(1552 palavras)
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Durante os vinte e quatro meses que compõem um ciclo, tudo se acalmara. As descobertas e novidades ocuparam o espaço das coisas ruins nas mentes das pessoas.
No fim desse ciclo, todos os seis reinos se prepararam para finalmente comemorarem o espetáculo das luzes celestes, como nunca festejaram. Iriam celebrar como não faziam há muito tempo, até porque, esse ciclo foi realmente especial! As pessoas largaram tudo para se concentrarem na maior festa de suas vidas, aglomerando-se no estádio de Virra. Todas estavam ansiosas, mal respiravam de tanta ansiedade. Ao cair da tarde, os sinos dos seis reinos badalaram freneticamente anunciando o tempo numa contagem regressiva e o último badalar marcaria o início de um novo ciclo.
No entanto, o sol não apareceu. Os relógios já haviam passado do segundo lado do primeiro passo da hora da névoa (meia-noite e vinte, mais ou menos), mas a noite ainda preenchia os céus. As horas passavam rapidamente e logo já era o fim da hora das cigarras (perto das seis da manhã), porém, a noite ainda os observava atenta.
As pessoas começaram a se preocupar, nunca havia demorado tanto para amanhecer, era algo assombroso. Quando o medo começou a vazar pelas camadas frágeis de suas almas paranóicas, os raios do sol estenderam energicamente seus braços segurando o tecido do céu como se fosse uma roupa. Seus raios agarravam-se ao céu de tal maneira que o fazia corar, como se desligasse suas mãos no corpo azul do céu (ventre abaixo). Ele roseava, avermelhava, se amarelava em um êxtase de cores. O sol invadia calma e pacificamente o céu, os dois misturavam-se rompendo em clímax. Ele abria-se deixando o sol preenchê-lo. Era um bacanal de cores, luz, sentimentos e pensamentos, um espetáculo para os olhos, um bálsamo para a mente, um alívio para a alma, que perdurou por três dias! E o ele permaneceu no céu tomando todo o centro das atenções. O tempo passou tão rápido que eles nem perceberam.
A Noite saiu de férias deixando o sol brilhar sem controle. Até que finalmente, ele começou a se pôr no fim do quarto dia. Assim que tocou horizonte, piscou catorze vezes.
O céu se revirava em seu leito, arfando continuamente, revolvendo-se em um prazer intenso. O sol latiu e pulsou e o último piscar foi antes do primeiro lado do primeiro passo da hora do entardecer (antes das sete e cinquenta) do quarto dia. Para quem via o céu estrelado, mal sabia terem se passado três dias.As cabeças acompanhavam o ocaso, toda a atenção deles estava voltada para — a Morte do Rei — nas imponentes montanhas do sul. Entrementes, do Norte, algo de novo surgia do horizonte, despertando com o ocaso. Uma luz branca se erguia e caminhava sem pressa horizonte acima, ninguém a notou.
Quando a luz se elevou, veio com ela o poderoso vento do leste, varrendo o chão desértico, levando na boca o gosto salgado do mar e o sabor amargo do futuro. A ventania fez a volta em Dáia subindo pela costa norte, entrou nas cidades desertas indo em direção ao estádio de Virra no centro do Reino.
Lá, soprou com toda a força contra as pessoas que estavam viradas olhando para o sul.
Alguns se arrepiaram com o frio vento, outras o perceberam, mas não se abalaram, outras nem o sentiram. Porém, algumas pouquíssimas pessoas ao se virarem assustadas com o toque agressivo do vento, viram com o canto dos olhos um vulto da luz branca irradiando no céu azul. À primeira vista, foi confundida com os grandes holofotes ao redor do estádio, mas a luz brilhava alto no céu, nenhum holofote ficava tão alto. Com a segunda vista, aquelas pessoas que perceberam o brilho de esguelha, simplesmente pasmadas, congelaram amedrontadas.Suas peles começaram a refletir o branco da luz num pálido mórbido e doente — desde sempre somente o sol se elevava, dia após dia, luz alguma nascia do lado oposto. Além das estrelas, nada mais brilhava de noite. Por esse motivo, o receio nasceu em seus corpos, o medo agarrava-se com tamanha facilidade desde que ele começara a existir. As pessoas que encaravam hipnotizadas a luz branca, paralisavam-se.
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O fim dos meios
General FictionEm um universo onde a paz reinava suprema, um Ser misterioso emerge das sombras, ameaçando a estabilidade de todos os reinos. No entanto, sua ascensão parece seguir um padrão conhecido, como se fosse um capítulo previsto na história do universo. Des...