Capítulo 2 - Hariel

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Foi impressionante a forma como aquela madrugada estava passando rápido e eu me envolvendo em algo completamente proibido, aquela garota era a proibição em pessoa.

Eu observava com atenção cada detalhe dela, o jeito que ela ria, como ela passava o cabelo para trás do ombro, e sua perna passou suavemente entre a minha para me ajudar bolando aquele baseado.

- Toma - meu irmão me trouxe uma cerveja.

- Valeu - agradeci e entreguei minha obra prima para Elena na meta de abrir a lata, acho que por muita força de vontade a lata espirrou, molhando quase por completo a perna dela, tive que me segurar para não passar a mão - Caralho, foi mal, vem aqui, resolvemos isso... - Levei ela até a cozinha, a entregando um pano logo depois - se seca.

Eu deveria ter saído dali assim que tive a oportunidade, mas já era tarde, a olhava parada perto da porta, ela se curvou e secou a perna com suavidade e muita sensualidade, ela não era nem um pouco idiota, ela sabia o que tava acontecendo e principalmente, que estava tendo controle sobre mim.

- Assim eu não resisto.

- E quem disse que é pra resistir - eu ri com a resposta, peguei o pano que ela tinha acabado de se secar, jogando ele em algum canto - e essa aliança? - droga.

- Ah, não é nada, ela não sai do meu dedo - menti feio, menti rude.

- Será? - Ela segurou minha mão e ali eu senti mais uma faísca percorrer minha corrente sanguínea. Ela tentou tirar o anel do meu dedo, mas por minha sorte, ele realmente não saía.

- Eai, esse beck não sai nunca? - Marcel gritou do lado de fora da casa, nos fazendo acordar do nosso transe.

- To indo - respondi já apressando ela para que fossemos para fora.

- Vocês são um bando de nóias - meu irmão disse antes de dar um gole generoso no seu copo.

- Ah cala a boca, Fe - Ágatha era sensata, falava coisas que eu pensava - acende logo esse caralho - mas as vezes agressiva.

Levei o baseado até a boca, me afastando um pouco da roda, Felipe não fumava, e tentávamos respeitar isso.

O gosto da folha de bananeira é forte, assim que traguei fui obrigado a tossir, mas continuei fumando.

- Posso? - Elena disse assim que parou na minha frente.

- Claro - a entreguei.

- Não sei fumar muito bem, mas vamos lá - observei seus lábios puxando a fumaça, aqueles lábios estavam me tirando do sério a noite inteira; e como já era de se esperar, logo após sua tragada, a tosse veio.

- Calma, relaxa, tenta de novo - dei um pequeno passo para frente, apenas para ficar um pouco mais perto dela, mesmo que já estivéssemos perto demais - não precisa puxar muito.

Ela levou o baseado até a boca novamente, enquanto olhava em meus olhos com aquele delineado que a deixava com o olhar felino, intrigante.

- Isso é forte - ela disse enquanto soltava a fumaça, acompanhada de uma pequena tosse.

- É que você gosta do maconheiro - dei uma pausa - não da maconha - naquele momento eu estava completamente convencido de que eu poderia puxar ela para um beijo e simplesmente esquecer que tinham outras pessoas ali.

- Opa, com licença - Ágatha interrompeu - só vim buscar isso daqui, que se não eu não fumo né? - ela disse pegando o baseado da mão de Elena - mas se vocês quiserem continuar ai, eu devolvo - ela disse já fumando.

- Pode fumar - dei risada e ela se afastou.

O silêncio reinou por alguns segundos entre eu e Elena, toquei a ponta de seus cachos e resolvi me afastar já que o clima ali havia sido cortado.

Entrei para buscar meu celular que estava no carregador, e quando ia saindo, ela estava vindo em minha direção.

- Licença - observei todo o espaço que tinha na garagem.

- Toda - dei um passo para o lado, para que ela pudesse passar, aproveitando para a observar, logo depois saindo.

- Eu não to vendo nada - Ágatha soltou, pelo jeito não era só eu e Elena que sabiamos o que estava acontecendo.

- Seloco, eu to louco pra dar um beijo na boca dessa menina - falei revoltado, talvez bêbado e chapado o suficiente pra dizer em voz alta - mas eu sou casado, eu não posso falar pra ela que eu sou casado - levei as mãos até minha cabeça, em sinal de desespero, eu a conhecia a quantas horas mesmo?

Olhei em volta para a cara de meus amigos que me encaravam com um olhar assustado.

Fiquei quieto.

- Quero ir embora - Elena disse assim que voltou, me assustei com a presença dela, com medo de ela ter escutado o que eu tinha acabado de dizer.

Foi quando me dei conta do horário, o dia já estava amanhecendo e eu não estava em casa.

- Vamos então, vou no banheiro - Ágatha disse, logo depois entrando.

- Vou vazar também - foi a minha deixa, encarei Elena uma última vez, e fui embora.

O caminho até munha casa foi turbulento na minha cabeça, milhares e milhares de coisas se passavam e eu me perguntando qual será o feitiço dessa bruxinha.

Parei na frente da minha casa e resolvi fumar um cigarro para tirar todo aquele estresse de mim.

Estava tentando parar, mas toda aquela situação estava me deixando ansioso, aquilo me pedia uma dose de nicotina.

O cigarro acabou em poucos tragos, satisfatório, eu precisava de um banho gelado.

Naquele dia eu percebi o tamanho do estrago que mulheres podem fazer na vida de um homem, eu conhecia aquela garota a poucas horas e eu ja estava completamente hipnotizado, só conseguia imaginar minhas mãos passando pelo seu corpo e seus lábios tocando os meus.

Mas ela parecia ser mais que tudo isso, ela estava tendo controle completo sobre mim e eu me sentia na obrigação de servir ela sem medo nenhum.

Por que Deus resolveu me castigar com uma provação dessa logo agora?

Elena é um pedaço de pecado, um sorriso encantador e um olhar feroz. Ela é um raio de sol com a pele bronzeada, as unhas feitas e o baby hair alinhado com os cachos bem definidos, ela era cada detalhe bem construído.

Me deitei na cama na esperança de tirar esses pensamentos da minha cabeça.

- Oi amor - Camila entrou no quarto, me despertando dos meus pensamentos.

- Oi - dei um sorriso falso.

- Nossa amor, tava me esperando? - foi então que percebi o volume em meu short, o que essa garota fez comigo?

Pode parecer terrível o que eu vou dizer agora, um pouco triste e egoísta, mas uma coisa que é necessário entender é que a gente não tem controle total de tudo que vivemos, as coisas acontecem como tem que acontecer, eu não queria que fosse assim, do mesmo jeito que ninguém gostaria que as coisas fossem como é, isso é perturbador.

E eu transei com a minha mulher, imaginando que eu estivesse com outra.

Talvez tenha sido uma das melhores transas da minha vida.

Mas não foi.

Faísca - Hariel.Onde histórias criam vida. Descubra agora