- Mas que sorte a sua, Senhora Bennet! - Lady Lucas exclamara em regozijo, após receber a notícia de que a Senhora Bennet e suas filhas teriam a visita de Lady Violet, a matriarca da família Bridgerton, muito em breve.
Elizabeth, que não estava de acordo com tamanha indiscrição da mãe, deteve-se a bebericar mais um gole do chá que todas as damas tomavam naquele exato momento. De fato havia certo charme em serem a única família local a ter relações prévias com a família do visconde, mas de certo modo ainda parecia meio imprudente se vangloriar por algo que só aconteceria daqui a dois dias, ainda mais quando era de seu conhecimento que aquele não havia sido o plano inicial.
Era para elas estarem visitando Aubrey Hall, não sendo visitadas em Longbourn.
Infelizmente, os motivos por trás de tal mudança de planos não haviam sido compartilhados entre as filhas, ficando somente ao conhecimento de Senhor Bennet o que sua esposa teria conversado com Lady Violet.
- Talvez soe meio equivocado de minha parte, mas como a única com ligações com os Bridgerton, peço encarecidamente que os aconselhe a abrirem suas portas para nossa comunidade. - Lady Lucas prosseguiu em seu discurso, tendo Senhora Bennet assentindo compulsivamente com a cabeça, provavelmente se sentindo envaidecida com tal pedido.
- Mas é claro, milady. Na verdade, caso seja de seu interesse, posso mandar uma nova carta a minha amiga, notificando sobre mais a sua companhia no dia em que formos a receber aqui! Não poderia imaginar hora mais oportuna para apresentá-las! - sua mãe assegurou com animosidade, e por mais deselegante que soasse interrompê-la, Elizabeth não se segurou.
- Mamãe, creio que Lady Bridgerton já estará suficientemente exausta de toda viagem, e sua disposição em vir visitar-nos tão logo fosse possível, talvez não seja o suficiente para livrá-la da fadiga. Deixemos as apresentações para uma próxima visita, o que acha? - não era bem uma sugestão, mas sim um alerta discreto para que a mãe acalmasse os ânimos.
Como uma resposta a seu comentário, Senhora Bennet prontamente mudou o rumo da conversa que travavam para alguns comentários breves sobre os doces que comiam e os últimos movimentos em Meryton. Kitty, que já não via mais graça em ir sem a companhia de Lydia, aproveitou-se para se queixar de suas outras duas irmãs que nunca passeavam com ela. No fim, as duas combinaram de acompanhá-la num passeio à cidade na próxima semana afim de calarem suas reclamações.
Elizabeth também contribuiu durante o restante da conversação, mas em seu íntimo, não conseguiu deixar de se perguntar se a falta de censura de sua mãe a sua fala se deveria a algum fator por ela oculto.
De todo modo, os receios se mostraram infundados quando após dois dias de muito trabalho para organizar uma boa recepção, uma carruagem estacionou em frente a Longbourn, donde uma senhora de aparência fina e amigável saiu acompanhada de três jovens de traços semelhantes: a mais alta emburrada fazia um perfeito contraste com a mais moça que se encontrava alegre, enquanto a do meio parecia bem imparcial a tudo o que via.
Elizabeth lembrava-se de já ter tido de lidar com o gênio odioso das irmãs de Senhor Bingley, e do modo como elas pareciam igualmente bisonhas, e por isso ficara aliviada em ver que cada Bridgerton parecia ter personalidade própria, ainda que não tivesse tanta certeza de que isto lhe serviria a favor.
- Lady Bridgerton, que felicidade em revê-la! - Senhora Bennet se aproximara com animosidade, dando-lhe dois beijinhos no rosto. Pelo estranhamento inicial na face da amiga de sua mãe, Lizzy se perguntou se sua progenitora teria mudado muito desde a última vez que as duas damas se viram. - Como mencionei em nossas cartas, estas são minhas meninas: as senhoritas Catherine, Mary, e Elizabeth Bennet. - apontou respectivamente às moças, que por sua vez não tardaram em fazer uma mesura em cortesia.
Violet pareceu possuir um pouco de satisfação contida nos olhos após analisar as moças Bennet, e por mais que não fosse de seu feitio se deixar levar por lisonjas, Elizabeth se viu sorrindo diante de tal aprovação.
- Elas lembram muita a senhora quando éramos mais novas. - a viscondessa-viúva declarou com um sorriso nostálgico, devolvendo a mesura às três. - Me permitam imitar a cortesia e apresentar minhas três filhas mais moças: Eloise, Francesca e Hyacinth Bridgerton. - apontou para as meninas, numa apresentação que curiosamente parecia respeitar tanto a ordem de nascença quanto alfabética entre as meninas.
Mais algumas cortesias foram feitas antes de encerrarem a recepção para partirem para o chá que as aguardava na sala de visitas. Eloise, que Elizabeth soube reconhecer como a mais arteira entre as Bridgerton, logo acabou persuadindo sua irmã mais moça a conhecerem o restante de Longbourn, conseguindo desviar-se de toda a conversação e chás. Como a mais velha, logo a Senhora Bennet solicitou que Elizabeth lhes fizesse a devida companhia pela propriedade.
Obviamente a moça chegou a pensar em se opor a tal pedido - desejando mais alguns minutos na sala - mas vendo como Mary e Kitty definitivamente estavam mais encantadas com a visita da viscondessa-viúva, achou melhor não tirá-las tão cedo de seus sonhos com a aristocracia. Além do mais, não era como se por si só já não tivesse lidado uma vida inteira com moças mais novas do que ela, o que prontamente se fez ao seu favor em relação a Hyacinth, que apesar de sua nascença superior, pareceu ficar verdadeiramente encantada com a figura de Lizzy.
- Vocês tem alguma biblioteca? - Eloise questionou, enquanto seus olhos pareciam já procurarem sozinhos pelo tal cômodo.
- Temos uma, mas não com tantos exemplares quanto gostaria de ter. - a Bennet respondeu, felicitando-se por descobrir que possivelmente tinham a leitura como um gosto em comum. - Tem lido algum bom lançamento que gostaria de me recomendar?
- Na verdade, tenho sim. Trouxe alguns da capital comigo para passar o tempo, e posso lhe enviar alguns se forem de seu interesse. - a boa mudança no humor de Eloise surpreendeu à Elizabeth. Teria ela ficado tão surpresa com a ideia de ela também ler?
- Quem sabe numa próxima visita não possa os trazer pessoalmente a mim, ou, não necessariamente me auto convidando, eu poderia visitar sua biblioteca em Aubrey Hall? - sugeriu num tom ameno, enquanto observavam Hyacinth se impulsionar com força no velho balanço de infância das crianças Bennet.
Eloise deu um risinho baixo, mas não intencional, pelo modo como rapidamente procurou abafá-lo ao notar os olhos questionadores de Elizabeth sobre si.
- Me desculpe. É que não sei se meu irmão estaria muito de acordo com tal visita. - a menina pigarreou, ainda envergonhada.
- E com irmão, você estaria dizendo o Visconde...? - a Bennet murmurou com incerteza, afinal haviam pelo menos mais três Lordes Bridgerton além daquele que carregava o título de visconde. Eloise assentiu para sua suposição. - Ora pois, concordo que todo anfitrião deve ter o direito de escolher quem permite adentrar o seio de seu lar. No entanto, poderia saber que grande objeção ele teria para tal visita?
- Veja bem, a maioria de nós veio para o interior afim de fugirmos de toda a movimentação da capital, Anthony mais do que todos, é claro. - a menina parecia tentar soar razoável em sua explicação. - Digamos que a última temporada nos arrancou um bocado de nossos modos sociais.
Elizabeth riu, não pelos Bridgerton, mas sim por ter conhecido há pouco tempo um homem igualmente casmurro. Infelizmente, tal movimento teve o seu preço, e tão logo seu espírito se regozijou ao se lembrar de Senhor Darcy, logo entristeceu-se. Desejou que Eloise não tivesse notado sua súbita variação de humor, mas lá estava a jovem lady com seus olhos bem atentos sobre ela.
- Me pergunto se minha resposta mais a animou do que deprimiu. - a Bridgerton indagou, meio incerta.
- Diria que um pouco dos dois. Quando se tem Meryton como lar, é fácil se esquecer aqueles que vem da capital vem atrás de nossa monotonia, e não para ser nosso entretenimento. - seu sorriso foi certeiro assim como seu comentário. - Mas me permita oferecer minha amizade enquanto estiver por aqui, Lady Eloise. E se seu irmão não permitir a mim e minha família a graça de uma visita a Aubrey Hall, que possamos manter contato de outras formas.
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Desprezo & Devoção
RomanceDes.pre.zo: Falta de estima, repulsa. De.vo.ção: Afeto, dedicação. Como palavras tão distintas em significados poderiam ser despertadas simultaneamente em presença de um certo alguém? Nem Elizabeth Bennet, tampouco o Visconde Anthony Bridgerto...