O sol já estava próximo de se por a pino quando a carruagem finalmente alcançara Meryton, liberando de dentro de si um peculiar grupo de amigos.
A primeira observação que Anthony Bridgerton pôde fazer quanto ao lugar é de que estava longe de ser uma Londres da vida: seus prédios eram menos elegantes, suas ruas não eram pavimentadas, e as pessoas que circulavam por elas pareciam mais afobadas.
No entanto, isto não parecera ser o suficiente para diminuir o ânimo de suas irmãs em relação a este passeio, e até mesmo Eloise parecia radiante.
- A livraria da qual te falei fica descendo aquela rua. - Elizabeth se pronunciara, apontando a direção para a mais velha das Bridgerton. - Mary também poderá lhe acompanhar caso seja de seu interesse. Antes precisarei passar na loja de fitas e laços que minha mãe pediu. Podemos combinar de nos reencontrarmos aqui em uma hora. - ia sugerindo, quando o visconde a interrompeu com um pigarro alto.
Um gesto nada cavalheiro, é claro, mas que cumprira bem o sei propósito em chamar a atenção de todas para si.
- Com sua licença, mas acho meio imprudente nos dividirmos desta forma. - ele declarou em tom severo, enroscando o braço direito ao de Hyacinth, que além de mais nova, costumava ser a que mais se prestava a ouvir seus conselhos.
- Meu Lorde, nós crescemos nestas ruas. Garanto que não há uma família em que os Bridgerton poderiam confiar mais neste momento. - a Bennet semicerrou os olhos, e embora sorrisse, Anthony duvidava de que o fazia sinceramente. - Além do que, não acha que seria terrível privar que cada um siga o passeio fazendo o que lhe for de melhor proveito? Tenho certeza de que suas irmãs tem passatempos tão distintos quanto as minhas, e se cada Bridgerton acompanhar uma Bennet, as chances de todos aproveitarem o passeio serão maiores.
- Pois bem, sendo assim, o que cada Bennet pretende fazer hoje? - o homem cedera, mas não necessariamente para acatar aos caprichos da moça, mas sim dar corda àquela catástrofe eminente. Mal podia esperar para vê-la se enforcando em sua própria arrogância.
- Irei à livraria. Faz tempo que Longbourn anda carente de novos exemplares e papai me dera o aval para comprar mais alguns. - Mary se pronunciou, esbanjando de pomposidade.
- Eu amaria lhe acompanhar e dar algumas indicações. - Eloise prontamente exclamou, mas pelo modo como o olhou por sobre os ombros, o visconde só pôde supor que o estava fazendo para o desafiar.
- Há uma praça onde alguns cantores tocam. Faz tempo que não a visito, já que só fazia na companhia de minha outra irmã Lydia, e como sinto saudades dela... - Kitty lamuriou. Suas irmãs bem sabiam o quanto Lydia fazia falta na vida dela.
- Bom, música é algo sempre bom de se apreciar. - Francesca comentou, e algo em seu sorriso delatou seu desejo em amansar a dor da garota com sua companhia.
- Infelizmente não pretendo fazer nada tão divertido quanto minhas irmãs, pois como bem disse, tenho de ir comprar alguns laços. - Lizzy dera de ombros, fitando os dois Bridgerton que restaram.
- Eu adoraria ir contigo! - Hyacinth declarou com entusiasmo, correndo para segurar a mão de Elizabeth, e com isso se desvencilhar de um Anthony mortificado com sua atitude.
Com todas as damas Bridgerton muito bem encaminhadas, agora ele era o único restando. Mas afinal, qual delas acompanharia?
Eloise sempre foi sua irmã mais difícil, mas dado os modos de Mary, imaginava que a Bennet tinha mais a temer do que o contrário. Já Francesca, sempre tão comedida, nunca foi sinônimo de desconfiança para seu irmão. Mas Hyacinth, ah...
A última dos Bridgerton, a única que jamais tivera a graça de ser aninhada no colo de seu pai, era tal qual o seu nome indicava: uma flor preciosa demais para ser deixada nas mãos de qualquer um, especialmente um elemento como Elizabeth Bennet.
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Desprezo & Devoção
Roman d'amourDes.pre.zo: Falta de estima, repulsa. De.vo.ção: Afeto, dedicação. Como palavras tão distintas em significados poderiam ser despertadas simultaneamente em presença de um certo alguém? Nem Elizabeth Bennet, tampouco o Visconde Anthony Bridgerto...