Capítulo 16 - Na porta da esperança

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Ana Reyes:

Fiquei pasma olhando o celular. Há uns minutos tinha encerrado a ligação, ainda perplexa com a novidade. Eu tenho uma entrevista de emprego!! Na verdade, não é bem uma entrevista. Devo levar até minha mala pra morar na casa onde serei babá. Achei estranho, mas dona Clarissa enfatizou que os donos precisam urgente de alguém para olhar a filha, pois a avó irá viajar. Pelo visto a senhora é a única pessoa próxima em que eles confiam para essa tarefa.

De todo modo, precisarei me apresentar na residência deles ainda hoje. É um tanto em cima da hora, mas agradeço a chance, afinal, não terei que me preocupar com aluguel por 6 meses. Volto a comer meu almoço, tentando imaginar que tipo de família conhecerei. Qual profissão devem ter? Pelo visto, passam pouco tempo em casa durante a semana, já que precisam de uma babá 24 horas. A tia comentou que, às vezes, eles também trabalham no final de semana, o que me renderá um pagamento extra. Hummm… estou feliz!

Termino de comer e volto a atender às mesas. Os senhorzinhos estão animados conversando com as duas senhoras, são conhecidos de muitas manhãs de domingo. O clima contagiante deles e a promessa de um novo emprego fazem a tarde voar. Tenho que pedir para sair mais cedo e explico ao Joaquim, dono do lugar, sobre a possibilidade de ser babá. Ele realmente é parente do Vicente, me abraça, super feliz, comemorando essa conquista.

No final, acabei combinando com ele de ir aos domingos ser garçonete na cafeteria, sempre que meus novos chefes não precisarem de mim. Volto para o hospital, ansiosa para contar a novidade à Jess. Por que não me surpreendo quando chego e ela já sabe de tudo? Tia Clarissa havia ligado horas atrás para pedir que minha amiga me levasse até o endereço combinado.

— Vai tomar um banho, pois já arrumei até a sua mala. - Jess mostra minhas coisas todas organizadas. — Separei uma roupa bonita para você usar.

Ela me entrega uma sacola e me despacha para fora do quarto. Vou para o andar em reforma e respiro fundo ao entrar na salinha de descanso. É impossível não pensar em Lucca ao passar pelas camas vazias. Sinto um arrepio ao lembrar de nossas costas se chocando. Passei meses sem encontrar ninguém da faculdade, mas naquela noite esbarrei com o maldito do Pedro e os dois professores. Depois encontro um deles novamente aqui, em outra situação constrangedora para mim. Ao menos agora parece que minha sorte está mudando. Serei babá de uma menininha e terei um teto sobre minha cabeça.

Espero que o casal goste de mim. A mãe e o pai se dão muito bem, já que, segundo dona Clarissa, a família é bem amorosa e unida. A história deles parece até romance adolescente: se conheceram na infância e estão juntos desde então. Será bom viver num ambiente assim.

— Ana, vai dar tudo certo! - Falo em voz alta, para ver se torno esse desejo real.

Termino o banho e encho duas garrafinhas de leite. Estou indecisa se a roupa escolhida por Jess é adequada para o primeiro dia de trabalho. Confesso que o vestido longo é lindo, mas a fenda na perna talvez seja inadequada. Minha amiga é só elogios quando retorno para o quarto.

— Esse estilo camponesa super combina com você. - Aponto para a fenda, mas… — Para com isso, a abertura é só um pouco acima do joelho. Você terá todos os outros dias pra usar calça jeans, hoje você precisa impressionar a amiga da sua tia.

— Ela estará lá? - Pergunto confusa, pois desconhecia essa informação.

— Sim. Dona Clarissa disse que a tal de Olívia está doida para lhe conhecer. - Olho surpresa. — Você vai cuidar da única neta dela, sem contar que conhece sua tia, né? Ela deve ter lhe apresentado como uma princesa extremamente talentosa e apaixonada por crianças.

Dou risada da fala de Jess, sabendo o quanto dona Clarissa gosta de distribuir elogios. Reviso se não esqueci nada, dando as garrafinhas para minha amiga depositar no banco de leite do hospital. Quando ela sai, fico a sós no quarto com minha mãe. Agacho ao lado de sua cama, falando em sussurros:

— Não se preocupe, mamãe. Consegui um bom trabalho, serei babá de uma família feliz. Mas virei visitá-la sempre que possível, eu te amo! Para sempre!

Beijo sua testa e solto sua mão. Ela não se mexe, porém tenho fé que consegue me ouvir. Tento não chorar ao dar-lhe as costas e ir embora segurando a mala. Um novo começo me espera, deixarei a senhora orgulhosa! Entro no carro de Jess e logo sua tagarelice me distrai. Sorte que hoje ela não estava de plantão, apenas veio no hospital me ajudar.

Agradeço minha amiga quando chegamos no endereço marcado. É um condomínio fechado, com casas de médio a grande porte, o que chamamos de bairro de rico. Escuto um chorinho de criança vindo da casa à frente e me encaminho para lá. Quando estava prestes a tocar o interfone, reparo que o número está errado.

Aquele não era o endereço certo. Olho novamente nas mensagens da tia e descubro que a casa onde irei trabalhar é a do lado. Estranho, aqui não há barulho de criança. Vai ver o choro foi coincidência! Ponho um sorriso no rosto, ajeito o vestido e toco a campainha da residência correta.

Oh, não! Só pode ser brincadeira! Fico perplexa ao ver o professor Miguel abrindo a porta e me lançando um olhar mais surpreso que o meu. O que está acontecendo? Ele é pai? Mas ele não tem um caso com o professor Lucca? Eu só posso ter entrado em uma realidade paralela onde só existe esses dois no mundo. É muito azar! O que eu faço agora?

Antes de um de nós falar qualquer coisa, sinto mãos me abraçarem e uma voz feminina dizer ao meu ouvido: "Seja bem-vinda, Ana! Estávamos lhe esperando."

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Leite Proibido [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora