Senhorita Bennet e Lorde Bridgerton

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   Quando Anthony pôde finalmente chegar a Longbourn, foi impossível não reparar na aura fúnebre que dominava a propriedade. Todos os empregados pareciam estar recolhidos dentro de casa, e fora o som de alguns animais no estábulo próximo dali, o silêncio era sepulcral.

   — Bom dia, onde se encontraria o senhor da casa? — ele perguntou à criada que o atendera à porta, após algumas batidas.

   — Lorde Bridgerton! — ela se assustara ao reconhecê-lo, fazendo uma mesura constrangida em seu sentido. — O Senhor Bennet não se encontra muito disposto, mas posso perguntar a uma das senhoritas Bennet ou ao senhor Bingley, se preferir, milorde. — acrescentou solícita, ativando em Anthony um surto de compreensão.

   Agora entendia o porquê daquilo tudo lhe soar tão familiar. Ele mesmo já tinha visto aquele mesmo cenário, anos atrás, quando seu pai falecera: os gritos de sua mãe e a confusão de seus irmãos mais novos, enquanto os criados lutavam para tentar fazê-lo tomar o controle da situação.

   Podia estar à porta, mas já conseguia imaginar a cena discorrendo dentro da sala de estar, com todas as moças Bennet ao redor da inconsolável mãe.

   — Bridgerton. — de repente uma voz mais branda o chamou, aproximando-se atrás da criada para o recepcionar. Era Charles Bingley, e apesar do semblante abatido, era óbvio que estava se esforçando para se manter como o melhor naquela casa, afim de assistir a esposa e as cunhadas. — No que posso ajudá-lo?

   — No momento, em nada. Mas me permita ser solícito e ajudá-los com o que precisarem. — se propôs, dando mais um passo para perto da entrada, pedindo por permissão para tal.

   Se Charles estava disposto ou não a considerar seu pedido, Anthony nunca pôde saber, pois se somando ao pequeno grupo que já se concentrava à porta, Lizzy surgira com os olhos inchados e o nariz vermelho, parecendo tão incrédula quanto qualquer um por ver o visconde ali. Mas seja lá qual fosse sua apreensão, ela logo se desfez quando a jovem cortou caminho entre os demais, procurando nos braços dele um refúgio que nunca antes procurara.

   Anthony ainda tentava processar o fato de que estava de fato sendo abraçado por Elizabeth, quando deixou seus próprios braços cederem ao redor da cintura dela, a apertando firme contra o corpo, enquanto lhe permitia chorar na curva de seu pescoço.

   — Ele está péssimo, Anthony. Péssimo! — ela soluçou, pela primeira vez não parecendo se importar em soar frágil diante dele.

   — Por isso estou aqui. Não vou deixar que passe por isso sozinha...nenhum de vocês. — o Bridgerton se apressara em acrescentar, ao ver que Bingley ainda assistia à cena, um tanto embaraçado com a ideia de tal demonstração de afeição ser mal interpretada pelos outros.

   Mais um minuto colados assim, e logo a moça voltou a se ver disposta, seu choro tornando a ser um pequeno fungar apático, o qual partira o coração dele admirar.

   — Vamos, entre. Acredito que não tenha motivos para o manter do lado de fora. — Charles murmurou, dando um de seus sorrisos amáveis ao conduzi-lo ao interior da casa, que como Anthony já bem esperava, estava triste e sombrio.

   Definitivamente não planejou passar o horário de seu almoço assim, tanto que a certa altura da tarde, quando se encontrou meio zonzo, aceitara de bom grado a refeição cordialmente ofertada por eles. Não havia muito que pudesse consolar a Senhora Bennet — que alternava entre momentos de soluços agressivos a um completo estado de apatia — mas quando no pôr do sol o Senhor Bennet dera seu primeiro sinal de vida, Anthony não pôde deixar de se sentir aliviado em ver um pouco das cores retornarem a Longbourn.

   — Fique com ele, mamãe. Sei que está mais ansiosa do que todos para revê-lo. — Jane encorajou num tom amável, dando batidinhas nas costas da mãe, que nem mesmo precisou que ela se repetisse, antes de subir as escadas ao encontro do esposo.

   Apesar do alívio visível, era óbvio que ninguém tinha milagrosamente se recuperado daquele dia estressante, então não fora de se surpreender que a sala toda tenha soltado ao mesmo tempo um suspiro profundo.

   — Já pode retornar a Longbourn, milorde. — Lizzy fungou, levantando-se para acompanhá-lo até a porta.

   Anthony tentou não objetar, sentindo que os olhos de Charles ainda recaíam sobre os dois vez ou outra, mesmo que não houvesse qualquer tipo de censura em sua face. Porém, assim que se afastaram da sala, alcançando o batente da porta, o visconde não pôde deixar de detê-la em seus passos, segurando-a delicadamente em sua mão.

   — Não sei se me sinto confortável a deixando assim. Saiba que as portas de Aubrey Hall sempre estarão abertas aos amigos. — ele insistiu, dando um passo para mais próximo dela.

   — Pode parecer terrível, mas não temi pelo destino de meu pai. Hoje foi um dia especialmente longo para eu repensar sobre minha vida, e no quanto meu egoísmo custou para minhas irmãs. — ela suspirou exausta, abaixando a cabeça para evitar seu olhar. — Meu outro cunhado, o senhor Wickham, está vindo para cá, e eu não consigo parar de pensar que caso ele e o Senhor Collins vejam meu pai neste estado, eles começarão a se atacar pela a herança quase certa destas terras. — ela negara veemente com a cabeça, espantando a ideia.

   Nem sabia porque segredava algo assim para Anthony, mas estava tão cansada de fingir que não estava vendo a paz em Longbourn se encaminhando para o fim, que as palavras facilmente lhe escaparam dos lábios.

   — Se eu tivesse me casado com o Senhor Collins... — começou a se lamentar, mas se surpreendeu ao ser interrompida por Anthony, que comprimira seu dedo indicador contra seus lábios.

   — Pensar no que poderia ter acontecido, não a ajudará a lidar com o que vem pela frente. — ele declarou, os olhos castanhos exprimindo uma convicção absurda. — Sei de uma maneira para ajudar a desviar as atenções indesejadas destes tais Senhor Collins e Wickham, e a resposta eu já lhe dei: Aubrey Hall. Temos quartos mais do que suficientes para os comportar durante a recuperação de seu pai. Por favor, Lizzy, não me impeça de ajudá-la no que puder.

   Por um segundo, Elizabeth sentira como se estivesse tendo um dejá vu, retornando a um certo proprietário de Pemberley, que uma vez fora luz em sua vida, tanto quanto Anthony estava se dispondo a ser. E aquilo lhe abrira os olhos, ou pelo menos foi o que acreditou, enquanto ainda observava a face de Anthony, aguardando por alguma resposta sua.

   — Eu aceitarei a sua ajuda. — ela assentiu, a voz embargada diante do esforço que o homem estava se dispondo por ela, e somente ela.

   — Bom. Mandarei amanhã as devidas cartas, para que possa reencaminhá-las, tudo bem? Por ora, me caberá ter de me despedir. — sorrira desconsertado, dando meia-volta para se por do lado de fora. — Boa noite, Senhorita Bennet.

   — Boa noite, Lorde Bridgerton. — ela respondera de volta, e por alguma razão, nunca uma porta demorara tanto para se fechar, quanto naquele último olhar que ambos trocaram naquela noite.

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