Um voto de confiança

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NOTA DA AUTORA

Imagino que a minha falta de regularidade em publicar deve ser uma porcaria, mas eu gostaria de agradecer aos antigos leitores, e aos novos que sempre aparecem. Para meu espanto e alegria, "Desprezo & Devoção" é uma das minhas histórias com acompanhamento mais regular do meu perfil, e mesmo que vocês não sejam de comentar, saibam que eu reconheço o icon de cada um de vocês que votam nos capítulos.

A vocês, meu muitíssimo obrigada!

OBS.: Visitem meu canal no YouTube! Postei um agradinho com nosso #Lizthony

(...)


   Embora a maioria dos Bennet estivesse dormindo naquela altura da madrugada, o Senhor Bennet já se encontrava bem disposto em sua poltrona. Os últimos meses haviam o feito desenvolver esse costume de observar a esposa no melhor de seu sono.

   Um hábito curioso para se desenvolver só depois de vinte anos juntos, mas sentia um tremendo alívio em ver que pelo menos um deles não havia sido abatido pela descoberta que fizera pouco após o casamento de Jane. O movimento que fizera ao levar à altura do estômago fora tão instintivo, quanto a dor que sentira ao tocar o calombo ali alojado.

   — Por Cristo, Senhor Bennet! — o grito estridente de sua mulher não o afetara, apesar da brusquidão em seu despertar. — Quase me mata de susto, sentado assim, na penumbra da noite!

   O velho homem deu uma levíssima risada, levantando-se do assento para se juntar a ela no leito.

   — Deixe de tolices. Se fosse de minha intenção matá-la, como poderia viver sem seus berros depois? — inquiriu, lhe dando um beijo casto no topo da testa. As provocações eram sua melhor forma de demonstrar afeto, e foi justamente por isso que a Senhora Bennet lhe abrira um sorriso, ainda que tivesse o espírito aborrecido.

   — Pois bem, se for para  suspendermos as tolices, acho bom tratar de dormir bem o que nos resta de horas antes do amanhecer! — ela decretou, dando tapinhas no lado da cama para que ele se deitasse.

...


   Quando o sol raiou, algumas horas depois, os criados em Longbourn já se encontravam a postos preparando o desjejum, enquanto iam na porta dos aposentos de seu senhor e senhorias, os despertar educadamente de seu sono.

   Elizabeth foi uma das primeiras a se por de pé, descendo as escadarias com leveza, enquanto via as bandejas com laticínios e pães sendo levada para a sala de refeições, onde se acomodara.

   — Correspondência de Aubrey Hall, senhorita. — uma das criadas comunicou, se aproximando com um envelope numa bandeja fina.

   Se apressando para pegar a carta e lê-la, a Bennet quase pôde soltar um sorrisinho ao reconhecer a letra de Anthony, que mais uma vez fazia um convite para que a família viesse visitá-los na residência dos Bridgerton. O motivo de desta vez ela encarar com tão bom humor, é porque sabia que desta vez era um convite legítimo, e não alguma tentativa boba de provocá-la.

   — Mamãe ficará tão feliz com isso. — a jovem murmurou contente, enquanto intercalava seu olhar entre a criada e o papel em mãos. — Não comente nada. Eu mesma repassarei o comunicado assim que eles chegarem à mesa. — e com esta última dispensa, pôs-se a passar manteiga em seu pão, se esforçando para esconder seu sorriso por trás de algumas mordidas.

   Não tardou para que os demais Bennet se juntassem a ela na mesa, e pelos minutos iniciais Elizabeth permitiu que comessem sem interrupções, guardando a novidade para quando todos pareciam próximos de finalizarem o desjejum. Como esperado, Senhora Bennet quase desmaiou em sua cadeira, tendo Mary de lhe acudir, embora nenhum deles acreditasse que a velha estivesse verdadeiramente em perigo. Suas irmãs também pareceram empolgadas com o convite, sendo o Senhor Bennet o único à mesa a não encarar aquilo com bons olhos.

   — Eu acho um convite maravilhoso. — Lizzy decidiu verbalizar o seu apoio, afim de amansar o pai. Afinal, sabia que parte dele não gostar tanto do visconde era pela série de desentendimentos que vinham tendo desde que se conheceram. — Se o senhor me permitir, gostaria de escrever uma carta em resposta, aceitando o convite. — insistiu, levantando-se de forma solícita de seu lugar.

   — Gostaria de conversar convosco. — o homem desconversou, largando o guardanapo sobre o prato, pouco antes de se levantar também, mas com curiosa dificuldade.

   Elizabeth até teria o questionado quanto a tal estranhamento, se seu pai não tivesse sido mais rápido em caminhar até seu escritório, não esperando para conferir se ela o seguia ou não. Quando ficaram enfim a sós, Lizzy fechou a porta e se juntou à ele na mesa, ficando de pé enquanto ele se assentava em sua velha poltrona.

   — Desde que vira aquele sujeito pela primeira vez, não fizera outra coisa além de tecer insultos a sua pessoa, mesmo contrariando a sua mãe. Agora, ele nos refaz um convite para visitarmos Aubrey Hall, e não só decide apoiar a ideia, como parece empolgada para tal?! — O Senhor Bennet ia enumerando as percepções que vinha colhendo até o dado momento, visivelmente chateado com toda essa contradição. — Lizzy, há algo que este homem tenha feito para dissuadi-la de seus achismos, ou está acometida por alguma confusão? Pois francamente, não estou a compreendendo.

   — Imagino que seja minha culpa, de fato. — a moça suspirara, encarando a própria ponta dos pés, antes de voltar a olhar nos olhos do pai, mais certa de si mesma. — Mas acredite, eu tive minhas razões para num primeiro momento repudiar a figura do visconde, tanto quanto tenho meus motivos para admirá-lo agora.

   — Admirá-lo? É algo muito forte para se nutrir por alguém que repudiava há pouco. — o homem frisou, dando uma curta risada sem humor.

   — Decerto que “admiração” não seria o termo mais adequado. Diria que passei a respeitá-lo, assim como ele passou a fazer o mesmo em relação a mim. — garantiu, aproximando-se um pouco mais da mesa, sentando-se na ponta apenas para ter um ângulo melhor de seu pai. — Eu sei que deve ser confuso me ver mudar tão bruscamente de opinião, mas preciso que o senhor confie em mim. — suplicou, ávida por uma nota mínima de reconhecimento, mesmo que sentisse que estava pedindo demais.

   — Lizzy, eu estimo a sua opinião, pois uma vez me advertira quanto a imprudência em permitir que Lydia fosse a Brighton, e eu acabei perdendo minha caçula para sempre. — ele admitira com pesar, embora parecesse se esforçar e muito para se manter presente no que discutiam no momento. — No entanto, deve reconhecer que não posso seguir te apoiando, se continuar a mudar de opinião sobre as pessoas, com demasiada frequência. Portanto friso: Devo dar um novo voto de confiança ao Lorde Bridgerton, sim ou não? — lançou o questionamento, à espera de uma resposta direta e definitiva.

   — Sim, papai. Lorde Bridgerton merece essa nova chance. — Elizabeth reafirmou, de forma convicta. — Fora isso, ainda há algo a mais que gostaria de tratar comigo? — inquiriu, unindo as duas mãos em frente à saia do vestido, um pouco sem jeito.

   — De modo algum. Sinta-se à vontade para mandar a carta em afirmativa para Lorde Bridgerton. — O Senhor Bennet deu seu devido aval, ajeitando-se na poltrona, afim de se desfazer da tensão em seus ombros.

   Só esperava que sua filha estivesse fazendo a escolha correta.

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