48 | ladeira a baixo.

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O quarto do hotel em Long Island se encontrava ainda pior do que antes. As roupas continuam atiradas pelo chão, sendo pisoteadas pelos pés sujos dos agiotas, os colchões de casal de ambas as camas erguidos e manchados com borrões de sujeira, o que me faz crer que eles estiveram procurando pelos nossos pertences mais valiosos por todos os cantos desse cômodo. A luz amarelada era a única coisa que iluminava o ambiente, já que todas as janelas estavam fechadas com os trinques de maneira proposital para que não houvesse fuga de ninguém e muito menos preces de socorros.

Os irmãos Stabbington estão com semblantes ferozes em ambos os rostos envelhecidos, no momento que eu surjo no quarto, porém os mesmos nem parecem notar a minha presença devido a concentração iminente nos atos violentos nos pares de mãos. Ben continua sentado na cadeira, preso às amarras das costas do assento, inconsiente o bastante para dizer alguma coisa. Um calafrio toma o meu corpo quando o mais alto, de ombros fortes e largos, puxa a cabeça de Ben para trás, forçando os olhares com atrocidade. Os dois riem da situação antes de começarem a briga.

No instante em que o mais baixo atinge um soco em cheio na mandíbula de Ben, eu me retraio para trás, completamente em choque com a cena diante dos meus olhos. Enquanto o outro, simplesmente acerta um chute no estômago do meu tio, derrubando-o com tudo no chão. Ele grunhiu de dor, prestes a sucumbir e a covardia não parou por ali. Os dois se divertem ao seguirem com os fortes chutes nas pernas, costas e por toda a barriga de Ben, preso e sem ter qualquer chance de se defender.

- Vocês vão matá-lo!

Quando chamo a atenção deles, em alto e bom tom, os dois se viram para trás e em seguida se encaram. Ben está se contorcendo de tortura, gemendo em sinal de completo desespero. Por mais que ele esteja merecendo ser metido em porrada por ser um imbecil e ter me arrastado na lama com ele nas últimas semanas, não posso ficar parado de braços cruzados como se visse uma luta de boxe. Esses caras são barra pesada, não valem tanto quanto o pão que o diabo amassou, portanto não quero piorar as coisas.

- Que porra vocês os dois acham que estão fazendo? - pergunto, fechando a porta atrás de mim em um baque. Eles endireitam a postura num tom ameaçador, marcando território. - Esse não era o nosso acordo. Vocês me garantiram o sossego dele.

- Em primeiro lugar, garoto, não viemos até aqui para combinar nada com ninguém e muito menos garantir o bem de um merda igual ao seu tio. - o mais alto respondeu, olhando com désdem para Ben no carpete. - E segundo, cadê a nossa grana?

Respirei fundo, buscando pela paciência que eu, pelo visto, não estava tendo. - Eu não sou igual a ele e vocês mal me conhecem, não lembram? Se eu tratasse de trazer o dinheiro, eu iria trazer.

Eu meti a mão no bolso da roupa, logo alcançando o cheque com os quarenta mil dólares adquiridos das mãos de Tom. Nunca duvidei de que ele havia ficado podre de rico depois que se divorciou da minha mãe e mudou-se para Nova York, todavia, não pensei que fosse tanto assim. Os agiotas ganharam um brilho puro de ganância aos olhos, ao verem o papel nas minhas mãos e pude ter um bocado de esperança assim que o dinheiro foi entregue. Talvez eles apenas peguem, digam algo estúpido e vão embora, como se nada tivesse acontecido e sem saber o meu nome inteiro.

- Aqui. É tudo o que vocês pediram - entreguei ao primeiro que fez menção na minha direção, rezando que aquilo acabasse.

O menor, aparentemente, o mais velho dos irmãos, sorriu de canto ao verificar a validação da assinatura e mostrou ao outro: - Onde você arranjou tudo isso tão depressa? É algum tipo de jogo sujo?

- É sério que isso importa agora? Vocês já conseguiram tudo o que queriam. - sacudi os ombros, afirmando o óbvio. - A grana está nas mãos de vocês e ainda tiveram o prazer de ver o Ben quase morto. Sabe o que significa? É hora de vocês darem o fora.

ᴍᴇ, ʏᴏᴜ ᴀɴᴅ ᴏᴜʀ ʟᴏᴠᴇʀs (3)Onde histórias criam vida. Descubra agora