Capítulo Um

469 48 12
                                    

Olá! Como estão?

Depois de anos estou voltando a publicar um romance de época aqui, e ele já está concluído e em revisão para ser lançado na Amazon mês que vem. Mas decidi postar primeiro aqui! Por favor comentem bastante 🤗

Postarei todos os dias.
O livro faz parte de uma duologia, As irmãs Bredley.

Boa leitura!





O lorde perguntava-se se estavam muito longe de seu destino, sua casa no campo, e embora ele facilmente pudesse se orientar pela noite, o feito não poderia ser executado daquela vez. Chovia torrencialmente, tanto que ele achava que o condutor já tivesse se afogado debaixo de tanta água. Ele pensava que poderiam ter parado em uma hospedaria, ou uma cabana qualquer, mas ao que parecia estavam num campo completamente deserto, e pelas figuras escuras que apareciam a cada relâmpago que riscava o céu, ele podia notar que havia algumas montanhas ao redor. Apenas isto. Sem dúvida aquela não era uma noite propícia para se viajar. Mas como ele poderia prever isto? Ninguém poderia saber se iria chover ou não. Bem, salvo seu avô materno, que era romaní, e tinha uma incrível conexão com a natureza, a apenas vendo se havia um halo em volta do sol, isso era previsão de que nas próximas semanas não choveria, ou quando impressionantemente os sapos coaxassem à noite, em breve choveria. É claro que lorde Henson, homem feito, nos seus trinta e oito anos bem vividos, não acreditava mais naquelas coisas. Não era o antigo garotinho que se sentava em volta da fogueira para ouvir histórias de seu avô.
​A carruagem sacolejou, e ele segurou-se na porta. Estavam passando por uma região de muitos pedregulhos, e ao que parecia as rodas do veículo não estavam nas melhores condições. Mas ele tinha culpa nisso, pois havia decidido tomar uma carruagem de aluguel enquanto uma manutenção era feita na sua própria.
Nada de viajar a noite, deveria sempre lembrar.
Bocejou, cansado de estar sentado, naquelas quatro horas irritantes as quais se submetera a aquela tortura.
Estava quase fechando os olhos, quando houve outro sacolejo, e outro, e a carruagem parou. Ele ouviu os gritos do condutor, alguma coisa sobre soltar os cavalos, pois o eixo tinha quebrado.
Ótimo! Era o que faltava. Teria que passar a noite ali. Mas antes isso do que se molhar. Ele sabia bem como era ruim pegar uma gripe depois de molhar-se completamente numa chuva como aquela. Era melhor ficar abrigado ali mesmo.
Houve uma batida na porta, e em seguida o condutor a abriu. Ele estava completamente ensopado, e parecia irritado.
— Vou procurar ajuda, senhor. Soltei os cavalos e vou deixá-los amarrados numa arvore.
— Vai me deixar aqui nesta chuva? — perguntou o lorde, mas sabia que não tinha como ir junto.
— O senhor ficará bem. Volto logo, deve haver alguma hospedaria mais a frente. — e o homem saiu assim, sendo engolindo pela escuridão.
Sozinho, com fome, cansado e irritado. Essas combinações não parecia ser a melhor equação para resolver o problema, mas o lorde não tinha saída, então decidiu que iria dormir. Tentou deitar da melhor maneira possível, mas a perna esquerda ficou dobrada, e ele sabia que no dia seguinte isso seria um problema.
Ele estava cochilando tranquilamente, e nem tinha notado como a chuva tinha aumentado consideravelmente, e que isso seria um problema. A chuva começou a escorrer fortemente, e com um solavanco, empurrou a carruagem do lorde morro a baixo, numa altura do que seria no mínimo uns cinco metros. O homem acordou gritando, sem entender o que estava acontecendo, e quando se deu conta que a carruagem tinha virado, e ainda por cima havia muita água entrando pelo vidro quebrado, ele se desesperou. Precisava sair dali. Agora.
O lorde tentou abrir a porta, mas ela estava enterrada, e a outra estava presa em contato com o chão, impossível de abrir. Ele pensou então em sair pela janela, mas ela era muito pequena, nem que se espremesse passaria.
Por Deus, viu ali seu destino; morrer afogado dentro de uma carruagem.
Inútil, como podia ser tão fraco? A água já estava chegando em seu pescoço, e ele fez a única coisa que podia no momento. Gritou por ajuda, pediu aos céus que o condutor voltasse e o salvasse.
E finalmente a água chegou a sua boca e nariz, e ele prendeu a respiração inutilmente. Não agüentaria por muito tempo, sabia, mesmo assim se agarrou naquele último momento de vida.
Sim, já podia ver a morte chegando. Fechou os olhos e se entregou.
Mas a morte não veio, quem apareceu foi aquela pessoa, que subiu sobre carruagem, usou toda sua força e abriu a porta enterrada. Segurou o colarinho do lorde e o puxou para fora da carruagem. Ele se assustou, confuso, mas logo pulou para fora.
A pessoa continuou puxando-o, agora cavando com as mãos a terra encharcada, enquanto ele engatinhava atrás dela. Agarraram-se nas raízes de uma arvore, e conseguiram com muito empenho subir para a estrada.
Os dois caíram no chão, longe do fluxo intenso de água, deitados, ela ainda agarrada a ele.
Lorde Henson segurou a mão dela e a fez soltá-lo, enquanto ele se levantava e a ajudava também. Ele só notou que era uma jovem com a claridade de um relâmpago.
— Precisamos achar abrigo. — ela disse, apontando para trás.
Ele não discutiu, ainda estava em estado de choque, e precisava de ajuda mesmo. Caminharam os dois subindo e descendo morros, até encontrarem uma pequena cabana.
A porta estava fechada, mas o lorde reuniu suas forças e a fez ceder. Entraram no lugar e foram agraciados por terem simplesmente saído da chuva.
Ela foi até a lareira, e achou alguns pedaços de maneira, mas no escuro era tudo tão difícil. Ela esfregou as madeiras que estavam secas até uma chama aparecer, e ele foi atraído para ela.
— O que está fazendo?
— Fogo. O senhor deveria tirar essa roupa e deitar na cama, ou morrerá de frio. — a jovem sabiamente disse.
O fogo já tinha surgido, e ela o alimentava, e enquanto isso o lorde deu uma olhada para a cama e torceu o nariz.
— Não vou deitar nisto. Está podre.
Ela se voltou para olhá-lo pela primeira vez. E foi agraciada com a doce visão do homem mais bonito que já vira, não que ela tivesse visto muitos, mas aquele era perfeito. Nariz fino, lábios e sobrancelhas grossos, cabelo negro e um olhar que ela quase parou de respirar. Mas o que mais lhe chamou a atenção, foi a tez de cor morena que dava a impressão que ele tomava muito sol. Ele era um nobre, sem dúvidas, pelas roupas requintadas.
— Bem, o senhor é que sabe. Deve ter um poço aqui perto, já volto. — ela pegou um balde e foi em direção a porta.
— Vai sair nessa chuva? — perguntou ele, encarando-a.
— Já estou molhada mesmo. Tente se aquecer perto do fogo. — e assim a jovem saiu.
Henson piscou, atordoado. Fora salvo por uma mulher, estava vivo graças a ela. Ele só não entendia como ela tinha o encontrado, queria saber quem era ela, onde vivia. Pelas vestes, e pela aparência, parecia uma jovem, não mais que seus vinte anos, mas não parecia da nobreza. Óbvio Henson! Pensou. O que uma jovem nobre estaria fazendo ali aquela hora da noite? Suspirou, estava muito confuso, as coisas aconteceram muito rápido. Há alguns minutos atrás estava quase morrendo afogado, e agora estava tão congelado como um floco de neve.
Ela voltou pouco depois, carregando um balde de água, que despejou dentro do caldeirão à beira da lareira.
Ele aproveitou para olhar melhor para ela. Bonita. Cabelo castanho comprido em uma trança, lábios agora pálidos de frio, e olhos do mesmo tom das madeixas. Magra, mas nem tanto, e baixinha. Céus, como uma jovem daquela tinha o içado para fora da carruagem com uma só mão?
— Há algumas arvores frutíferas aqui do lado, então consegui colher algumas frutas. — a jovem revelou a bolsa improvisada que fizera com o vestido. — Deve estar com fome, senhor. — ela deixou as frutas sobre uma mesinha com dois lugares no centro da cabana.
Estava. E muita. Henson agarrou algumas amoras e comeu, enquanto ela usava a água que restara no balde para se lavar. Estava cheia de barro, ela merecia um pouco de dignidade.
— Quem é você? — ele perguntou, vendo-a de costas.
Ela se virou para ele, enquanto secava as mãos.
— Isso não importa, senhor. — ofereceu o balde a ele, que aceitou.
— Importa sim. Me salvou. Isso é importante. — lavou-se, e tirou o casaco sujo, deixando-o sobre uma cadeira. Ficou apenas com a camisa que um dia já fora branca. — Por que estava andando sozinha essa hora?
Ela bufou.
— O senhor é um nobre, verdade? Não deveria estar falando com alguém como eu. Assim que amanhecer seguirei meu caminho e o senhor o seu. — disse, fitando-o com medo.
Henson sentou-se numa cadeira e suspirou.
— E seu marido?
— Eu não sou casada. — ela respondeu, a primeira resposta naquela noite.
Algo brilhou na mente do lorde.
​Ele desabotoou a camisa, revelando o peito definido pelas horas de esgrima e luta. Sentou-se ao lado do fogo e fitou a jovem.
​— Deixe-me dizer o que acho: A senhorita é uma jovem criada que fugiu e agora não sabe para onde ir.
​Ela engoliu em seco.
​— Como adivinhou, senhor?
​Bem, se ele pensava que fosse assim, melhor desse jeito então. Pois, a verdade ele nunca poderia saber.
​Henson espalmou as mãos sobre as pernas dobradas.
​— Se eu lhe fizer uma proposta, promete considerá-la? — ele perguntou, um olhar penetrante.
​— Não sou esse tipo de mulher, senhor. — rebateu ela, rapidamente.
​Ele riu.
​— Obviamente me daria essa resposta. Mas veja bem, eu sou um homem desesperado, e preciso de uma mulher jovem para ter um herdeiro muito rapidamente.
​Ela piscou atordoada.
​— Muito rapidamente? — sua voz foi um sussurro.
​O lorde se levantou devagar, e caminhou até ela.
​— Sim. — quando tentou tocar nela, a jovem se afastou. — Aceitaria casar-se com um estranho em troca de uma vida de conforto e segurança?
​Segurança? Pensou ela. Sim, sim, aceitaria, sem dúvidas.
​— Nem sei seu nome, senhor.
​Ele deu um passo para trás e fez uma mesura.
​— Permita-me apresentar-me, sou lorde Henson. E seu nome, senhorita como é?
​— Mnemosyne. — balbuciou ela.
​Ele franziu a testa, achando engraçado.
​— Como o mito grego? — quis saber.
​Ela concordou com a cabeça.
​— Bem, já que agora sabemos a graça um do outro, preciso que decida se aceita meu pedido ou não. Tem até o amanhecer para responder-me. — e com um bocejo longo, ele se dirigiu para a cama.
​A mente da jovem começou a trabalhar nas possibilidades, e nenhuma delas poderia ter sido considerada até agora como sendo casar-se com um lorde da nobreza. Nunca nem em seu maior sonho a jovem teria cogitado isso, e perguntava-se se seria Deus ou o destino colaborando para que ela tivesse uma chance. Mas como se comportaria na sociedade se sempre vivera com farrapos? Comia com as mãos, usava trapos e suas unhas eram sujas de terra. Nunca seria uma dama.
​Mas estaria a salvo. Ninguém mais poderia fazer-lhe mal, tudo ficaria bem, e ela teria um bebê que seria tão bonito quanto o lorde. Ela gostava de bebês de bochechas gordas e rosadas.
Sentiu as lágrimas queimando seu rosto.
E se esse homem fosse igual... Não, não podia pensar nisso agora, tinha que acreditar sim que aquela era sua última chance. Talvez não fora uma coincidência ela passar por aquela estrada aquela hora e ouvir os gritos de socorro dele. Talvez fora o destino. E esse era seu destino.
A chuva acalmou durante a madrugada, e a jovem não dormiu, ficou alimentando o fogo, enquanto ouviu o ressonar do lorde ao lado, que parecia não ter mais se preocupado com a podridão da cama.
O dia já estava clareando quando ele acordou, e ouviram homens chamando do lado de fora. Ela se levantou assustada, em pânico.
— É meu cocheiro. — disse ele, levantando-se e indo até a porta. Mas antes de abri-la, ele olhou para ela. — O que decidiu?
Ela molhou os lábios e inspirou.
— Eu aceito, senhor.

Quando um lorde encontra o amor - As irmãs Bredley livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora