28 | o brinquedo.

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Abril. Primavera em Nova York. A primavera sempre foi a minha estação preferida desde que eu era criança. Eu a adoro por causa das flores, poder ver as borboletas e abelhas coletando pólen nas flores coloridas e o clima mais leve e friozinho nos fins de tarde. E também há as feiras de floricultura abertas no centro da cidade que se enchem de pessoas, as quais levam para casa lindos arranjos.

Ela tinha se tornado a minha preferida principalmente por causa do ambiente natural e em meio a natureza de Ithaca. Nessa época do ano, os campos do nosso vilarejo Liberty, ficava praticamente cercado por trilhas de flores e as árvores antigas e enormes que sempre faziam barulho por volta do fim do dia. Eu amava aquele lugar; era calmo e sereno todos os dias. E eu nunca quis sair de lá.

É tão fácil me recordar das muitas vezes em que eu era criança e adorava passar as tardes com Gigi ajudando a tia Catherine no seu jardim, poder regar as tulipas coloridas dentro de todos os vasos de barro feitos a mão. Aquela era a melhor parte dos meus dias. Sempre acabava chegando em casa toda suja de lama e mais tarde às vezes até chovia. Eu mal chegava e já tinha que ir tomar banho.

Ou quando as noites ficavam bastante geladas, o céu escurecia entre as nuvens pesadas e todo mundo já pensava que iria chover, mas na maioria das vezes, não caía uma gota sequer de chuva. Nesses dias, mamãe costumava fazer chocolate quente e pipoca, Mary Jane escolhia um filme de terror antigo e nós três deitamos no sofá, com um cobertor cobrindo as nossas pernas. Papai preferia ficar no escritório. Quem diria que eu sentiria falta disso?

Aqueles doces momentos nem se comparam a situação dolorosa e horrível que me encontro nesse instante. Desde que cheguei em casa naquele dia, não achei mais nenhum motivo para sorrir. Um motivo que me significasse um sorriso de alegria ou acordar feliz e já sair usando a minha roupa mais alegre do meu armário. Tudo ao meu redor parece triste, nada parece ter graça e que consiga tirar esse sentimento ruim de exaustão e dor de dentro de mim.

Aquela frase confusa da Dra. Hodges é a única coisa importante que eu consigo me lembrar: "você não tem cistos. É uma ótima notícia, srta. Bryant! Mas, já tive casos em que isso seria um sinal de infertilidade, mas nem sempre é certo. E por causa disso, será preciso fazer mais exames." Durante essa noite inteira, eu estive pensando nisso, era difícil pegar no sono e a vontade de chorar sempre consegue me vencer. E eu não consigo me impedir disso.

Eu não consigo colocar na minha cabeça que isso ainda não é um diagnóstico preciso e cem por cento certo, simplesmente eu não consigo me fazer pensar positivo, sonhar e ver o lado bom de toda essa dor. Simplesmente não dá pra aguentar. Dylan está tentando me ajudar, tentando me dizer que tudo irá ficar bem, mas não é tão simples assim. Nada é simples... É o meu sonho arruinado.

- Oi Gigi, é a Anne. - eu comecei a gravar o áudio, enquanto olhava para a rua pela janela do nosso quarto. Será que é bom eu enviar este áudio? Não quero atrapalhar ninguém com os meus problemas. - E eu sei que, talvez, você deve estar trabalhando, mas eu não estou legal e preciso falar com você sobre um assunto. Mas se você estiver muito ocupada, não precisa. Eu vou entender.

Por mais que eu não queira as pessoas se preocupando comigo - nem mesmo os meus pais ainda sabem sobre tudo - e eu esteja tendo um déjà-vu nesse exato momento, sobre a vez que Gigi teve o término com Oliver e ela me mandou o áudio. Eu sinto que se não desabafar com alguém, não vou aguentar por muito tempo. Entretanto, pude me sentir um pouquinho melhor depois que as duas vieram me ver. Não totalmente, mas já é um início, eu acho.

- Anne, por favor, me conta o que aconteceu. - Gigi voltou ao quarto, carregando a tigela de Dylan, com personagens de Harry Potter na frente e biscoitos dentro. Em seguida, sentou-se na cama. - Você está tão deprimida e sendo você, isso não é normal.

ᴍᴇ, ʏᴏᴜ ᴀɴᴅ ᴏᴜʀ ʟᴏᴠᴇʀs (3)Onde histórias criam vida. Descubra agora