CAPÍTULO 16

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M A R I A N E

O Vicente me olha com um bico enciumado, após o Willian ter vindo deixar um enorme pote de sorvete caseiro para mim. Estou cansada do dia de trabalho, mas, lembrar dos beijos que eu e Vicente trocamos no almoço, me deixa cheia de energia e com a aceleração boa no peito. Passei o dia morrendo de saudades do Bernardo e do Vicente, e quando cheguei fiz até meu bebê ficar bravo do tanto que cheirei e beijei meu gordinho lindo e cheiroso, que por sinal me esperava todo arrumado e parecendo um pequeno príncipe lindo. 

— Que tal nós mudamos?! Talvez a Alemanha, Escócia. Escandinávia?! — Resmungou continuando a pentear a careca do nosso filho. — Qualquer lugar que não tenha esses seus amigos.

— Não seja implicante, Vicente. — Ri abrindo o pote, e indo em busca de uma colher. — Os meninos não vão mudar quem são, apenas para agradá-lo. Você sabe que eles amam o Bernardo, além de serem os padrinhos dele.

Jeferson e o Willian são homens agradáveis e doce. O tempo que estou aqui, sempre foram os mais próximos e que sempre estiveram comigo, e não vou afastar, apenas porque não preciso mais deles. Se é que não preciso. Como minha avó gostava de dizer:

"Ninguém é tão ninguém, que nunca precise de alguém."

As vezes as pessoas acham que apenas porque entrou em um relacionamento, é obrigado a cortar os laços fraternais com os amigos, alguns até parentes e por aí vai. Sempre fui alguém muito apegada, e meus sentimentos não são volúveis que se acabam ou mudam de um instante para outro. O Vicente mesmo, eu desejei com todas as minhas forças deixar de amá-lo, desejar ou ao menos parar de querer tê-lo ao meu lado, mas, nada aconteceu. Continuo amando, minha paixão é a mesma. Os irmãos são respeitosos e mesmo que um dia já tenham demonstrado interesse em mim, depois que disse a forma que amava eles, como irmãos e bons amigos, nenhum dos dois ultrapassaram a linha, não que antes tivesse acontecido. Sendo sincera, se a minha amizade com eles fosse tóxica ao ponto de ser prejudicial ao meu relacionamento com o Vicente, ou ao meu filho, é óbvio que iria me distanciar deles, porém, como não é o caso, manterei meus amigos, até porque me forçar a se distância sem nenhum motivo dos meninos, jamais seria aceito por mim. Por isso sei, que apesar de não gostar deles, o Vicente jamais vai impor um distanciamento entre nós, porque não sou maleável como pareço.

— Melhor ainda seria um continente sem nenhum homem. Esses dias quando fui comprar peixe, o rapaz nem queria receber o dinheiro, porque sabia que era pra você. — Resmungou irritado e observo sorrindo, sentindo o velho e ciumento Vicente com força total. — Filho da puta! — Beijou nosso filho, e colocou no carrinho.

— Cidade pequena é assim, Vicente. Se for Marcos, sou professora da filhinha dele, e como a menina gosta de mim, é natural que ele também goste. — Dou de ombros, saboreando o gosto bom do sorvete de açaí. — Quando cheguei aqui, e eles perceberam que estava grávida e sozinha, os moradores foram muito agradáveis. Ainda são.

Sempre ganho frutas, verduras e temperos. As pessoas em cidades pequenas, costumam ser mais agradáveis e é exatamente por isso, que quero meu filho crescendo aqui, para que possa absorver uma cultura social mais acolhedora e quente, e não impessoal como muitas vezes é na cidade grande. Quero que ele brinque na rua com outras crianças, que saiba dar bom dia as pessoas nas calçadas, e que saiba que sorrir e abraçar é mais que um simples ato de tocar, é fazer parte de uma vida, é saber que aquele ato pode muito bem ter ajudado alguém, sem que nem mesmo percebamos.

— Eu sei. — Admitiu dando de ombros. — Mas, gosto de ter você somente para mim. — Deu um sorriso maroto, um que ele não dava a muito tempo, e quis pular no seu colo e me aproveitar dele. — Querida! Não me olhe assim. Faz tanto tempo, que nem sei como consegui ficar sem pôr as mãos em você. — Lambeu os lábios, e me obrigo a comer uma grande colherada de sorvete, tentando esfriar as sensações do meu íntimo.

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