Capítulo Vinte e Três

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Alguns meses antes...

Tudo mudara, desde aquela noite em que seu tio, irmão do seu pai apareceu para conversar com ele. Falaram a sós enquanto a filha preparava o jantar. Sopa de abóbora com carne de perdiz assada ao molho de ervas. Ela tentara ouvir alguma coisa da cozinha, mas falavam muito baixo, e ela se perguntava se era algo importante. Pelo visto sim, porque seu tio quase nunca vinha visitá-los.

Ah! O trabalho dobrara desde que Adrastéia tinha ido morar fora. Sua irmã mais velha era tão bonita, mas bonita de verdade mesmo, não simples e sem graça como Mnemosyne. Ela tinha os cabelos da cor do sol, e parecia um ser mágico como as histórias que ela contava para a mais nova. Sabia cantar, ler e escrever. Bordava muito bem, e tinha dom de cuidar das plantas. Enquanto a pobre jovem só sabia trabalhar. Mas ela não podia reclamar, vivia bem com seu pai, que a cuidava muito bem.

Bem cuidara, até aquela noite.

Ela serviu o jantar, eles comeram em silêncio, beberam muito. Quando seu tio foi embora e ela ia se deitar, o pai, bêbado, a segurou pelo braço e gritou em alto e bom som:

— Eu odeio você e sua mãe. Duas vagabundas! — empurrou a filha para o lado e foi deitar-se.

Em choque, Mnemosyne chorou a noite toda, sem entender o que tinha acontecido. Por que seu pai falara aquilo? O que tinha acontecido? Será que estava sendo uma filha ruim?

Os dias que se passaram o pai não falou direito com a filha, tratava-a com ignorância, mal a olhava. A jovem dobrava-se no trabalho da casa, no cuidado das plantas e ainda lavava roupa para os vizinhos. Quando chegava a noite, ela só queria dormir.

Mas, houve um dia que as coisas ficaram mais estranhas ainda. Seu pai saiu pela manhã, e voltou meio dia, bêbado, carregando um saco de moedas.

— Onde conseguiu esse dinheiro, pai? — perguntou ela, secando as mãos num pano.

— Vai pagar pelos erros da sua mãe. Eu fiz o certo. — disse amargamente.

Novamente, ela não entendeu o que tinha acontecido, mas seu destino estava traçado, quando, à meia tarde, dois homens apareceram com uma corrente de ferro que servia para prender animais. Ela os recebeu, e achou que o pai tinha vendido uma das ovelhas.

— O que querem?

— Você. Eu vim buscá-la. — o homem que falou era alto, corpulento e muito feio. Cheirava mal.

— O quê? Buscar-me? Não... — ela tentou correr até o pai, mas o mesmo estava atrás dela, e a segurou pelo braço. — Pai, não me deixe eles me levaram!

O pai não disse nada, ela só conseguia ver raiva, ódio no olhar dele. Alguma coisa muito grávida tinha acontecido. Ele tinha a vendido? Era isso? Por quê? O que estava acontecendo?

— Segurem-na. — o homem, que ela acabara de apelidar de demônio, enquanto seu pai e o outro mais magro a seguravam, passou as correntes pelas mãos dela.

— Não! Socorro! — Menmosyne chorava, se debatia, mas o homem era mais forte. Ela foi arrastada até uma carroça, onde foi jogada e presa. Enquanto se afastavam, ela via o pai na porta de casa, chorando. — Pai!

Ela não sabia dizer mais onde estava, pois haviam jogados uma capa sobre ela. Mas percorreram um longo caminho, e ela tinha sede, os lábios grudavam. Queria seu pai! Queria sua casa!

Era noite quando chegaram. Ele a tirou da carroça. Ela viu à luz da lua uma casa de pedra antiga, cheia de trepadeiras nas janelas. O homem a empurrou para dentro da casa escura. Levou-a até uma sela que só havia o chão frio de pedra e uma vasilha com água. Estava escuro, mas ela conseguiu se agachar, beber um pouco da água e sentar-se.

Quando um lorde encontra o amor - As irmãs Bredley livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora