Capítulo 21 - Bon Voyage!

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Ana Reyes:

Ficamos mais um tempo na sala, até percebermos o quão tarde era. Acabamos deixando o resto da conversa para a manhã seguinte, depois de uma boa noite de sono. Os meninos fizeram um tour comigo pela casa, mostrando o meu quarto. A primeira porta do corredor era onde Larinha cochilava, seguida do dormitório deles e o meu.

Quando fiquei sozinha no cômodo, percebi que era o primeiro local com cara de lar que eu morava em meses. O quarto era bem espaçoso e pareceu ainda maior quando arrumei todas minhas coisas. Eu não possuía muitos pertences,  apenas o necessário para viver.

Decido passar uma ducha no corpo para relaxar desse dia maluco. Ainda não acredito que meus professores possuem uma filha, muito menos que ela é a bebezinha que amamentei no hospital. O destino realmente adora brincar comigo. Não vou reclamar, eles formam uma família muito linda. Gostarei de fazer parte da rotina deles…

Coloco meu pijama comprido, pois a noite está gelada, e decido passar no quarto de Larinha. A porta está aberta, permitindo que a luz do corredor ilumine um pouco o interior do cômodo. O espaço é bem grande, com uma cama próxima da entrada. Ao fundo temos o berço, uma poltrona e mundos de pelúcia numa estante.

Lara dormia tranquila, enrolada em uma coberta macia. Seus cachinhos ainda eram pequenos, mas bem fartos. Linda demais, pensei sorrindo para aquela visão fofa. Teve uma hora que ela fez uma bolhinha de baba, bem engraçadinho. Resolvi deitar na  cama ao seu lado, caso precisasse de leite na madrugada.

Em algum momento peguei no sono, com o braço esticado em direção ao berço. Acordo com um chorinho manhoso e pego uma Larinha faminta no colo. Ela logo se aquieta com a boca em meu seio, sugando de olhos fechados. Percebo que entra uma luz gostava por baixo da cortina e resolvo abrir um pouco.

— Neném da vovó, vim dar tchau! - dona Olívia aparece na porta do quarto, toda animada.

Muitas coisas passam em minha cabeça nessa hora: 1) Quando a porta foi fechada? Lembro que ontem deixei entreaberta, como encontrei; 2) O que dona Olívia pensará de uma estranha estar alimentando sua neta?; e 3) Será que é um problema eu ter dormido aqui?

Tento falar algo para a mulher à minha frente, mas ela pede silêncio, dizendo que não deseja incomodar o lanchinho de Larinha. Dona Olívia sorri e me chama para sentar com ela na cama. Ficamos lado a lado, sorrindo feito bobas para a bebê em meus braços. Não demora muito para ela parar de sugar o leite e voltar a dormir. A ajeito no berço, antes de encarar sua avó.

— Não precisa dizer nada, Ana, os meninos já me explicaram. - Sinto um conforto quando dona Olívia segura minhas mãos, olhando-me com ternura. — Fico grata em finalmente conhecer a doadora de leite que salvou nossa menina. Eu ficava agoniada sempre que Larinha chorava e o leite havia acabado. Demorou até descobrirmos que era do seu que ela gostava. Nossa família faz doações para a maternidade do hospital, mas nunca poderíamos pagar o suficiente para compensar as garrafinhas de leite.

Fico emocionada com sua declaração, sem saber o que responder. Ela pergunta se pode me chamar de filha, pois sente como se eu fosse da família, não só por ser sobrinha de Clarissa, mas pela conexão que possuo com Lara. Concordo com a cabeça.

— Há outra coisa que quero falar com você, filha. - Ela chega mais perto de mim. — E é sobre meus meninos. Eu adotei Lucca quando ele tinha 7 anos e Miguel aos 5, em diferentes orfanatos. Um cresceu cuidando e brigando com o outro, sempre negando se chamarem de irmãos, embora tratassem eu e meu esposo como pais. Na mocidade eles finalmente entenderam que o que sentiam era um amor além do fraternal. Foi difícil nossos familiares entenderem, principalmente com os dois tendo o nosso sobrenome. Por esse preconceito, meus filhos acabaram escolhendo esconder o relacionamento. Apenas pessoas muito próximas a nós sabem que eles são um casal, o restante acredita que a proximidade entre eles é por conta da criação como irmãos.

— E a Lara, os parentes acham que ela é quem? - Não resisto a perguntar, realmente preocupada.

— Que ela é filha de Miguel, pois sempre foi muito paquerador. Como ele divide a casa com o irmão, acham que o Lucca o ajuda a criar a sobrinha. 

Tenho pena dos professores, pois a própria família não é capaz de compreender a beleza do relacionamento deles. A fala de tia Olívia me pega de surpresa e me deixa com algumas dúvidas. Sorte que ela percebe e, antes de ir embora, diz que não preciso ter medo de falar que eles são os pais de Lara, pois essa é a verdade.

— Eu tenho orgulho dos meus filhos e quero que o mundo também sinta isso!

Com essa última fala, a senhora se despediu de mim e da pequena netinha que já acordava. Descemos juntas a escada, encontrando os dois homens na sala. Eles se despediram, eu e Larinha ganhamos mais um beijo da vovó, que partiu emocionada para sua longa viagem.

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Capítulo finalizado 🌈

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