CAPÍTULO 9

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MARIANE

Falar com o Vicente e ver sua emoção ao ver nosso filho mamando, mostrou o quanto eu tinha razão em pensar que ele amaria conhecer e ter um filho. Ainda tenho medo, tenho muito e de certa forma, saber que ele está em outra cidade por mais alguns dias, me deixa aliviada, mesmo que seja por motivos tão ruins quanto sua saúde. Tive sorte que a dona Carmem tem conhecidos no hospital de Madalena, e me disse sempre a situação do Vicente, e tive a chance de relaxar um pouco.

Ele disse que tudo está sendo investigado com mais profundidade e Soraia e seus três cúmplices estão presos, e um deles é o próprio pai dela, que financiou o crime. O detetive que deveria investigar, também estava envolvido, tinha um caso com ela, e percebo o quanto aquela mulher era desequilibrada, porque ao mesmo tempo que queria manter um casamento falido, dizendo que amava o Vicente, tinha relacionamento com vários outros homens. Não que imaginasse que ela devesse ser fiel a ele, sendo que ele já não era a ela, não tinham mais um relacionamento afetivo e íntimo desde antes do Vicente me conhecer, porém, a forma que ela agia, parecia que era totalmente devota ao marido infiel.

Bom, sinceramente isso aí é o de menos, quando ela teve coragem de mandar me matar. Algumas vezes, eu penso que a Sofia nem mesmo foi uma consequência, e sim uma vítima premeditada tanto quanto eu, porque o Vicente sempre teve um ponto, quando disse que foi estranho o fato do seu pneu está furado. A Sofia não fazia segredo de ninguém, do quanto a sua mãe tinha ciúmes dela com seu pai — eu sei, um absurdo — o Vicente sempre tratou a filha com imenso respeito, e tinha ela como uma menininha. Fato que sempre admirei. A Soraia sabia que não havia qualquer malícia no relacionamento de pai e filha, porém, isso não impedia de ela sentir ciúmes, e isso sempre me deixou com os dois pés atrás.

Estou ansiosa para que o Vicente possa ver seu filho, porque tenho certeza de que será um ótimo pai, igualmente foi para Sofia. Minha amiga era uma coisinha doce e amável, e sempre dizia que quando tivesse um filho, chamaria de Bernardo, e quando descobri o sexo do meu bebê, foi a primeira lembrança que tive e sabia que seria perfeito. Sei que o Bernardo não vai preencher o vazio que a Sofia deixou, e nem é essa a intenção, porém, espero que dê algum sentido à vida para o Vicente, que parecia tão perdido.

— Olá bebê do padrinho. — Jeferson não me olhou nos olhos, mas, sua atenção está toda no Bernardo que sorri. — Bonitão! Muito bonitão. O tio Willian vira logo vê-lo, ele está todo de mau humor. — Conversa com o meu filho, que parece olhar diretamente para ele.

Os dois mudaram, não nos cuidados comigo, porém, não estão mais demonstrando interesse, e isso me deixa sentindo-se estranha, não porque queria manter iludindo os meninos, mas, porque parece que é como se automaticamente, eu tivesse voltado com o Vicente, e não é o caso. Não é minimamente o caso. Eu quero muito que ele seja o pai do meu filho, e que tenhamos uma amizade sólida, pelo bem do Bernardo e da nossa convivência, mas, nada além disso.

— Como você está? — Finalmente me olhou, e sorri minimamente.

— Estou bem. — Afirmo sincera.

— Trouxe uma canja de galinha caipira para você e pão. — Avisou mostrando a panelinha de cerâmica, com a tampa amarrada com um pano de prato. — Quase não tem sal, mas, está muito gostosa.

— Tenho certeza de que está. — Confirmo, não me fazendo de rogada e deixando que ele fique com o Bernardo enquanto destampo a comida deliciosa e bem temperada.

Eu como com calma, sentindo o sabor bom me satisfazendo, vendo-o brincando com meu bebê que se mantém acordado olhando-o com atenção. Logo o William chega me trazendo uma rapadura, e sei que estão me mimando por todo o resguardo, mesmo que tenham desistido de suas intenções românticas.

— Minha mãe disse que aumenta o leite. — William está com um bico, enquanto corta o doce em vários pedaços pequenos.

— Eu já tenho bastante leite. — Aviso, mas ele não dá importância.

Willian é o mais novo, ele tem um jeito mais sufista, com seu cabelo comprido um pouco descolorido pelo sol, e de aparência bem juvenil, com seus atuais dezenove anos, já o Jefferson tem o cabelo curto, corpo forte devido ao trabalho na padaria e uma expressão mais responsável, com seus quase trinta anos. Eu gosto deles, porque são carinhosos e protetores, porém, não sinto que são eles que tem meu coração, e não vou fingir algo que possa magoar a mim e a eles futuramente. Mesmo que não volte para o Vicente, jamais vou querer um relacionamento sem desejo, porque amor, eu os amo, como amigos e irmãos.

— Claro que tem. Mas, ainda assim precisa de vitaminas, para você e o bebê. — Declarou decidido, colocando tudo em um pote e fechando. — Não esqueça de comer. Sempre que vier ver o meu bebê, olho se está mesmo comendo. — Avisou me olhando com severidade.

Os dois irmãos vão para próximo ao Bernardo, e ficam murmurando baixinho com ele. Eu acho uma coisa maravilhosa o carinho que eles têm com meu bebê, e meu coração se aquiesce, sabendo que apesar de não corresponder seus sentimentos, o amor que eles demonstram pelo meu filho e por mim, continua sincero.

[...]

Os dias se passaram, e todos os dias falei com o Vicente por chamada de vídeo e mensagens, sempre preocupado em como está minha saúde e do bebê. No quarto dia, ele foi liberado para sair do hospital e me sinto inquieta por não ter ninguém com quem ele contar nesse momento, mas, entendo que não é uma opção ir até ele.

"Estou indo até você."

Sua mensagem fez meu coração acelerado, e olho para meu filho com preocupação. Não posso impedir de que venha ver seu filho, mas, ainda tenho muito medo de que aquela mulher mesmo presa tenha chance de fazer algo contra mim e meu bebê. Eu sei que existe seguranças próximos a minha casa, fazendo nossa segurança, e que eles estão presos, mas, mesmo assim ainda me sinto insegura.

"Tem certeza de que é seguro?" Pergunto preocupada.

"Juro que não haverá risco.
Nunca mais colocarei você, nem minha família em risco." —  Prometeu e tento com todo o meu ser me acalmar.

"Vou confiar em você."  — Envio de volta, tendo a certeza de que ele fará tudo o possível para não nos pôr em risco.

"Eu amo vocês.
Obrigado por confiar em mim.  — Agradece, e suspiro abraçando meu bebê ainda mais contra meu colo, meus olhos cheios e o peito agitado.

Sei que posso estar ficando paranoica, mas, é difícil para mim confiar novamente. Eu amava a Sofia como uma irmã, e quando perdi ela, a única coisa que me mantinha em pé, era o desejo que o Vicente sobrevivesse. Não queria perder mais alguém, por causa da crueldade humana, e também amo aquele homem de uma forma dura e entregue, e quando vi ele totalmente perdido, soube que não poderia deixá-lo se perder em sua própria mente.

Quando o táxi parou em frente à minha casa, sentia meu corpo quente e minhas mãos apertarem nervosa. Meu bebê está no carrinho ao meu lado, enquanto estou sentada na cadeira de balanço, curtindo o frescor do fim da tarde. Eu vejo o Vicente descer, seus olhos parados em mim e no carrinho ao meu lado, emoção brilhando em seu rosto, parecendo deixá-lo mais jovem, mesmo quando obviamente está abatido pelos dias no hospital.

No fundo meu coração estremece estranho, o desejo que ele me abrace e me beije como se me pertencesse e depois pegasse seu filho no colo e avaliasse cada pedacinho, sentindo esse amor puro que sinto por esse pequeno rapazinho dorminhoco ao meu lado. Eu sei que talvez seja pedir demais, e os hormônios do meu parto a apenas cinco dias, ainda me deixam sensível, mas, nesse instante tudo o que desejo é abraçar e inspirar seu cheiro estranhamente reconfortante, mesmo que o medo ainda esteja trepidando no meu íntimo a cada segundo.

[...]


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