CAPÍTULO 15

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V I C E N T E

Os cabelos cacheados e volumosos me fazem querer enfiar meu rosto ali, e apenas viver do seu cheiro bom, então ela me olha por cima do ombro, ainda em frente ao espelho e dá um sorriso, que deixa todo o meu corpo estremecer.  Eu sinto meu sangue pulsando como a tempos não fazia, e admito que até meu desejo por ela havia cessado.

Não! Eu ainda achava Mari a mulher mais linda que já vi, porém, algo em mim estava quebrado e frio. A mudança está vindo aos poucos, é suave e as vezes duras, mas, quando ela sorri para mim, todo o esforço faz valer apena.

— Vocês vão mesmo ficar bem? — Ela me olha com cuidado, enquanto alisa sua farda já perfeita em seu corpo bonito.

— Vamos ficar bem. — Prometo, sorrindo confiante.

Ela vai voltar ao trabalho, e vou ficar com o Bernardo o dia todo enquanto isso. Mari disse que vira almoçar em casa, e passar um tempo com nosso filho, e é estranho como ela nem mesmo saiu e já sinto saudades.

— Qualquer problema, você me liga. São todos muito legais, lá na escola. E se eu precisar sair, vou conseguir sem problema. — Suspirou vindo até mim, sua mão veio até próximo ao meu rosto, e hesitou em me tocar, meu coração acelerado e ansioso por seu toque terno. — Eu aceito.

— Aceita? — Balbucio bobo, e ela sorri assentindo.

Uma das minhas decisões após meses de acompanhamento psicológico, foi que poderia tentar mais uma vez, só que agora quero do jeito certo. Então, hesitante e cheio de ansiedade, convidei a Mari pra sair, como se fosse um encontro para nós conhecer melhor. Nunca tivemos essa oportunidade antes, e acho justo que tenhamos agora.

— Sim. — Afirmou com segurança. — Tenho que ir. — Indicou indo até o Bernardo e beijando as costinhas dele, que dorme em um ninho de edredom.

— Certo! Não se preocupa. Trabalha tranquila. — Declaro levando-se da sua cama, e acompanhando ela em direção a sala.

Estou feliz, feliz como a muito tempo não sentisse. Nosso relacionamento está a cada dia melhor, em especial depois que comecei a tentar melhorar minhas ações com ela. Às vezes, ainda quero me esconder do mundo, mas, mesmo assim me forço a tentar. A psicóloga já me explicou que a recuperação da depressão é realmente feita de altos e baixos, e que apenas tenho que me concentrar e me focar nas coisas boas.

— Bom trabalho. Vamos pensar você o tempo todo. — Prometo na porta, abraçando ao vê-la com olhos cheios de lágrimas contidas. — Tudo vai ficar bem. Sei que sentirá saudades, mas, vai compensar quando voltar, e também, as crianças da escola também são suas, e aposto que estão com saudades de você. — Minha garota me abraça apertado, e suspiro sentindo todos os meus sentimentos parecendo amplos e intensos.

— Você tem razão. Cuidado. Ele é danado, então, tem de ficar de olho, pra ele num cair. — Assinto beijando sua testa, seu cheiro tão bom me deixando embriagado. — Beijos! — Se distanciou, arrumando sua mochila e indo em direção à rua.

Eu assisto ela ir em direção a pracinha, porque em uma cidade pequena como a nossa, tudo é próximo a tudo. O prédio da prefeitura, que fica na praça, também é o mesmo das secretárias e ao lado fica a escola, um posto de saúde e logo ao lado o hospital. Eu gosto de ficar aqui, de viver com ela seja onde minha Mari e nosso filho estiver e se sentir bem. Sinceramente, até mesmo os malditos padeiros, me sinto propenso a gostar deles, porque apesar de nutrir sentimentos pela Mari eles respeitam e amam meu filho, além de ter cuidado deles sem pedir nada em troca.

Eu entro e já sinto a sensação que está faltando algo. Talvez o pilar principal, porque até mesmo o Bernardo parece deslocado sem ela, como se tivesse um silêncio grosso por todo o lugar, e apenas as lembranças de tudo que está acontecendo, e em especial sua resposta sobre sair comigo, me faz sentisse bem e alegre.

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