Entre Estrelas e Sombras

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Na volta para casa taehyung caminhava entre as pequenas barracas, os aromas intensos de temperos e ervas exóticas preenchendo o ar. Seu rosto se iluminava ao experimentar cada novo sabor, não de forma infantil, mas com uma leveza rara que Jungkook não estava acostumado a ver. Ele observava Taehyung de longe, fascinado e, ao mesmo tempo, inquieto. A animação de Taehyung era sincera, e ele parecia à vontade, mesmo sob o peso dos olhares desconfiados dos aldeões.

O povo ao redor, com expressões que variavam entre medo e desdém, sussurrava entre si, direcionando olhares rápidos e cheios de julgamento para Taehyung. Os murmúrios ecoavam, criando uma tensão sutil no ar. Jungkook permanecia em silêncio, o corpo firme e vigilante, como se fosse uma sombra protetora ao lado de Taehyung.

“Você tem um povo... fervoroso”, Taehyung comentou, enquanto provava um pedaço de pão escuro, cortando a tensão com um leve sorriso. Jungkook apenas assentiu, o rosto impassível.

Ao lado de Taehyung, Sunoo e Jia-ah logo se juntaram à caminhada, trazendo uma leveza ao ambiente. Sunoo, com seu habitual humor e provocações, fazia Taehyung rir com piadas e pequenas histórias das feiras locais. Jia-ah, sempre observadora, oferecia a Taehyung diferentes pratos típicos, ansiosa para que ele aprovasse as iguarias de sua terra.

Era inevitável, enquanto olhava para taehyung sua mente estava em um lugar distante. Aquele semblante descontraído e a risada despreocupada de Taehyung o faziam lembrar, de forma dolorosa, de outra época. Anos atrás, ele também andava ao lado de alguém em quem confiava — seu pai, o homem que lhe ensinara tudo sobre honra, coragem e o dever de proteger seu povo. Jungkook tinha apenas dez anos, mas o orgulho que sentia ao lado do pai o fazia se sentir invencível.

A memória daquele dia veio de repente, nítida como se estivesse acontecendo de novo. O humano estrangeiro chegou à aldeia prometendo paz e aliança, o olhar afável e as palavras doces iludindo até os mais prudentes. Lembrava-se de seu pai estendendo a mão ao estrangeiro em sinal de confiança — o mesmo gesto que Jungkook aprendera a respeitar. Mas, em um piscar de olhos, aquele humano traiu essa confiança. Mercenários armados surgiram das sombras, e o céu da aldeia se encheu de gritos e fumaça. Jungkook, com seu coração infantil cheio de coragem, tentou ajudar seu pai a proteger o povo, mas o destino foi cruel. Seu pai caiu ali, defendendo a aldeia, e Jungkook sentiu a lâmina fria atravessar sua pele, deixando uma cicatriz que agora era mais do que uma marca — era um lembrete de sua falha, de sua impotência, de um erro que ele carregava como uma sombra persistente.

Aquela cicatriz era seu fardo, um peso que o impedia de confiar em qualquer humano desde então. E ali estava ele, ao lado de Taehyung, um príncipe de um reino que ele não conhecia, de uma linhagem que não compreendia. Cada riso e cada gesto de Taehyung, por mais sinceros que parecessem, despertavam um conflito interno em Jungkook. Como ele poderia deixar-se confiar, ou pior, sentir algo a mais por alguém como Taehyung?

Ele desviou o olhar, reprimindo a dor e a amargura. Mas, ao fazer isso, o vento suave trouxe consigo o cheiro suave dos cabelos de Taehyung. Era um aroma delicado, uma mistura da fragrância do sabão das terras de Taehyung e o frescor da floresta ao redor. O cheiro o acalmava, como se por um instante, apagasse as memórias dolorosas e o tirasse daquelas sombras que o atormentavam.

Taehyung, sem perceber, atraía Jungkook para longe de seu próprio passado. Observá-lo, interagir com Sunoo e Jia-ah, rir das piadas sobre as tradições trakianas, provando cada prato oferecido sem hesitar... Era uma imagem de simplicidade e calma que fazia Jungkook querer baixar a guarda, esquecer por um momento a cicatriz em seu rosto e a culpa em seu coração.

E, ainda assim, a dúvida persistia. "Como posso confiar em alguém assim novamente?" ele pensou, quase num sussurro interno. Mas a resposta parecia vir quando seus olhos caíam novamente sobre Taehyung, aquele príncipe que, mesmo cercado pela desconfiança e tensão do povo, mantinha uma presença forte e decidida.

Ele não sabia se algum dia conseguiria se libertar completamente das lembranças amargas. Mas, pelo menos naquele momento, estar perto de Taehyung parecia abrir uma porta — uma pequena fresta de luz em meio à escuridão que ele carregava.

Perto do entardecer, enquanto as últimas luzes do sol desapareciam e o céu se enchia de tons de roxo e preto, Taehyung parou, erguendo o rosto para o horizonte. O azul do crepúsculo dava lugar às estrelas, uma a uma, como pequenos pontos de luz solitária no imenso vazio. Ele respirou fundo, os olhos se perdendo na imensidão acima, e murmurou quase como um segredo que escapava de seu peito.

— Minha irmã... — ele sussurrou, a voz suavizada por uma saudade que ele raramente permitia que outros vissem. — Ela adoraria ver isso. Um céu assim... parece feito para ela.

Taehyung pensou em sua irmã mais nova, lembrando-se das risadas, dos olhares de admiração que ela lançava a ele, como se o visse como uma fortaleza inabalável. Sentia sua falta em cada passo, em cada escolha que fazia. Ele ainda se lembrava das noites em que ela se sentava ao seu lado, pedindo para ouvir histórias de bravura e coragem, e de como ele prometia que cuidaria dela, de que sempre a protegeria. A promessa agora parecia uma ferida aberta. As lembranças traziam com elas o peso de sua ausência, e o eco de uma promessa que ele não pôde cumprir.

Ele desviou o olhar para o céu escuro, com um sorriso amargo e melancólico.

— Será que eles teriam orgulho do que me tornei? - Disse Kim, pensando em seus pais - Eu me pergunto se veriam as falhas e escolhas que eu nunca imaginei ter que fazer. — A voz dele enfraqueceu e ele deu um sorriso para Sunoo.

Jungkook, que o seguia de perto, ouviu cada palavra com uma intensidade que o desconcertava. Ele nunca tinha visto Taehyung tão vulnerável, tão despido de toda a sua armadura, e aquela confissão mexia com algo dentro dele. Como híbrido, sua vida tinha sido marcada pela desconfiança e pela raiva em relação aos humanos; eles eram fracos, traiçoeiros, destruíam tudo o que tocavam.

Uma parte dele queria proteger Taehyung de todas as sombras que pareciam assombrá-lo, desejava dizer que ele estava bem, que não precisava carregar esse peso sozinho. Mas ele lutava contra esse desejo, tentando sufocar a urgência de oferecer consolo a alguém que ele ainda via como uma ameaça, uma fraqueza perigosa.

Mas, por mais que tentasse se afastar, era como se Taehyung o puxasse para perto com cada palavra, com cada suspiro. O loiro estava ali, a poucos passos, e o cheiro dos cabelos de Taehyung dançava no vento, trazendo consigo um conforto inexplicável, algo que acalmava os temores de Jungkook e o fazia esquecer por um instante das cicatrizes do passado.

Lutando contra a barreira de orgulho e raiva que ele ainda mantinha. Ele estava dividido entre o medo de se aproximar demais e a dor de ver Taehyung sozinho naquele momento.

Jungkook apertou os punhos, desviando o olhar para o chão, as palavras presas na garganta.

Ele permaneceu em silêncio, preso entre o desejo de ser aquele que o confortaria e o medo de que, ao abrir seu coração, estivesse traindo tudo o que ele acreditava.

Taehyung olhava para o céu, absorvendo as estrelas que pareciam brilhar mais intensamente, enquanto Jungkook, preso entre o passado e o presente, entre o medo e o anseio.

O Príncipe Trakai eo Rei cruel_taekookOnde histórias criam vida. Descubra agora