32 | outros meios.

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- Por favor, queira tomar um café comigo. - falei, assim que a porta da frente se fechou e Dylan saiu. - Venha. Fique à vontade.

Apesar de eu não querer tocar sobre o assunto que mais anda me machucando, eu não posso descontar a minha raiva nela. Ela é a avó de Dylan, uma senhora amorosa que irá me entender e nunca me julgar. Mas a dor é minha e eu tenho que tomar conta sozinha, por mais que todas essas pessoas estejam dispostas a fazerem de tudo para me ajudar e isso soa como ingratidão, a escolha é de fato cem por cento minha numa situação como essa. Agnella Williams veio comigo à cozinha, colocou o bolo que trouxe sobre a mesa e sentou-se em uma das banquetas bem na minha frente.

Era quase desnorteante olhar pra ela e não saber que coisa fazer, além dos traços dela lembrarem um pouco o neto. Dylan e eu tínhamos feito um combinado interno de ainda não contarmos para muitas pessoas sobre a minha consulta e sobre o nosso pequeno probleminha em questão, deixar que as coisas esfriassem e tentassem voltar ao normal, mas aos poucos os problemas se tornavam maiores e nós não sabíamos direito como seria dali em diante, como se fosse uma enorme bola de neve crescendo. Na verdade, eu que não sabia. Dylan tem esperanças. Eu não mais.

E agora, ele além de contar para a família dele, me deixou sozinha com a avó, louca de curiosidade para saber mais e fornecer ajuda e conselhos de uma mulher vivida e claro, mãe. Me parece que ele não estava levando o nosso trato a sério, não mesmo, apesar dele estar precisando de alguém para desabafar assim como eu precisava e contei a Gigi, podia ser para qualquer outra pessoa, menos os familiares dele, pois se torna ainda mais complicado. Respirei fundo, tentando esconder o nervosismo naquela situação, enquanto ela continuava me observando atentamente. Afinal, será que ela iria me fazer aquelas perguntas dolorosas igual ao neto?

Eu puxei o recipiente de plástico sob a mesa, o abri e cortei em pedaços o seu bolo de laranja, o qual eu sabia ser receita de família e que já provei inúmeras vezes na casa de Susan, tantas que mal posso contar nos dedos. Logo depois, servi nos pires de vidro e entreguei a ela, ao lado de uma colher. Agnella sorriu levemente, eu fiz o mesmo e levei uma colherada à boca, me calando com aquela pequena fatia. Bom, encontrei a melhor maneira de ficar em silêncio. Ótimo! Os passarinhos cantavam lá fora, observei-os pousando na beira da janela, quando ouvi dizer:

- Minha menina, você parece tão triste. - Agnella comentou. Eu não olhei para ela, nem sequer murmurei alguma coisa, apenas me levantei ao ouvir a jarra elétrica avisar que o café estava pronto. A retirei da tomada e comecei a servir o café nas canecas coloridas. A de Harry Potter, de Dylan, estava no armário. Por que ele me deixou sozinha aqui? - ... E bastante quieta, tão calada.

Mas que droga! A única coisa que queria assim que a vi chegar, era não demonstrar a minha tristeza e nem isso eu consegui. Nem ser mãe - algo que tantas mulheres conseguem tão fácil, até aquelas que não sentem a mínima vontade de engravidar - eu não consigo. E eu fui muito burra, como ela não iria ver que eu estou triste e exausta, sendo que eu estou me vestindo com tanto desleixo? A camisa xadrez azul solta no corpo, calça de moletom antiga e um coque frouxo, não diz o quão estou animada (ironia).

- Sabe, de uma coisa Agnella, as coisas não estão indo como o meu planejado na minha vida. - enfim disse, colocando as duas canecas sobre a ilha. Ela manteve o olhar em mim, enquanto sentei-me de volta na banqueta. E muito hesitante, eu continuei: - ... Na verdade, as coisas começaram a desandar muito rápido.

- Às vezes, as coisas não acontecem da forma que queremos. - ela prosseguiu, e eu assenti suspirando. Isso eu já sei há muito tempo e confirmei há poucas semanas. - A vida é cheia dessas.

- Posso te fazer uma pergunta? - eu indaguei, franzindo o cenho. A mesma confirmou, dando um gole no seu café adoçado com três colheradas de açúcar. - O que você faria se estivesse no meu lugar? Um sonho que você tanto implorou para viver e lutou para ter, mas que nunca dará certo, mesmo estando tão perto?

ᴍᴇ, ʏᴏᴜ ᴀɴᴅ ᴏᴜʀ ʟᴏᴠᴇʀs (3)Onde histórias criam vida. Descubra agora