Capítulo 33

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Pov. Ruby

O cheiro acre me faz sentar na cama e vomitar o pouco que havia no estômago, meus olhos estão pesados e minhas pernas fracas, limpo a boca com a manga do vestido e caminho até a porta me surpreendendo em encontrá-la aberta. 

Mesmo com o medo de que seja alguma armadilha eu a abro devagar e dou de cara com um extenso corredor vazio, apensa duas lâmpadas amareladas o iluminam e balançam de um lado para o outro conforme o vento bate de uma janela ao lado da minha porta, tento olhar além dela, mas tudo que vejo é o céu escuro e muita areia.

Caminho devagar tentando não fazer barulho e vou testando todas as portas e me decepcionando cada vez mais ao encontrar todas elas fechadas, ao chegar a última vejo que esse é diferente, não é marrom e velha como todas as outras, essa é vermelha e uma luz forte sai pelas frestas da porta, respiro fundo e giro a maçaneta que com um barulho audível começa a se abrir.

A luz é tão forte que coloco meu braço em frente aos olhos para me proteger da claridade repentina, outro corredor se abre e caminho rapidamente por ele dando de cara com um homem muito alto e com vestes árabes o seu olhar sombrio e cara fechada me dão a certeza que ele foi um dos idiotas que me jogou aqui.

Fico paralisada olhando para ele e não percebo que mais dois homens se aproximam e ficam as minhas costas, ele faz um sinal com a cabeça para que eu o siga e se vira, um empurrão me faz o acompanhar ainda em silêncio com medo do que possam fazer comigo caso não os obedeça, do lado de fora uma enorme fogueira ilumina a casa abandonada aonde estava e mais uma duzia de homens se aproximam saindo da escuridão do deserto.

Fico cada vez mais ansiosa e sinto minhas mãos e pernas tremerem a cada passo que dou, ele para tão de repente que acabo batendo em suas costas, sua mão enorme segura o meu braço e me puxa me colocando na sua frente e quando vou me virar para saber o que está acontecendo ele me empurra para continuar andando.

Agora mais irritada do que curiosa continuo caminhando em direção a grande fogueira sozinha, um arrepio me sobe pela espinha quando vejo um manto preto cobrindo alguma coisa no chão, meus dedos tremem, mas me forço a abaixar e puxo o pano com força.

O grito não sai, parece entalado em minha garganta, o corpo sem vida de Faruk me encara com os olhos arregalados e já não sei mais respirar direito, o seu corpo já começava a exalar um odor pútrido e sua pele estava arroxeada.

Quero gritar, quero chorar, quero ELE, mas estou petrificada sem saber o que fazer ou como agir. Em seu peito, mesmo com as camadas de roupa, posso ver o buraco de bala e o sangue seco em volta. Um tiro no coração, logo ele que jurava não ter um. 

Ele se foi. 

Minha mente parece enfim raciocinar e grito com todo o fôlego em meus pulmões, abraçada ao corpo sem vida me desespero e choro, os homens começam a rir de forma escandalosa e estridente como se meu desespero os alimentassem. Escondo meu rosto em seu pescoço gelado para abafar as vozes ao redor que apenas aumentam e aumentam o volume, o som característico de tiro é alto o suficiente para ser ouvido a quilômetros de distância e aí tudo fica em silêncio e vai escurecendo aos poucos...

[...]

Abro os olhos assustada e o cheiro de mofo ainda se faz tão presente como antes, meu coração bate tão forte que tenho medo de que ele pife a qualquer momento, olho em volta e nem sinal de Faruk, mas as lembranças tao vivas em minha cabeça desenham a imagem perfeita do seu corpo em decomposição e me fazem vomitar um líquido verde ao lado da pequena cama em que estou jogada há sei lá quantas horas.

Foi tudo um pesadelo, um maldito pesadelo.

Forço o meu corpo a reagir e sento na cama com certa dificuldade, meu rosto ainda dói e mesmo sem um espelho eu sei que deve estar roxo em alguns pontos, olho em volta não vendo nada que possa me dar ajudar a sair daqui, o quarto estava praticamente vazio, exceto pela cama e alguns restos de comida mofada pelos cantos, o que me dava a certeza de que não era a primeira pessoa que passou por esse lugar.

Vejo na parede oposta uma porta que não tinha visto antes e me obrigo a reagir, meu corpo reclama de fome e sede e não posso fazer nada a não ser rezar baixinho para que não acabe definhando aqui, do outro lado da porta encontro um minúsculo banheiro que consegue estar mais podre do que o quarto, mas pelo menos tem um pequeno espelho e uma pia, o vaso sanitário estava impossível de usar, alguma coisa com certeza deve ter morrido ali dentro.

Abro a torneira torcendo para que pelo menos um pouco de água potável saia dela, os canos rangem tanto que acho que vão cair na minha cabeça a qualquer momento, espero alguns segundos e uma fina linha de água começa a descer pela torneira, mesmo com medo estico as minhas mãos em concha e espero até ter o suficiente e levo aos lábios, graças a Deus é apenas o gosto insosso da água que eu sinto.

Estico novamente as mãos e jogo uma água no rosto e pescoço tentando aplacar o calor enorme e o enjoo que estou sentindo, o espelho mesmo sujo reflete um pouco a minha imagem e consigo ver que não estava errada ao imaginar que teria alguns pontos roxos ao redor dos olhos e bochecha, marcas que demorariam alguns dias para sumir, mas que estariam sempre gravadas na minha cabeça.

Ouço vozes abafadas e exaltadas do outro lado da porta que ganham a minha atenção por estarem bem próximas do quarto onde estou, infelizmente assim que me aproximo eu percebo que estão discutindo em árabe, o que não me ajuda muito. 

Tento ao máximo lembrar as palavras que estava estudando para ver se pelo menos consigo entender o assunto que estão discutindo, e com muito esforço consigo entender duas palavras que acendem de novo a esperança em meu coração: "Faruk vivo".

Tento respirar devagar para não ter uma crise de ansiedade, o que é com certeza uma das coisas mais difíceis que já fiz, a todo momento as imagens dele caído no chão completamente ensanguentado e quase inconsciente pipocavam na minha cabeça e me faziam duvidar se havia conseguido entender corretamente, mas o tom de voz alterado e passos pesados seguido de coisas se quebrando me davam a certeza que não estava errada. Ele está vivo.

- Venha me salvar de uma vez homem, já não aguento mais isso aqui.




Oie pessoinhas

Acelerei algum coraçãozinho por aí? Eu juro que não faço mais rs 🤭

Tô feliz com a copa, por isso vim aqui, adoro eventos esportivos. Se o Brasil ganhar segunda feira, atualizo mais um capítulo, por isso não vale torcer contra em.

Nas Amarras Do SheikOnde histórias criam vida. Descubra agora