CAPÍTULO 5

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PS: capítulo com gatilho.
• depressão
• pensamentos suicidas.
[...]

V I C E N T E

A clínica parece fria e impessoal, como os sentimentos que levo no meu peito, parecendo cortar cada pedaço do meu ser como navalhas impertinentes. Tantos temores, e no fundo do meu peito eu desejo apenas que tudo seja um engano e ela não esteja envolvida nisso, porque não sei o que faria. Posso não a desejar mais como esposa, porém, ela foi minha esposa por muitos anos, tivemos altos e baixos, mas também fomos muito felizes, em especial no início do nosso casamento. Eu sei que é idiotice me apegar a esses fatos, porém, me dói imaginar que seria capaz de atentar contra a vida de alguém, e depois deitar e dormir como se nada tivesse acontecido, ou pior ainda, me culpar por tudo.

— Ela está sedada. — O enfermeiro explicou me deixando entrar no quarto branco, com apenas um armário de metal cinza e uma cama com um colchão. — Sua esposa tem certa dificuldade de controle sobre sua raiva, e acabou atacando uma enfermeira mais cedo, quando ela se recusou a dar um telefone a ela.

— Entendo. — Minha voz sai em um sussurro, minha visão presa na mulher sobre a cama.

Os longos cabelos loiros parecem desidratados e sem vidas, e seus olhos escuros abaixo dos cílios claros. A pele clara e magra, agora não parece saudável, e vou até seu lado para olhá-la por completo, indefesa e sem forças.

— Vou sair para deixá-lo à vontade. — O rapaz avisou, e assunto sem conseguir parar de olhá-la.

— Por favor, Soraia. — Olhei para ela, meu coração ansiando de esperança de que tudo seja apenas uma paranoia.

Eu pego o aparelho, e uso seu polegar para destravar a tela. Não tenho coragem de olhar o conteúdo ainda, apenas vou nas configurações e uso novamente sua digital para destravar e mudar o acesso para a minha, para poder usar tudo quando desejar.

Eu olho seus dedos magros, a marca da aliança de casamento que a anos não uso, está ainda mais clara ali e mais uma vez volto a olhar seu rosto vulnerável, tentando sentir algo em relação a ela. No fundo, tenho tanto medo da verdade e por motivos bem distintos, porque de início, vem o temor por tudo que passei e principalmente o sofrimento e a culpa, sendo que a verdadeira culpada era a minha mais fiel ..., em seguida, vem as suspeitas da Mariane, seu medo de que a Soraia fizesse algo a ela, o fato que desdenhei como se fosse apenas ciúmes.

Minei e acabei com meu relacionamento, sacrifiquei minha sanidade e minha vontade de viver por muito tempo, enquanto fazia todo o possível para cuidar e proteger a Soraia, e agora perceber tardiamente que ela é a principal suspeita, faz meu coração se estraçalhar, e parecer querer sair de mim em forma de vômito.

— O tempo de visita acabou. — O enfermeiro avisou, caminhando com cuidado até estar ao nosso lado. — Ela ficará bem. — Assinto soltando a mão dela, absorvendo mais uma vez sua imagem, e me preparando para tirar todas as minhas dúvidas.

— Espero. — Desejo sincero.

Sai da clínica me sentindo sufocado, o médico disse que ela está muito instável e agressiva, e isso não me admira. Soraia sempre foi mimada e cheia de querer, e agora só está exigindo o controle que sempre teve sobre todos, inclusive sobre mim.

Em casa, sento-me no sofá e observo o aparelho que poderá ter a resposta sobre tudo que aconteceu, ou a chance de inocentar Soraia. Me recrimino um instante, por já imaginar como culpada, porém, por que ela receberia um telefonema do homem que matou nossa filha?! Eu tenho de achar alguma justificativa, mas, essa maldita chance não existe, e sei disso.

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