O Declínio dos Olhos

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(1098 palavras)

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(1098 palavras)

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Um pouco mais afastado de Dáia, ao leste ficava o Reino de Virra e Orvi — ou Orvirras —, que era um lugar repleto de videntes, profetas e advinhos. Esse poder lhes permitia auxiliar os outros reinos e muitos deles serviam nas cortes e nos salões governamentais, informando onde cada decisão tomada iria levar.

Somente os adultos e os mais velhos diziam realizar presságios sem qualquer dificuldade. Desde que antes, uma única regra fosse seguida por todos: deveriam ser honestos e verdadeiros, por mais que a verdade fosse ruim, desconcertante ou cruel. Por esse motivo, todos, como um povo, eram considerados confiáveis e leais.

(Mas, talvez, devessem mentir ocasionalmente ou quem sabe, não se meterem onde não são chamados).

Alguns meses após começar o ciclo, houve agitação entre os videntes, os adivinhos não pregavam os olhos, nem os profetas conheciam o sono. O Reino inteiro de Orvirras entrou em confusão, agouravam que algo viria dos céus para a terra, algo novo, mal, sorrateiro, cínico e brilhante, viria dos céus, que se espalharia por tudo e todo lugar que sua luz tocasse. Prediziam que para todos, em qualquer lugar, sua luz significaria a morte!

Esse presságio percorreu os seis cantos como fogo na pólvora e algo que não conheciam tomou conta das suas almas como uma doença contagiosa, invadiu seus espíritos como um vírus e se apossou das suas mentes como gangrena. Durante todo aquele ciclo, o medo, reinou! O medo tomou conta deles.

Contudo, aquele ciclo passou e nada aconteceu. Outro ciclo veio e se arrastou, mas também nada aconteceu. Porém, eles ainda previam morte e destruição, sangue e devastação, fogo e gritos, morte e mais morte. Aquela predição fizera nascer o medo, o medo gerou a ignorância, dando à luz ao pavor, o pavor se enamorou da paranoia, do fanatismo e da discórdia, fazendo brotar a violência como capim.

Por causa desse atraso nas previsões, o povo começou a se revoltar, eles não ficaram aliviados por aquele mal ter se atrasado, eles se revoltaram por que ele não veio. E aquela terra que outrora não sabia o que era o mal, deu boas-vindas ao ódio e à violência, a um medo sem sentido e brutal! Chegou ao ponto das pessoas começarem a culpar o povo de Orvirras pelo mal que eles mesmo provocaram, julgando:

– Por que nos trouxeram isso? Por que nos fizestes sentir essa... essa coisa? Não éramos amigos?! Vocês gostam que sangremos? De que nossos filhos chorem desesperados? Vejam, esses machucados são vossa culpa!

– Se os Orvirras nunca tivessem falado ou tido aquelas visões, isso nunca teria acontecido!

E praguejavam:

– Malditos sejam! Se o povo de Virra e Orvi, nunca tivessem existido, isso nunca teria acontecido conosco!

Impulsivamente, conjecturavam:

– Se o povo daquele lugar, não existisse mais, isso acabaria!

Dois ciclos se passaram e aquele ódio só cresceu e se propagou gerando preconceito e divisão, até mesmo as crianças seguiam esse exemplo. Elas atiravam pedras, cuspiam, batiam... matavam!

Os antigos começaram a estalar suas línguas sempre que viam algo como isso acontecendo, estalavam tanto que pareciam pedras de seixo batendo em um chão de mármore. Estalavam ao acordar, ao comer, ao sair pelas ruas, ao cruzar com outros, ao olhar para os lados, ao retornarem para suas casas, ao borboletearem em seus sonhos.

Dessa maneira, o conceito de ruindade surgiu, tudo que os desagradava, que feria suas tradições, crenças e modo de vida, eram transformadas em estalos de língua. Com o passar do tempo seus chicotes imitaram esse som, seus tapas e pedras também e, em pouco tempo, um rival em igual crescimento surgia. E tudo o que era mau, rivalizava com o medo.

A tensão só aumentava naquele quarto ciclo, o suficiente para esquecerem da passagem daquele ciclo, do próximo que veio e do que se seguiu depois dele. As fronteiras e comércios com Orvi e Virra, foram todos desfeitos e durante aqueles três ciclos, eles os desprezaram.

Entrementes, após mais quatro ciclos, as coisas se amenizaram. Foi então, que os seis reinos de Vale resolveram esquecer tudo o que aconteceu e festejar a passagem daqueles ciclos fatídicos de uma só vez. Até mesmo o Reino de Orvirras fora convidado como sinal de perdão, mas eles não responderam. Os profetas perderam a voz, os videntes estavam cegos e os adivinhos não viam mais o futuro — embora não houvesse mais futuro algum para que eles vissem —, mas os outros reinos nem sequer ligavam para o silêncio deles.

A noite se dissipou quando o Sol nasceu, desafiando a hora da névoa. Sua luz intensa iluminou os céus, como se estivesse rasgando o firmamento. O espetáculo era impressionante, as luzes pareciam perfurar a terra, fazendo-a tremer, como se estivesse sincronizada com o ritmo celestial.

O Sol brilhou por um dia inteiro, sem parar, queimando os céus com uma luz intensa. Os raios solares explodiam em cores vibrantes, como fogos de artifício despencando dos céus, ecoando o espetáculo anterior. O ar vibrava com o calor radiante, enquanto a terra ainda tremia levemente, lembrando do toque que a havia sacudido. Então, o Sol pulsou seis vezes, como se estivesse batendo um ritmo cósmico, e finalmente deu lugar à noite estrelada, cobrindo o céu com um manto de estrelas cintilantes.

Os primeiros doze meses daquele ciclo chegaram e a vida continuou seguindo. Os Leins se empenhavam em construir o Museum-teke, a maior biblioteca-museu do mundo. Ela seria lotada de livros, espécimes vivos, quer fossem plantas ou animais, projetos, maquetes, modelos e milhares de centenas de outras coisas.

Ifusã, aliada a Leins e a Madam, construíram o maior e único centro financeiro dos seis reinos, com todas as bugigangas e aparatos tecnológicos que imaginavam e achavam necessário ter.

Quanto a Dáia, ela continuava a crescer com a ajuda de Ul, ficando cada vez maior do que era antes. Se expandindo deserto afora, ela se tornava uma potência na área médientármica (Relativo à ciência medica, ambiental e farmacoquímica). Aliada a Ifusã, o tratamento e cura de milhares de males se tornava possível. Desde a queda de cabelos, até o tratamento de pragas que devastavam plantações inteiras!

Sem dúvidas! Aquele ciclo realmente foi novo! Os reinos de Vale haviam progredido e avançaram extraordinariamente. Aqueles doze meses se passaram e os outros doze meses vieram trazendo ainda mais descobertas e novidades inigualáveis.

Madam, por exemplo, em suas muitas expedições, encontrou uma formação rochosa que antes, durante e após o espetáculo das luzes celestes começar, ela pressente de forma ainda desconhecida, e cria pulsos eletro-formadores, que fazem todo o Oceano de Pyra ao norte, do outro lado da cordilheira, congelar.

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O fim dos meiosOnde histórias criam vida. Descubra agora