Capítulo Seis

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Mais tarde ela preparou o chá e bebeu, enquanto distraía-se contemplando a noite tão bonita, a lua simplesmente linda lá no firmamento.
Nem notou quando o marido entrou no quarto e se aproximou.
— Quando íamos até o acampamento dos meus avós, deitávamos sob a lua para apreciá-la — disse, assustando-a.
Mosyne virou-se para ele.
— Por acaso seus avós eram romanís? — perguntou a jovem.
Henson sorriu, e sentou-se na cama ao lado dela.
— Como sabe? Não comento isso com todo mundo, não porque tenha vergonha das minhas origens, mas porque sei que muitos não gostam — comentou olhando-a.
Ela bebeu um gole do chá e suspirou.
— Perto de onde eu morava quando era criança, havia um acampamento. Eu brincava com as crianças de lá. Sempre me encantou a cultura deles. Mas depois de um tempo foram embora e nunca mais os vi. — E ainda estavam ali as lembranças daquele tempo tão bom.
— Minha mãe é romaní. Ela provavelmente vai te contar a história de como conheceu meu pai, então não a privarei desse prazer. Mas carrego, sim, em meu sangue um pouco desse povo.
— Inclusive na aparência. Seu cabelo é tão escuro como a noite, tem a pele morena e o nariz como o das crianças que via. Eu gosto — confessou a jovem timidamente.
Ótimo, era sua deixa, pensou Henson.
Ele a surpreendeu quando tirou a xícara da mão dela. Colocou a louça sobre a mesinha e segurou a esposa pela nuca, enquanto depositava um beijo em seus lábios.
Mnemosyne pensou em afastá-lo, mas seus pensamentos foram contrariados pelo desejo que floresceu de repente.
O lorde abriu-lhe os lábios com a língua, e daí em diante o tempo começou a passar com lentidão. Claramente era a primeira vez que ela fazia isso, e ele precisaria lhe ensinar melhor, mas era suficiente para enlouquecê-lo. Henson a deitou sobre a cama e se colocou sobre ela, enquanto aprofundava o beijo, o gosto de canela vindo do chá adocicado era forte e o excitava. Desceu uma mão para os seios dela, esmagando-os, e enquanto puxava o decote para despir a pele macia, deslizou os lábios pelo pescoço, em um caminho de puro fogo. Revelou o mamilo rosado e túrgido, o qual abocanhou, chupou, lambeu e torturou sob os dentes, arrancando gemidos genuínos da garganta dela.
A jovem estava confusa. O que era aquilo tudo que sentia? Por que ele a beijava ali, mas ela sentia lá em baixo? Queria que ele a tocasse lá também!
— Só não irei possuí-la esta noite porque está com dores. Mas quando seus dias passarem eu lhe proporcionarei todas as delícias que existem numa relação entre homem e mulher — o lorde falou, antes de morder o lábio dela e se afastar.
Deixou a esposa sem palavras quando saiu do quarto, ela ainda estava imóvel, acalorada e muito frustrada. O que tinha acontecido ali? Ajeitou o vestido, o cabelo, tocou os lábios inchados e pensou no quanto tudo tinha sido maravilhoso...
Ela queria mais, era fato. Só que antes precisava cuidar de uma coisa que a impedia de dormir com o marido. Tocou o ventre.
— Ele disse que eu jamais poderia... — Sentiu os olhos arderem. — Mas vou conseguir, sim.
Era uma promessa para si mesma.


No dia seguinte, a pedido do lorde, uma cabeleireira foi chamada para atender a jovem.
— O que o senhor quer que eu faça no cabelo de sua esposa? — a mulher perguntou, com a tesoura na mão.
Mosyne, sentada numa cadeira em frente ao espelho, olhou para o marido, preocupada.
— Faça como ela quiser. Vou mandar subir uma bandeja com chá. Fiquem à vontade. — E desse jeito, ele saiu.
Quando ficaram sozinhas, a mulher mexeu no cabelo castanho da jovem e a fitou diretamente pelo espelho.
— O que gostaria de fazer? Franjas estão na moda, e irão combinar com seu tipo de rosto — sugeriu ela.
— Podemos tentar. Quero mudar minha aparência. Faça isso. — Sorriu confiante.
A mulher começou a molhar, pentear e cortar o cabelo enquanto conversava com Mnemosyne. Dessa vez, a jovem tomou cuidado de não falar nada que a comprometesse, ou que fosse gerar um prejuízo futuro. Já bastava a modista que tinha se tornado sua cúmplice.
Quando a cabeleireira terminou o corte, a jovem olhou-se no espelho e mal reconheceu-se com a franja bem cortada, sobre a testa, acima dos olhos.
Um sorriso genuíno surgiu em seus lábios.
— Ficou ótimo. Obrigada.
As duas tomaram chá e comeram biscoitos amanteigados, depois desceram até o salão, onde se despediram.
A moça quis saber do marido e encontrou Selma, a criada.
— Onde está o lorde?
— No escritório, senhora.
Concordando, ela decidiu ir até lá. Respirou fundo antes de abrir a porta e pensou se era mesmo uma boa ideia. Mas que mal podia haver?
Entrou, e Henson a olhou com curiosidade.
— Ficou linda — disse, levantando-se e indo até ela. — Feche a porta.
— Quase não me reconheci. Ela disse que eu ficaria com cara de mais madura — explicou.
— É claro, de fato, parece ter uns vinte anos a mais. — O lorde riu, e ela também. — Já que veio até aqui... Não deixarei que sua viagem seja vã.
— O que está fazendo? — Mosyne foi enlaçada pela cintura. — Gosto de seus beijos.
— Gosta? — Henson quis saber antes de cobrir os lábios dela com os seus.
Ele tinha encontrado o paraíso. Não seria hipócrita de dizer que com as outras esposas não era bom também, mas com Mosyne ele sentia um desejo tão grande que era difícil controlar-se. Queria desesperadamente tê-la em sua cama. Nos seus braços.
Ela o afastou com muito custo.
— Não quero que alguém entre e nos veja — confessou.
— Mas somos casados. E casais fazem isso, ainda mais os recém-casados — explicou ele. — Já que está tão bonita, pensei que essa noite poderíamos visitar minha mãe.
— Eu adoraria. Agora preciso voltar para o meu aposento, porque... Bem, você sabe. — Ela estava sem jeito.
— Sim, eu sei. Mas saiba que estou contando os dias. — Havia um sorriso diabólico nos lábios dele.
Mnemosyne não olhou para trás quando saiu. Passou por Selma com as bochechas coradas, cabelo bagunçado, e subiu. Trancou-se em seus aposentos, respirou fundo e tratou de lavar-se, trocando de roupa para a noite. Depois, tomou mais uma xícara de chá, e olhou-se no espelho, ainda pensando em como sua vida tinha mudado completamente nos últimos dias.
De caçada como um veado, para casada com um lorde e morando em Londres. Muitas coisas tinham acontecido, e ela não sabia julgar se era Deus agindo, ou puramente sorte. Não importava, não daria nome àquilo. Sabia que precisava aproveitar a nova vida. E quanto à maldição que rodeava aquele posto... Ela sabia que não morreria, a menos que aquela pessoa a encontrasse novamente.
Levou a mão ao peito. Estava segura, certo? Não precisava mais temer ninguém.
Seu pai era um maldito. Como o odiava. Pobre de sua mãe, que tinha sofrido duramente nas mãos dele antes de morrer, e sorte de sua irmã, que praticamente fugira para a Normandia antes de tudo ruir. Sobrara ela, frágil e incapacitada de lutar contra as forças dele.
Respirou fundo.
Era difícil esquecer as lembranças daqueles dias tão terríveis, dias nos quais achou que fosse morrer. Quanta humilhação, quanta dor, tanto, que houve momentos em que viu-se pensando em tirar a própria vida. Mas não, fora mais corajosa que isso. Decidira lutar, até que um dia se esgueirou para a cozinha, pegou uma faca e... acertou-o em cheio. Maldito seu pai por tê-la enviado para lá.
E agora estava ali. Ao lado de um homem amoroso.
Bem, enquanto bebia o chá, decidira que viveria tudo que pudesse ao lado do marido. Embora não pudesse ainda dormir com ele..., em breve tudo daria certo.


Poderiam ser com toda a certeza um dos casais mais bonitos de Londres, e o lorde ostentou orgulhoso sua esposa quando chegou à casa da mãe dele naquela noite. Quando entraram, uma mulher de vestido vermelho e adornada por muitas joias os esperava.
— Oh, como ela é linda! — Correu para abraçar a nora.
— Obrigada, senhora. — Mosyne sorriu, encantada com a nova conhecida.
— Olá, mãe. Essa é Mnemosyne. — Era verdade, seu ego estava inflado. — Mosyne, essa é Alba, minha mãe.
— Não fui convidada para o casamento do meu filho. Tamanho disparate — reclamou ela, enquanto os conduzia até os sofás amarelos.
— Estava bebendo, mãe? Já disse para moderar na bebida... — disse o filho, realmente preocupado.
— Aceita um vinho do Porto, querida? — ofereceu à jovem.
— Obrigada, mas eu não bebo.
Ao contrário dela, o marido bebia, e recebeu uma taça da mãe. Os três sentaram-se. Mosyne estava tímida e ficou quieta por um tempo.
— Enquanto conversam, vou subir para usar o reservado. Volto logo. — O lorde saiu.
— Confesso que recebi com alegria, e ainda assim assombramento, a notícia de que meu filho tinha se casado pela terceira vez. Espero, de coração, que essa seja a última. — Sorriu gentilmente.
A moça suspirou.
— Tenho total certeza de que serei a última esposa do meu marido. Teremos nossos filhos e...
— Ah, isso é bom. Quer dizer que já estão praticando? Perfeito! — comemorou bebendo vinho.
Mnemosyne ficou vermelha como um tomate.
— Sim, claro. Eu só... — Sentiu as lágrimas se formando nos olhos. — Desculpe, é que estou nos meus dias, sinto-me um pouco afetada.
— Tudo bem, minha querida. Eu entendo. E sua família, veio também?
— Não. Meus pais estão mortos. Eu era sozinha até encontrar seu filho, senhora.
A mulher ponderou.
— Sabe, criança, deixe-me contar a história de como conheci o pai de Henson. Ele deve ter lhe dito que sou cigana, e que vivia num acampamento. Eu era jovem, estava sozinha tomando banho no rio, e nunca imaginei que havia alguém espiando. Em outros momentos eu teria gritado, mas o homem desmaiou na minha frente, estava ferido, parecia ter apanhado muito. Então eu o levei para o acampamento, é claro. — Sorriu com a lembrança. — Nós tratamos dele, demos comida, roupas e abrigo. Ele tinha perdido a memória. Então lhe demos o nome de Wladimir. Ficamos amigos e nos apaixonamos. Mas um dia vieram buscá-lo. Nunca mais o vi.
— E o que aconteceu depois? — a jovem estava curiosa com o desenrolar da história.
— Alguns dias depois ele voltou, foi me buscar para casar com ele. Tinha recuperado a memória, mas lembrava-se também de tudo que tinha vivido no acampamento. E, bem, ficamos juntos e tivemos Henson.
— Espero ter um casamento como o da senhora.
— Nenhum casamento é perfeito, querida. Há muitos problemas entre um casal. Mas conseguimos viver bem. Até ele partir. — Ela fitou a nora com tristeza.
— Suponho que estava contando a história da senhora e do meu pai — Henson disse quando voltou.
— Você me conhece mesmo, filho. — Serviu mais vinho na própria taça. — Acho que está na hora de comermos. — Levantou-se e cambaleou, o filho a ajudando a ficar em pé. — Tudo bem, é a última taça.
Ao ver a sogra indo em direção à sala reservada para o jantar, a esposa puxou o marido para o lado.
— Eu ainda não sei usar a faca corretamente. Vou fazer feio — e sim, acredite, a jovem fez um adorável beicinho.
— Tudo dará certo, confie em mim — e com uma olhadela para a mãe, que estava de costas, depositou um beijo nos lábios da esposa.
Durante o jantar, mãe e filho falaram muito, e a jovem precisou concentrar-se o máximo que conseguia para comer. Estava fazendo tudo certo até que... a codorna assada escorregou do seu prato e voou para o decote da mãe do marido.
— Oh, meu Deus. Perdoe-me, senhora, eu não... Deixe, eu tiro. — A própria moça levantou-se, esticou-se sobre a mesa para capturar a ave do decote da mulher em sua frente.
— Mnemosyne, pare! — exclamou Henson, irritado.
Ela se sentou no mesmo instante.
— Coloque a codorna no prato, agora — e ela o fez. — Desculpe-me, mãe, eu não imaginei que...
Mas veja só, nesse exato momento Alba estava gargalhando, tanto que lhe faltava ar. O filho encarou a mãe sem entender.
— Há quanto tempo eu não me divertia tanto! Não se preocupe, menina, já passei por isso quando estava aprendendo a comer como uma dama — a mulher explicou, quando pôde falar. — Acho que estamos satisfeitos, certo? Vamos voltar ao sofá.
A jovem não disse mais nada até irem embora, e o lorde não parecia muito feliz. Quando estavam saindo, Alba puxou a nora ao lado e sussurrou ao ouvido dela.
— Conte a verdade a ele, querida.
Mosyne arrepiou-se. Como sua sogra sabia? Ficou pensativa sobre isso, mas precisou enfrentar outro problema. O marido estava chateado dentro da carruagem.
Mas ela decidiu ser brava também. Não lhe pediria desculpas, tinha lhe avisado que não daria certo... Culpa dele.
Em casa, ela nem o olhou quando foi para o quarto. Tudo que queria era descansar e trocar o curativo do pé, que estava doendo-lhe muito.
No outro dia resolveria o problema do marido emburrado.
Por ora, apenas mais uma xícara de chá, e descanso.

Quando um lorde encontra o amor - As irmãs Bredley livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora