Capítulo 18 - Quais as chances?

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Miguel Godoy Bueno:

Lucca me encara, visivelmente tão perdido quanto eu. Encontrar Ana não estava em nossos planos, muito menos tê-la como a babá de nossa filha. Mamãe nem nos deixou falar nada, apenas puxou a menina pelos braços, mandando eu carregar para dentro a mala que ela trazia.

Nossa aluna senta tímida no sofá, tentando ajeitar o vestido. Uma maldita fenda expunha sua perna esquerda, o que parecia a incomodar. Confesso que gostei daquela cena, lembrou a menina calada e recatada que ouvia as minhas aulas. Quem diria que por baixo daquelas roupas existia uma baixinha de belas curvas...

O que estou pensando? Volto a encarar Lucca. Seu sorriso de canto da boca logo me denuncia, certeza que ele percebeu meu olhar indiscreto pra garota. Será que ele sentiu o mesmo que eu, afinal, nós dois éramos seus professores.

- Finalmente estou conhecendo a sobrinha de Clarissa! - A voz animada de dona Olívia toma conta da sala. - Já ouvi tanto sobre você, Ana, que parece já ser da família!

A baixinha sorria e concordava, tentando ser gentil com a mulher a sua frente, ao mesmo tempo que processava toda a situação. Eu quis rir da cena, ora ela olhava para mim, ora para Lucca. Não sei se isso a deixava mais assustada ou se ela apenas tentava encontrar uma explicação. Pena que estávamos tão perdidos quanto ela.

- Sou a Olívia, amiga de anos da sua tia. Ela disse que você gosta de Medicina, então vai se dar bem com meus filhos: Miguel e Lucca. - Mamãe aponta para nós. - Eles são médicos e professores universitários.

- Eu já tive aula com eles. Quanto tempo, professores! Estão bem? - Ana levanta para apertar nossa mão, com um pedido silencioso para que não comentemos sobre os nossos encontros recentes.

- Maravilha!! - Dona Olívia parece explodir de felicidade ao ver que não somos completos estranhos. - Assim será ainda mais fácil! Ana, vou ligar pra sua tia e avisar que está tudo certo.

Mamãe nem esperou resposta, tirou o celular do bolso e iniciou uma chamada de vídeo com a tal de Clarissa. A mulher do outro lado da tela parecia ainda mais animada com a situação, principalmente quando soube que Ana foi nossa aluna na faculdade.

- Meninos, a Ana é uma boa garota que já passou por coisas muito ruins. Por favor, cuidem bem dela. - Eu e Lucca nos endireitamos para aparecer na chamada e respondemos juntos: "Sim, senhora".

- Tia, não diga isso. - Ana deixa escapar num sussurro, um pouco afetada diante do zelo da senhora Clarissa.

- Não se preocupe, criei dois cavalheiros. Certeza que eles serão bons para nossa Aninha. - Dona Olívia abraça a garota, que retribui o carinho.

Foi o tempo da garota se despedir da tia na tela para minha mãe se levantar do sofá e ir embora. As duas senhoras estavam engajadas numa conversa, que mal deu tchau para seus filhos. Prometeu que passaria amanhã antes da viagem.

Não quis nem que a acompanhássemos até a porta, pois já havia chamado o motorista. Ela e dona Clarissa pareciam ter bastante conversa para colocar em dia. Quando não conseguia mais ouvir a sua voz, um silêncio estranho preencheu o ambiente. Agora éramos nós e Ana, numa sala que parecia diminuir a cada segundo.

Lucca Godoy Bueno:

Depois do nosso último encontro no hospital, fiquei pensando quando veria a senhorita Reyes novamente. Em momento nenhum imaginei que seria assim: como a nova hóspede de nossa casa, a babá de Lara.

- Eu não sei o que dizer. Juro que não sabia se tratar de vocês quando a tia me falou do trabalho. Eu amo ser babá e estava sem outras opções tão rentáveis, então decidi agarrar essa chance.

Foi interessante a forma como ela ficou de pé e nos encarou, falando tudo de uma única vez. Nossa aluna estava envergonhada e esperançosa? Talvez temesse que a expulsássemos ou algo pior? Não sei ao certo, mas as próximas palavras de Miguel não ajudaram a melhorar a situação.

- Bem, você tinha uma opção mais rentável. Só não quis aceitar.

- Não ligue para ele, senhorita Reyes. Miguel nunca sabe quando ficar calado. - Falo, lançando um olhar bravo para ele.

- Está tudo bem. - Ana respira fundo, antes de nos encarar. - Pelo visto eu realmente poderia ganhar muito dinheiro me prostituindo, afinal vocês estavam dispostos a pagar. Entretanto, tenho mais qualidades do que só vender o meu corpo. Não vou me desculpar pelas situações anteriores em que nos encontramos, estou aqui porque dona Olívia me contratou para ser babá. Se não precisam desse meu serviço, posso ir embora.

Sinto um misto de emoções com sua afirmação: na minha frente estava uma mulher forte, bem diferente da garota perdida que vi na boate. Ela não desviou do nosso olhar uma única vez enquanto pronunciava essas palavras, o que me excitou e preocupou ao mesmo tempo. Precisávamos falar algo, uma palavra e ela ficaria ali conosco, mas tanto eu quanto Miguel estávamos petrificados pela lembrança de a termos confundido com uma foda paga.

Ana pega sua mala e considera nosso silêncio como uma afirmação para sua partida. Quando ela estava prestes a abrir a porta e desaparecer de nossas vidas, escutamos um choro. O som vai aumentando, vindo do quarto de Lara.

- Só um minuto, Ana. Parece que nossa bebê acordou com fome.

Explico para a baixinha, pedindo que fique mais um pouco. Miguel vai até a geladeira, contudo me informa que não há nenhuma garrafinha. Merda, esqueci de pegar leite no hospital!

- Teremos que buscar leite. Não deve ter sobrado nenhuma garrafa na casa de mamãe, pois ela não trouxe junto com as coisas da Lara. - Miguel lembra, indo em direção ao quarto de nossa filha.

- Talvez eu possa ajudar. - Viro de costas, encarando a senhorita Reyes. Ela pode ajudar?

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Capítulo finalizado. O que acharam?
Mostrando para vocês o comecinho da interação desses meus bebês 🥰😏

PS: Miguel não perde uma chance 🙄

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