22 | humano cruel.

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"Você não lembra que eu sou a sua garotinha?
Como pôde me empurrar para fora do seu mundo?
Mentiu para a sua carne e para o seu sangue.
Bateu naqueles que jurou que amava.
Você não lembra que eu sou a sua garotinha?
Como pôde me empurrar para fora do seu mundo?
Era tão nova quando a dor começou.
Agora eternamente com medo de ficar sozinha."
- For The Love Of a Daughter, Demi Lovato.

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Entre os tilintar do nosso café da manhã ao ser preparado pela minha mãe e dos sons diversos vindo do lado de fora, eu mantinha a minha atenção na minha irmã se divertindo com o namorado. Eu fico feliz por ela, assim como qualquer irmão que se preze tende a ficar pelo seu e admiro o meu cunhado, o vejo como se fosse um amigo. Aliás, fico contente por vê-la feliz ao lado dele, por ver os dois agarradinhos no sofá da sala de estar, dando empurrõezinhos um no outro e dando risada de alguma coisa aleatória que viram no celular dele. No entanto, o que me traz alerta é a simplicidade do nosso pai ao lado deles, apesar de estar emburrado na poltrona.

Se um estranho os olhasse nesse instante, mal acreditaria o quão frustrado e desconfiado o nosso pai ficou no início do namoro dos dois há cerca de quatro anos, fazendo o coitado do Dylan dormir no sofá mais antigo da sala de casa. Hoje em dia, ele parece não se importar tanto com a presença dele, mas ainda não gosta de Dylan, mesmo que o garoto não tenha feito nada de errado - pelo o que a gente saiba. Ao contrário da minha irmãzinha, eu não tive a mesma sorte das coisas esfriarem com o passar do tempo.

Quando eu me apaixonei, já faz muitos anos, pude me sentir viva, verdadeiramente viva. Eu costumava dizer a mim mesma que essas coisas não valiam a pena e só traziam as pessoas dor de cabeça, mas só depois percebi que isso também fazia parte do processo de controle do meu pai sobre mim. Diferente dos outros pais, Louis Bryant não contava histórias de contas fadas em que as princesas encontravam o amor verdadeiro antes de eu dormir. Ele pulava essa parte, criava o próprio final e dizia que a princesa havia sido liberta pelo pai dela, pois ela só seria feliz ao lado dele.

Por um tempo, eu acreditei nisso e quando aquele véu de mentiras caiu dos meus olhos, me forcei a continuar acreditando, pois era muito avassalador ir contra as regras dele. Até que eu conheci o Logan. Eu estava apaixonada, capaz de cometer loucuras por amar tanto assim e nunca na minha vida inteira havia me sentido tão feliz daquela maneira. Era como estar vivendo um sonho, o qual foi tirado das minhas mãos sem que eu pudesse fazer nada para mudar. Logan me fez perceber que, todas aquelas coisas ruins que o meu pai fazia a mim, não eram saudáveis e que eu tinha o direito de ser feliz e de ir adiante com os meus objetivos.

Não sei se foi por falta de sorte da minha parte, mas tantas coisas se uniram para que tudo desse errado para mim. A vida, o destino, as circunstâncias e o meu pai obsessivo fizeram o máximo que podiam para destruir a minha felicidade, até me fazer perder as esperanças em tudo. Apesar de tudo isso, não me arrependo nem um pouco de ter me conectado com Logan, nem de sentir a paixão consumindo as minhas veias de um jeito louco a cada vez que o encontrava naquela biblioteca e da certeza absoluta que eu ainda guardo comigo de que ele foi o único amor da minha vida.

Brooklyn, Nova York, 2009.

Já haviam se passado cerca de um ano e meio desde que os Bryant saíram de Ithaca para viver uma nova vida na cidade grande, deixando tudo o que tinham para trás. Nesse tempo, as duas filhas do casal estavam em processo de adaptação, ou pelo menos uma delas. Mary Jane estava no terceiro ano do ensino médio e fazia parte do pequeno grupo de populares da escola, sendo conhecida por cada corredor que caminhava, foi até mesmo comentada no jornal da escola e pelos demais professores graças as fotografias que fazia. Ela sempre foi tentada a usar uma máquina fotográfica, da sensação de poder guardar pequenos momentos em uma única imagem, mesmo que o seu pai não parasse de dizer que aquilo não levaria nada para a vida dela.

ᴍᴇ, ʏᴏᴜ ᴀɴᴅ ᴏᴜʀ ʟᴏᴠᴇʀs (3)Onde histórias criam vida. Descubra agora