CAPÍTULO 2

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M A R I A N E

Eu seco as lágrimas mais uma vez, a carta de demissão está ao lado do exame de gravidez. Queria ter dito ao Vicente que estou grávida, esperando um filho dele, mas isso seria uma apelação a ficar comigo sem que seja seu real desejo. Não quero que meu filho nasça em uma situação como essa, quero ter paz e felicidade.

Estou em perigo e consequentemente o bebê ainda no meu ventre, e sinceramente já fiz todo o possível para mostrar isso, porém, não consegui muito. O que eu faria? Iria ao investigador e diria minhas suspeitas?! Seria o certo, porém, aposto friamente que ele está de comum acordo com aquela víbora. E sendo ainda mais sincera, eu amo o Vicente, realmente faço isso, mas, ele não me passa segurança. Sei que sofre pela perda da filha, mas, ele tem que ser mais forte, ou não poderia proteger a mim e muito menos o bebê.

— Tem certeza disso? — assinto para o síndico, antes de assinar a quebra do contrato de aluguel. — A minha filha disse que foi demitida, mas não precisa sair agora, não está devendo nada e, logo arrumará outro emprego. — O simpático senhor tenta amenizar.

— Eu vou embora da cidade. — Confidencio, dando um sorriso baixo. — Estou precisando respirar novos ares. Um novo recomeço, para cuidar de mim.

— Eu entendo você. — O senhor se solidariza. — Boa sorte na sua nova vida, e espero que seja muito feliz. — Sorri agradecida.

Quero dar uma vida digna ao meu filho, não quero nunca que ele seja chamado de "filho de puta", e não possa ao menos me opor. Esperei Vicente demais, me entreguei ao todo, me adequei a ele e não tive o que queria para mim. Sei que ele me ama, porém, a dor e a culpa que ele carrega, não me deixa ser feliz e não quero que meu bebê tenha o mesmo destino.

Não quero que meu filho anseie pelo amor e atenção do seu pai, e no fim do dia, durma sozinho porque não é sempre que ele estará para ele. Não quero que meu filho seja magoado e atacado como fui hoje, ou algo do tipo, porque seu pai é covarde e se mantém preso a alguém sem escrúpulos como aquela mulher.

Prefiro perder seu amor, do que deixar meu bebê em risco. Sempre sonhei em ser mãe, e não abrirei mão desse prazer por nada, nem mesmo pelo homem que eu amo. Se Vicente realmente me ama e me quer ao seu lado, que faça por merecer e se livre daquela maluca, porque não confio naquela mulher nem pintada de ouro.

[...]

A cidade é bem pequena, vinte e dois mil habitantes. É praticamente uma vila de pescadores, com uma pequena escola, um hospital e ruas poucos movimentadas. Gosto do lugar, é calmo e parece tranquilo e aconchegante.

— Será uma professora assistente. Por enquanto é tudo que podemos oferecer. — A secretária de educação me avisa, e sorri satisfeita por ter um emprego. — Talvez quando for iniciar o ano letivo, posso te colocar em uma outra vaga. Tem duas professoras da capital aqui, e elas não costumam demorar.

— Tudo bem. — Sorri satisfeita.

Quero apenas um recomeço, não tenho problemas o quanto humilde ele seja. Não me despedi do Vicente, ele também não me procurou nos últimos três dias que estive na cidade, e isso me magoou e me tranquilizou ao mesmo tempo, porque não sei se seria forte, se ele me pedisse para ficar.

Não foi fácil dá um ponto final, porque amo aquele homem com muito mais que deveria, mas, agora tenho que pensar no meu filho. Sei que o Vicente merece a oportunidade de conviver com essa criança, e que talvez revigore sua vontade de viver e enfrentar toda a situação absurda que o rodeia, porém, ainda não sei como resolver tudo, afinal sinto que tudo se refere a minha segurança e a do meu bebê.

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