Ana Reyes:Sozinha. Perdida no caos que minha vida se tornou. Uma puta virgem, vendida pelo próprio tio. Órfã, idiota e ingênua... quando vai aprender, Ana? Você é só um pedaço de carne manipulável. Uma mulher que da noite pro dia perdeu tudo, então por que não aceita deixar o orgulho cair? Volte de joelhos e se venda, será mais fácil! Afinal, todos acham que você é fácil... até seus professores favoritos!
— Não!!!! – Grito para silenciar as vozes em minha cabeça, tentando afastar as lágrimas que escorrem sem descanso.
Estou cansada. Corri o máximo que pude para longe da boate, para longe daquele pesadelo. Agora estou agachada num cruzamento, parecendo uma louca desgovernada. Até um mendigo se afastou de mim, assustado. Ouço alguns carros buzinarem e gritarem gracinhas pelas janelas. Eu arrasto minha mala ao meu lado, tentando ignorar o mundo. Mas o mundo não quer me deixar em paz!
Uma senhora passa ao meu lado, resmungando para um jovem que a guia pela noite: "Depois falam que não é provocação, olha a roupa dela. Tão vulgar! Está deixando tudo os homi ouriçados nos carros. Ai, ai, essa juventude está perdida! Meu filho..."; a senhora continuou a retrucar, mas não ouvi. Passei apressada, fechando o paletó que havia esquecido aberto.
Saí tão apressada que esqueci desse uniforme que marca todo meu corpo. Dou graças pela peça de roupa que o professor Lucca me emprestou. Passo as mãos no tecido do paletó, abotoando o último botão. Não consigo evitar pensar naqueles dois homens, tão diferentes do que eu julgava em suas aulas.
Revolta, surpresa e decepção. Meus sentimentos tomavam novas proporções quando pensava neles. A revolta de saber que fui vendida, a surpresa por vê-los juntos, se beijando e tocando, a decepção de constatar que eles sabiam daquele menu de corpos. Mais do que isso: Miguel e Lucca não só conheciam o negócio sujo de meu tio, como também usufruíam de seus serviços.
Puxei a mala com força. Eu amava as aulas deles na faculdade, eram minhas matérias favoritas. Todos babavam em suas belezas, mas era o carinho e paciência na hora da explicação que me cativavam. Às vezes víamos os dois conversando nos corredores, alguns os chamavam de irmãos, contudo a vida particular deles nunca havia me importado. Ao menos, até hoje. Hoje a vida privada deles bateu em minha cara e tocou meu corpo.
Corpo que eles pensaram que poderiam foder como se fosse qualquer outro. Confesso que fiquei surpresa e excitada ao vê-los entregues a um relacionamento carnal. Sou mulher, também sinto tesão, mesmo aquele momento sendo o pior possível. Ao menos sei o que ocorre naquela Sala 13. Haviam tantos rumores: fantasmas, mafiosos, CEOs ricos, fãs de orgias... mas nenhuma história me preparou para ver meus professores me considerando uma prostituta.
Parei. Estava há vários quarteirões de distância da boate. Respirei fundo, endireitando a coluna, secando as últimas lágrimas antes de levantar a cabeça. Incrível como meus pés conheciam o caminho para cá. Calma, coração. Não vamos assustá-los. Sorria como se tudo estivesse bem. Você consegue!
Tentei ser positiva. Peguei o celular e enviei uma mensagem. Sorrio pela resposta imediata, vendo em poucos minutos Jess acenar para mim do outro lado da rua. Respiro fundo. Aceno para minha amiga e ando em direção ao hospital. Ela me esperava numa portinha dos fundos, com sua roupa de enfermeira. Não perguntou nada, apenas me abraçou ao ver minha mala.
Em silêncio andamos pelos corredores do hospital. Ela segurava uma de minhas mãos, tentando esquenta-lá. Algumas pessoas nos encaravam, ora curiosos, ora desconfiados, mas Jess não ligava. Abria caminho pelos estranhos, me guiando para o quarto familiar.
— Não sei o que aconteceu com você, criança, mas fique aqui com sua mãe hoje. Ninguém irá lhe atormentar, prometo. – Jess sussurra para mim, dando dois tapinhas encorajadores em minhas costas. Ela sai prometendo voltar mais tarde.
Agradeço com um sorriso. Estou ali, olhando para a porta de vidro do quarto. A cortina me impede de enxergar quem tanto almejo. Respiro fundo e arrasto a porta. Só a luz dos aparelhos que clareia um pouco o cômodo, mesmo assim posso vê-la. Seguro o impulso de correr até sua cama e desabar em lágrimas. Ela continua igual, dormindo em coma, com tubos e fios enterrados em seu corpo.
Retiro o paletó com calma, focando nos botões como forma de cancelar o choro. Ali está quente. Abro a mala na poltrona, mas deixo intacta. Mamãe merecia uma explicação, uma palavra ou duas, o suficiente para ela saber que está tudo bem, mesmo nada estando bem. Segurei sua mão e acariciei. "Mãe, vim lhe visitar. Senti tanta sua falta que não consegui esperar o dia de amanhã. Dormirei hoje com você!".
VOCÊ ESTÁ LENDO
Leite Proibido [HIATUS]
RomanceAna tem 21 anos e acabou de trancar a faculdade de medicina. Há pouco tempo ficou quase órfã, já que seu pai cometeu suicídio e sua mãe acabou entrando em coma após presenciar todo o crime. Precisando desesperadamente de dinheiro, acaba aceitando o...