Capítulo III

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Cinco minutos, dez minutos e Nick parou de contar.
O menino estava bem mais quente agora do que quando o encontrou, mas ainda era uma temperatura baixa para ele.
Não que ele fosse médico, mas não parecia certo.
Diana estava sentada na poltrona ao lado da cama em que Rosalie mandou colocar Kelly. Seus olhos abriam ocasionalmente para vigiar o irmão e logo em seguida voltavam a se fechar.

O detetive afastou-se dos irmãos e seguiu para a área da loja, onde Rosalie e Monroe procuravam ingredientes.

— Oi.

Monroe virou a cabeça para ele e suspirou.
— Oi, cara. — disse. — Que doidera ein?
Nick sorriu. Ainda não havia dito que a menina contou fatos estranhos sobre ela e o irmão, mas Monroe já parecia tão preocupado com o assunto que o detetive decidiu soltar a bomba de uma vez.

— Ela disse que ele é meu filho.

Monroe olhou-o com os olhos esbugalhados e Rosalie virou-se bruscamente.

— Ela disse o quê?
— Que Kelly é meu filho e que…
— E que…
— E que ela é filha de Sean Renard e Adalind Shade.

Por um breve momento houve um silêncio um tanto quanto constrangedor.

— Ah, meu Deus. — Rosalie pulou do banquinho e correu em direção ao porão com tanta pressa que Nick achou que ela fosse cair.

— Rosalie?

Monroe chamo e a mulher apareceu correndo com uma pilha de livros nos braços.

— Me ajude aqui.

Logo os livros estavam espalhados pela mesa e todos diziam a mesma coisa.
Nick e Monroe entreolharam-se nervosos.
Rosalie, no entanto, amassava alguma coisa para fazer um chá.

— Rosalie, você poderia parar um pouco? — pediu Monroe, fazendo uma breve careta. — Eu nem ao menos acabei de processar a informação e você já está achando uma solução.

— Uma só. — murmurou. — Achei uma de muitas.

— Como assim? — perguntou o Grimm.

— O menino está sofrendo de algo que eu gosto de chamar de febre atemporal. — explicou. — Se ele vem do passado sua temperatura aumenta, como a febre que conhecemos...

Febre atemporal? — interrompeu Monroe.

— É, eu não sei pronunciar o nome verdadeiro.

— Certo, Rosalie. — Nick suspirou. — Prossiga, por favor.

— Se ele vem do futuro, tem o efeito contrário. A temperatura baixa, como se ele estivesse sofrendo de hipotermia.

— O que explica a temperatura corporal dele estar tão baixa. — completou Nick.

— Exatamente.

Rosalie caminhou até onde as crianças estavam com duas xícaras na mão.

— Como ela fez isso tudo enquanto falava? — sussurrou Monroe, mas Nick teve a impressão de que foi para ele mesmo a pergunta.

Diana, seria o nome da garota, lembrou o detetive. Tomou o chá sem protestos.
O menino, meio desnorteado, precisou de ajuda para ser medicado.

— Eles vão dormir por algumas horas, mas estarão muito melhores quando acordarem. — disse Rosalie, subitamente baixando o tom de voz. — Eu espero.

— Nick, por que você não leva as crianças para minha casa? — perguntou Monroe. — Vão ficar mais confortáveis lá.

— Nós tomamos conta delas. — Rosalie comentou.

— Tomamos? — Rosalie olhou Monroe de canto de olho. — Tomamos, sim. É.

— Assim você pode avisar o Renard e Adalind.

Nick riu baixinho.

— Rosalie, se eu visse Adalind agora eu não sei do que seria capaz e o capitão vai me afastar e me mandar para um hospício.

— Tudo bem, não conte a Sean. Mas você precisa contar a Adalind.

— Porque?

Rosalie suspirou.

— Nick, você ainda não percebeu?

O detetive deu de ombros, sem entender o que a amiga quis dizer.

— Ele é seu filho e ela é filha de Sean Renard. E ela afirma que eles são irmãos. — explicou. — A única coisa, ou melhor, pessoa, que poderia uni-los é a mãe e ela não pode ser ninguém além de...

—Adalind Shade.

Nick parecia ter levado um soco no estômago.
Ele e Adalind Shade? Que ideia ridícula. Asquerosa.

— É. — murmurou Monroe. — Espere, o quê?

— Rosalie disse que...

— Não, isto eu entendi. Mas como assim você teve um filho com a Hexenbist? Quero dizer, podia ter escolhido uma melhorzinha não?

— Obrigado, Monroe. — disse Nick. — Obrigado por me dar sermão por algo que eu não fiz.

Ainda. — completou o amigo.

— Chega, vocês dois. — decretou Rosalie.

Nick achou que fosse desmaiar, vomitar ou começar a gritar, mas limitou-se a suspirar.

— Nick, sinto muito. — disse Rosalie. — Mas precisa contar a ela. Não sei o que ela vai fazer, nem como vai reagir. Mas precisa dizer a ela.

O Grimm olhou para onde as crianças estavam, até então adormecidas.
Elas não tinham culpa de nada. Qualquer problema do passado não modifica seu futuro. Não tinham culpa por seus - ele gostaria de usar outra palavra, mas não achou - pais serem o que são e fazerem o fazem.
Eram, no fim das contas, apenas crianças.

— Tudo bem. — concordou ele. — Eu falo com ela.

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