Sombras de Desconfiança

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Taehyung sentou-se à sombra das árvores, buscando um momento de descanso. O peso das responsabilidades, acumuladas desde a morte de seus pais, parecia menos opressor sob a brisa suave que lhe tocava o rosto.

Fechou os olhos, permitindo-se um breve momento de paz, mas sua mente não silenciava. Ele refletia sobre sua vida antes da tragédia que o colocara à frente do reino. Crescera sendo preparado para as exigências da realeza: diplomacia, guerra, estratégias de sobrevivência. Porém, seu pai, em meio a tantos ensinamentos, havia negligenciado o essencial — como estar sozinho.

Sempre cercado por servos e conselheiros, Taehyung nunca soubera o que era sentir-se abandonado, traído, ou temer ser esquecido. O vazio deixado pelos pais só agravava suas dúvidas sobre sua capacidade de governar sozinho. O medo de decepcionar seu povo o assombrava a cada decisão.

Por isso, ele decidira deixar o conforto do palácio e viajar até Trakai. Acreditava que aquele povo poderia lhe ensinar algo, talvez a força de que tanto precisava.

— Merda — uma voz grave quebrou o silêncio.

Jungkook, com sua presença imponente, aproximava-se. Embora tivessem firmado uma trégua na noite anterior, ainda era evidente o desprezo que o moreno sentia por Taehyung. Kim, por outro lado, parecia menos hostil. Talvez fosse apenas a aceitação de que, se não podia derrotá-lo, deveria se aliar a ele.

Taehyung levantou-se devagar, sacudindo a poeira de suas vestes. Caminhou até Jungkook, ficando perigosamente perto do moreno. Jungkook era alto, de cabelos longos e escuros como a noite. Seus músculos denunciavam anos de batalhas e treinamento. Usava couro e uma capa feita de pelos de lobo, com uma espada pendurada à cintura e uma faca no calcanhar.

Taehyung jamais veria algo assim em seu reino. Lá, apenas os guardas tinham permissão para portar armas. Qualquer outro que andasse armado era visto como uma ameaça.

— Bom dia, companheiro de quarto — disse Taehyung, tentando soar casual.

A expressão de Jungkook foi de puro desgosto.

— Pare de fingir que somos amigos — rosnou Jungkook, tentando manter o controle de suas emoções. Seu orgulho e sua lealdade ao seu povo eram tudo o que ele tinha. — Eu ainda não decidi se posso confiar em você... ou em qualquer outro humano.

disse Jungkook, seu olhar desafiador. — não estou disposto a me submeter a um humano, como minha mãe e meu tio fizeram.

— E desde quando eu ligo para o que você pensa? — retrucou Taehyung com um sorriso provocador.

Jungkook soltou um riso nasal, incrédulo.

— O que foi isso? Perdeu o medo da morte depois de uma simples conversa? Testar meus limites virou seu passatempo? — perguntou Jungkook, sua voz carregada de ameaça.

Taehyung apenas riu, decidindo ignorar o olhar mortal do outro. Jungkook se virou, começando a caminhar sem rumo pela floresta. Taehyung o seguiu, aparentemente distraído, tocando as árvores ao seu redor com um sorriso que parecia angelical.

— Sabe, nem sempre fui assim. Já fui uma boa pessoa. Mas no mundo em que vivo, ser bom é uma fraqueza — disse Taehyung, sua voz soando distante.

Jungkook não olhou para ele, mas era impossível ignorar sua presença. Havia algo intrigante na maneira graciosa como Taehyung se movia, como se o próprio ambiente ao redor não pudesse tocá-lo.

— Isso não é fraqueza. É humano — murmurou Jungkook, desviando o olhar, ressentido por estar, de alguma forma, elogiando o humano.

Taehyung parou de andar e apenas o observou, seu olhar penetrante, como se estivesse mapeando cada cicatriz na alma de Jungkook.

— E se eu dissesse que você está certo? Que eu sou exatamente o que você imagina? — perguntou Taehyung, um sorriso sombrio se formando em seus lábios. — Mas e daí? Isso muda alguma coisa entre nós?

Jungkook parou, tentando entender o que passava pela cabeça do loiro. Desde que chegara a Trakai, Taehyung se comportava como um vilão, para depois exibir traços de bondade. Era difícil distinguir qual das versões era a verdadeira.

— Provavelmente vou me casar com alguém muito mais velho quando voltar ao meu reino — disse Taehyung, com uma expressão vazia. — Sua mãe disse que esta aldeia era livre, livre das impurezas do mundo exterior.

Ele arrancou uma pétala de uma flor, observando-a cair no chão.

— Meu reino não é tão bonito quanto o seu. Minha aparência... No meu mundo, ela sempre foi um fardo nas negociações. Aqueles velhos me subestimavam, achavam que eu era apenas uma criança. Mas quando se apaixonavam pela minha aparência, eu sabia que eles eram os fracos.

Jungkook não disse nada. Apenas olhou para Taehyung com uma mistura de desprezo e tristeza. Ele via nele algo perigoso, como as sereias que cantavam para atrair marinheiros e depois os levavam à morte nas profundezas do mar.

Taehyung sorriu para ele e sem dizer mais nada. — Talvez você tenha razão, Jungkook. Talvez você nunca deva confiar em mim — disse ele, com uma suavidade que parecia contradizer a tensão entre eles. — Mas, por enquanto, parece que estamos presos um ao outro - Ele saiu da floresta, deixando Jungkook sozinho com seus pensamentos.

Ele era um enigma. Seus traços angelicais contrastavam com uma frieza quase calculada, uma combinação que fazia Jungkook estremecer por dentro. Havia algo profundamente perturbador em sua presença, como se ele fosse uma flor venenosa, bela, mas mortal. Cada palavra do loiro era envolta em ironia, cada gesto parecia ocultar intenções que Jungkook não conseguia decifrar.

Ele não podia confiar em Taehyung. Não podia confiar em nenhum humano.

Kim era apenas mais um exemplo de como os humanos podiam ser enganosos. A beleza exterior escondia a malícia interior, e Jungkook sabia disso melhor do que ninguém. Ele já tinha visto isso antes.

Os humanos, no passado, também haviam chegado a Trakai com sorrisos e promessas. Eles se instalaram nas terras, construíram casas, trouxeram comida e afirmaram adorar os deuses de Trakai, respeitando os costumes e os ancestrais do povo. Mas isso era apenas fachada. Tudo que eles queriam era o que Trakai escondia — suas riquezas, seus segredos, os poderes ancestrais guardados há gerações.

No início, eles agiam como aliados. Mas, quando descobriram as joias mágicas, os pergaminhos antigos que continham feitiços poderosos, o tom mudou. Eles atacaram, sem piedade, sem aviso. Roubaram tudo o que era sagrado e precioso. Aqueles pergaminhos, herança do povo de Trakai, nunca mais foram vistos. Estavam perdidos, escondidos em algum lugar nas mãos dos ladrões humanos.

Jungkook lembrou-se dessas histórias como se tivesse vivido cada uma delas. O rancor fervilhava em seu sangue, e agora, olhando para Taehyung, ele sentia aquele velho medo se misturar com a raiva.

Como ele poderia confiar naquele homem? Um estrangeiro, um humano que exalava perigo, mas que escondia suas verdadeiras intenções com palavras gentis e um sorriso desarmante? O medo de ser traído, de ver seu povo mais uma vez escravizado pelos caprichos humanos, nunca desaparecia. Estava sempre ali, à espreita, lembrando-o de que confiar seria um erro fatal.

Taehyung falava com tranquilidade, quase inocência, mas Jungkook não se deixava enganar. Ele reconhecia a crueldade por trás daquele comportamento aparentemente despreocupado. Kim era um predador em pele de cordeiro, e Jungkook sabia que, se baixasse a guarda, seria devorado.

E ali quase agora estava Taehyung, caminhando ao seu lado, brincando com as flores, falando sobre o quão "inocente" ele parecia aos olhos de outros líderes. Jungkook ouvia, mas não acreditava. Era uma armadilha, só podia ser. Ninguém era tão inofensivo quanto parecia, e muito menos um humano vindo de terras distantes.

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Fim

O Príncipe Trakai eo Rei cruel_taekookOnde histórias criam vida. Descubra agora