43 | a iniciativa.

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O meu primeiro instinto ao acordar na poltrona do quarto de Amy, é ver se a minha filha precisa de mim. Eu solto um suspiro de alívio, ainda meio desnorteada devido ao sono, por vê-la dormir em paz como se nada pudesse de fato abalá-la. É por ela que eu me levanto todos os dias, mesmo depois de tudo, com vontade de viver e de ser grata por estar vivendo a minha vida ao lado dela. A verdade é que Amy desperta o que existe de melhor em mim, a única pessoa entre tantas que conheci ao longo dos anos, capaz de me trazer a redenção que um dia eu tanto jurei não merecer. As pessoas têm pouquíssimas chances de conhecer alguém assim, e eu me considero uma mulher de sorte por tê-la trazido ao mundo.

Somente depois percebo que o único som que eu ouço é do meu coração batendo dentro do peito. Um silêncio completo está tomando conta do apartamento, não há passos andando pelos cômodos nem barulhos vindo da TV, ou sequer o som da cafeteira preparando o café. Quando saio do quarto de Amy tomando cuidado para não acordá-la, noto que todas as luzes estão desligadas e a única iluminação vem direto das frestas da janela, mostrando que o dia já nasceu do lado de fora. Eu me pergunto para onde Oliver pode ter ido e começo a procurá-lo pelos cantos, mas não encontro nenhum sinal ou motivo de sua saída repentina.

Ao chegar na cozinha, completamente vazia, acendo a luz e vejo um papel sobre a mesa. Ao segurar aquele minúsculo bilhete entre as minhas mãos trêmulas, sinto uma sensação ruim surgir no meu coração. Não faço ideia do que isso seja capaz de significar, mas sei que não deixarei de lado os alertas do meu sexto sentido, até porque Olly não é de deixar bilhetes, mas sim alguma mensagem. Tento respirar fundo alguns instantes antes de ler aquelas palavras escritas à mão, feito uma forma de preparação para o que vier:

"Linda, não queria te dizer isso desse jeito, mas não sei se eu poderia suportar pronunciar tais palavras diante de você. Eu sinto muito. Por tudo. Por ter sido um idiota com você nas últimas semanas, por ter te deixado insegura sobre a nossa relação e por não poder ser honesto contigo, principalmente. Ainda não posso contar em detalhes o que está acontecendo comigo, talvez nem tão cedo seja possível, mas torço para que muito em breve eu possa. Eu amo você e Amy mais do que a mim mesmo e por amar tanto vocês, não posso deixar que os meus problemas atrasem a felicidade das duas. Desejo que vocês estejam felizes e acima de tudo em segurança, e se para isso acontecer eu tenha que estar longe, não irei remediar a proposta, apesar de que doa deixá-las dessa maneira. Não pense muito em mim, cuide da nossa garotinha e de si mesma. Lhe prometo tentar voltar o quanto antes. Com imenso amor, Oliver."

Mal sinto e dou um passo para trás - encostando as costas no armário - ao perceber lágrimas molharem o papel nas minhas mãos. Eu tento respirar, segurar as lágrimas, no entanto tudo que sinto é uma angústia enorme crescendo no meu peito e tudo piora quando as lembranças mais doces que tivemos nesse apartamento começam a tomar a minha mente, dominando os meus pensamentos feito droga. Lembro de Amy dando os seus primeiros passos na sala de estar e do quão orgulhosos nós ficamos da nossa filha.

Lembro também de Amy com dor devido a sua primeira troca de dentes, dela chorando, do quão eu me senti insuficiente por não conseguir fazer a dor dela passar e de Oliver me dizendo que ela não poderia ter uma mãe melhor do que eu. Lágrimas escorrem pelas minhas bochechas, enquanto uma dolorosa enxurrada de flashes retornam para mim de uma vez só. Volto a lembrar dos carinhos que trocamos naquele sofá, dos jantares naquela mesa, cada sorriso e juras onde o "juntos para sempre" eram contínuos.

Eu cubro o meu rosto molhado com as duas mãos, sentindo o meu coração pesar e a minha visão ficar embaçada por conta do choro descontrolado através dos meus cílios, e deslizo até estar no chão. Oliver me deixou. Ele foi embora sem se despedir, sem sequer cogitar dialogar comigo. Ele quebrou a nossa promessa de sermos sempre honestos um com o outro, independente do que estivesse acontecendo. Eu me pergunto onde eu errei, o que eu devo ter feito para fazê-lo ir embora desse modo, sabendo que me deixaria em pedaços incompletos pelos cantos, sofrendo a sua despedida.

ᴍᴇ, ʏᴏᴜ ᴀɴᴅ ᴏᴜʀ ʟᴏᴠᴇʀs (3)Onde histórias criam vida. Descubra agora