Capítulo 17 - As maluquices de mamãe

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Miguel Godoy Bueno:

Abro a porta de casa e levo um susto ao ver tia Francisca com uma mala gigante. A senhora que ajudou a trocar as minhas fraldas, dá um abraço abertado em mim, com um susurro de "boa sorte". Não entendo ao certo, até ver mamãe sair do carro com Lara nos braços. 

— Sentiu falta do papai? - pergunto pegando minha menininha no colo. - O pai Lucca está lá dentro preparando o nosso lanchinho.

Minha princesinha sorri para mim, um tanto sonolenta. Imagino que os três dias que passou com tia Francisca e a vovó foram bem bons. Faço um sinal para que as mulheres entrem em casa, mas só mamãe me acompanha. A tia vai embora no carro, rindo de mim. 

— Vou direto ao ponto! - Dona Olívia desata a falar assim que coloco Lara no quarto, chamando Lucca para nos acompanhar. - Eu, seu pai e tia Francisca vamos viajar, por isso trouxemos todas as coisas da Larinha na mala. 

— Legal, mãe! Para onde vocês vão dessa vez? - Lucca mexe uma panela no fogo, enquanto a questiona. 

— É aí que está a questão. Meus filhos, iremos ficar 6 meses turista do pela Europa.

— Como assim? 

— Não me interrompa, Miguel. - Sento novamente no banco ao ver seu olhar severo. —  Será difícil para nós ficar longe de vocês e da nossa única neta, mas essa viagem é uma oportunidade incrível para a família. Vocês sabem como são os negócios de seu pai…

Sim, nós sabíamos. Da noite para o dia, uma nova viagem. Muitos aniversários sem aparecer, mas contratos assinados em todo o mundo. Quando completaram 40 anos de casados, mamãe deu um ultimato: ou divorcia ou a leva em todas as futuras viagens. Papai não pensou duas vezes, carregou dona Olívia e tia Francisca (sua empregada/melhor amiga) para todo lugar. Contudo esta seria a primeira vez que ficariam tanto tempo longe de nós.

— Sei que Larinha está acostumada a ficar em casa quando vocês precisam trabalhar, mas já resolvi esse assunto. - Eu e Lucca a olhamos com um misto de curiosidade e apreensão. — Contratei uma babá para morar aqui com vocês! 

— A senhora fez o quê? - Gritamos em unissono, quase que Lucca se queima antes de desligar o fogo.

— Falem baixo, ou a filha de vocês vai se assustar. Não pensem que estou louca, escolhi uma moça de confiança, sobrinha de uma grande amiga minha. Ela morará aqui com vocês, assim a Lara não precisará ficar num local desconhecido e vocês poderão olhar de perto o trabalho da garota.

— Mãe, eu entendo que sua intenção foi boa, mas não podemos colocar uma qualquer em nossa casa, principalmente para cuidar do nosso bem mais precioso. 

— Ela não é uma qualquer, ela é uma babá altamente recomendada, eu liguei nas casas de família em que ela atuou. Todas as crianças a adoram e os pais sentem falta do carinho e cuidado que ela tinha por todos. Além do mais, ela é como uma filha querida para minha amiga Clarissa. Lembram da Clarissa? 

Lucca pareceu lembrar, mas eu nem me esforcei. E daí se havíamos conhecido essa senhora numa festa anos atrás? Isso não qualificava a sobrinha para cuidar de nossa filha. Por duas vezes tentamos encontrar uma babá, mas a Lara se incomoda com pessoas estranhas e acabamos desistindo. Era horrível ouvir nossa menininha chorando de soluçar sempre que alguém, além de nós, mamãe e tia Francisca, a pegava no colo. 

— Realmente precisaremos de alguém para olhar nossa princesa enquanto estamos no hospital ou na universidade. - Lucca quebra o silêncio. — Gosto da ideia da babá se hospedar conosco, assim a vigiaremos de perto. Também ajudará na adaptação de nosso bebê. Mande ela vir amanhã, faremos uma entrevista para ver se ela é realmente qualificada.

— Eu já a contratei. - Dona Olívia realmente quer me tirar do sério. - E mais, ela chegará em menos de 2 horas. Sei que vocês não terão plantão amanhã, nem aula para ministrar, então poderão passar o dia vendo como ela trabalha.

— Claro que a senhora já a contratou. - Falo desacreditado, respirando fundo para não me exaltar. 

Mamãe conta todo o acordo que fez com a tia da menina: ela morará no nosso quarto de hóspede e cuidará de Lara durante 24h por dia, de segunda a sexta. Como nossos horários são instáveis, ela sempre estará disponível. No final de semana poderá folgar e, caso tenhamos plantão para atender no sábado ou domingo, pagaremos dobrado para ela ficar com a Lara. 

— Ela tem uns 20 e poucos anos e é interessada em medicina. - Mamãe falava sobre a babá, toda animada. —  Por isso não se opôs com o horário maluco de vocês ou com o fato de ter que morar aqui. Ela é solteira e ama crianças, o que facilitará o convívio de vocês. 

— Como assim? - Percebo certa sugestividade na fala dona Olívia.

— Oras, se é solteira, não haverá nenhum parceiro enciumado por ela morar com dois homens lindos como os meus filhos. E toda a atenção dela será dedicada para nossa Larinha!

Fazia sentido o seu raciocínio, contudo era difícil aceitar uma estranha entrando em nossas vidas. A Lara não é como as outras crianças, ela tem dificuldades na adaptação e alimentação, por isso é confuso imaginar uma mulher chegando do nada para fazer parte de nossa rotina.

Comemos o jantar quietos. Mamãe estava animada, olhando o relógio a todo momento. Viajaria no dia seguinte, tanto que tia Francisca tinha retornado sozinha para casa a fim de finalizar a arrumação das malas. Nosso pai deu um rápido telefonema, desejando boa sorte em nosso encontro com a babá. Sorte é o que nós faltava há meses, a única exceção era a presença de Lara em nossas vidas. 

Depois da louça lavada, janta comida e algumas idas ao quarto de Larinha, que continuava a dormir, a campainha tocou. Ando em direção à porta, antes que minha mãe a alcance. Não deixarei que ela tome as rédeas desse momento, já basta ter convidado uma estranha. Agora eu farei uma entrevista apropriada!

Abro a porta e fico surpreso. Ana! Nossa aluna Ana? Vejo que sua expressão não é tão diferente da minha. Acabo ficando sem reação diante de sua presença. Até que mamãe abre passagem por mim e a abraça, como se a conhecesse há anos. 

— Seja bem-vinda, Ana! Estávamos lhe esperando.

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