água escorrendo, depois os passos de novo. Dylan estava me procurando, talvez preocupado. E eu sabia disso, pois ouvia tudo em silêncio, sem deixar rastros. Já poderia me sentir um fantasma. Era como se eu não estivesse mais ali, fazendo o que eu deveria ter feito com todas aquelas coisas, mas dessa vez comigo mesma e talvez parte de mim parasse de doer.

Eu olhei para todas aquelas minhas compras maternais mais de uma vez só no dia de hoje, repensando várias vezes se valia a pena prosseguir com a minha intenção. Uma voz subconsciente me aconselhava que o melhor a ser feito, era me desfazer de cada coisa que poderia me trazer mais gatilhos. E ter que olhar para tudo aquilo sempre que entrasse no quarto de hóspedes, não iria colaborar em nada. Então, juntei peça por peça, brinquedo por brinquedo dentro de sacolas e estava prestes a jogá-las fora, na esperança de que a minha cicatriz sumisse de imediato, porém senti pena de me desfazer daquele pedacinho de sonho tão cedo.

ᴍᴇ, ʏᴏᴜ ᴀɴᴅ ᴏᴜʀ ʟᴏᴠᴇʀs (3)Onde histórias criam vida. Descubra agora