Capítulo Sete

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Os dias que se seguiram foram absolutamente tranquilos, exceto porque a mãe de lorde Henson adoeceu e ele precisara chamar o melhor médico para atendê-la. Por conta disso, não pôde dar atenção a sua jovem esposa, que passou os dias deitada, ou tomando chá com Selma. A criada contara a ela as grandes fofocas sobre a temporada londrina, e Mnemosyne adorou saber mais sobre aquele evento tão interessante.
Já a raiva de Henson, tinha se esvaído feito fumaça, e aquele sentimento estranho que ele nutria pela esposa voltava a brotar em seu peito.
No oitavo dia, quando a jovem desceu para o desjejum, o marido a esperava com um sorriso no rosto, que resplandecia no recinto. E ela sabia por quê.
— Bom dia, Mosyne. Como amanheceu esta manhã? — ele indagou, levantando-se para puxar a cadeira para ela sentar-se.
— Bom dia. Estou bem. Parece animado hoje — atentou-se ela.
— E estou mesmo. — Henson se inclinou sobre a mesa. — Quero que se prepare para esta noite, irei procurá-la. Não ouse trancar a porta, caso contrário a derrubarei, não duvide.
Ela engoliu a comida e o fitou.
— Eu já disse, mas repetirei, meu senhor, serei obediente. É meu modo de agradecer por ter me dado um teto, comida e proteção — e parte disso era verdade mesmo.
Não encontrava forças para agradecer a ele pela vida nova que lhe dera sem perguntas, sem suposições e sem imposições. Ela sabia que precisava aceitar a consumação do casamento, mas faria de tudo para que não acontecesse naquela noite. Precisava de mais alguns dias para que os chás fizessem efeito. Como se deitaria com ele nessa noite e no dia seguinte já estaria grávida? Porque era assim que acontecia, assim que eles dormissem juntos, ela estaria grávida. Por isso precisava do efeito dos chás.
— É bom saber disso. Aliás, como hoje está muito frio e não vou sair de casa, decidi que vou começar a dar-lhe aulas de leitura e escrita. Vamos começar depois do almoço. Seus vestidos chegam hoje, e enfim se vestirá à altura. — Bebeu um último gole de café e levantou-se.
— Eu... queria pedir uma coisa ao senhor. — Mosyne respirava com dificuldade, tamanho nervosismo.
— Sim?
— Queria encontrar minha irmã. Sei que ela está na Normandia. Antes de ir embora disse que trabalharia para a senhora Nicola Strossmuh, e eu sei que era ao norte. Pode localizá-la? Por favor, eu... — Sentiu os olhos marejados.
Henson jamais diria não a ela. E aquele era um pedido simples, bastava contratar um investigador para fazer uma busca na região da Normandia e, quem sabe, por sorte encontrassem a moça.
— Por quem devo procurar?
— Adrastéia. É uma jovem de vinte e cinco anos, cabelos loiros, e muito bonita — descreveu a irmã, lembrando da última vez que a vira. — Se encontrá-la, diga para ela voltar, porque tudo foi resolvido e estamos em segurança agora.
— Eu prometo que a encontrarei e a trarei para você. Mas agora coma. Preciso resolver algumas coisas no escritório. — Abaixou-se e depositou um beijo nos lábios dela, que assustou-se.
Depois que ele saiu, a jovem continuou comendo, pensando que talvez as coisas pudessem começar a dar certo. Com a benção de Deus, estaria grávida até o fim do mês. Nada daria errado.
Bem, ela acreditava nisso, até o mordomo informar-lhe com discrição que havia alguém lá fora querendo dar-lhe um recado. A moça estranhou, mas, temendo que fosse algo importante, decidiu ver do que se tratava. Caminhou devagar até a porta, abriu-a e, no lado de fora, usando um fino casaco e botas furadas, estava um menino de uns dez anos. Ele a olhou com as órbitas escuras, não sorriu nem mostrou os dentes.
— Ele sabe onde você está. E em breve virá atrás de você — ele disse simplesmente, e saiu correndo pela rua até perder-se de vista.
Em choque, com o vento frio batendo contra sua pele, e o medo a consumindo, Mnemosyne entrou na casa novamente. Ignorou Selma e subiu depressa para o aposento. Lá, trancou a porta e jogou-se na cama, chorando de maneira inconsolável. Era ele. Ele a encontrara! Mas como? Aquele homem era como o próprio Diabo que rastejava do Inferno atrás dela.
Precisava dar um jeito nisso. Mas simplesmente não podia contar ao marido sobre ele... Porque o lorde a deixaria se soubesse do passado. Mnemosyne não sabia o que fazer; se aquele monstro a encontrasse, a mataria sem dó nem piedade.
Sentou-se na cama e tentou se acalmar, Henson não podia saber que ela andara chorando. Precisava encenar que tudo estava dentro da normalidade. E quanto mais rápido ele achasse Adrastéia, melhor, porque ela poderia dar-lhe força.
Foi até o espelho e usou o pó para passar no rosto e esconder as marcas das lágrimas. Depois coloriu os lábios com a pasta carmim que aprendera a usar. Olhou para a joia no pescoço, para os brincos bonitos e a aliança no dedo. Presentes do seu marido. Tão bondoso... Tão amoroso... Aceitou-a com todos seus problemas, com todos seus defeitos. Defeitos esses que poderiam pôr fim ao casamento.
Ela ficou no quarto até a hora do almoço, quando Selma a chamou.
Comeram enquanto conversavam sobre o frio, e o lorde contou que ajudava uma espécie de instituição que abrigava moradores de rua desprotegidos do frio intenso daquela época.
— Eu queria ter encontrado um lugar assim quando precisei — soltou ela, sem perceber.
Ele parou de comer e a olhou.
— Ficou muitos dias sem abrigo?
— Alguns. Cobria-me com capim para me aquecer — concluiu achando que tinha dado muitos detalhes.
Henson sentiu essas palavras como um golpe no estômago. Pensar que sua esposa tinha vivido na rua era triste e humilhante demais.
— Mas agora não precisa mais se preocupar com nada disso. Tem um teto, uma cama quente e comida à vontade. Está a salvo aqui, Mnemosyne — garantiu.
— Eu sei. E agradeço por isso. Mas as lembranças... — Suspirou. — Tudo bem, vou esquecer. Este purê está delicioso, verdade?
Ele sorriu.
— Depois dos últimos acontecimentos, sua habilidade com os talheres melhorou. Parece que andou treinando. Isso me agrada. Acho que não teremos mais codorninhas voando dentro de decotes — e riu, limpando a boca com guardanapo.
— Ora, não me lembre disso, ou me esconderei de vergonha debaixo desta mesa — brincou a jovem.
— Não é preciso, vou limitar meus comentários sobre o ocorrido. — Bebeu vinho e empurrou o prato para a frente. — Está satisfeita?
— Sim. Podemos começar as aulas? Estou ansiosa para aprender a ler e escrever.
— Acompanhe-me até a biblioteca. — Os dois se levantaram e foram até o lugar que tinha levado a jovem ao céu mesmo que ela não pudesse ler nada, e que Mnemosyne tinha visitado diversas vezes na última semana. — Sente-se.
Ela sentou-se ao lado de uma mesa, ele colocou um papel em branco e uma pena em sua frente. Como nunca tinha ensinado alguém antes, Henson seguiu a intuição e começou a escrever as letras do alfabeto, lendo e fazendo-a repetir, ressaltando o som que cada uma tinha.
Bem, na verdade alfabetizar era mais difícil do que ele tinha pensado, mas Henson entregou-lhe a pena e pediu que escrevesse os caracteres que compunham o nome dela, copiando da lista que ele fizera, letra por letra.
MNEMOSYNE.
— É assim que se escreve meu nome? — perguntou encantada com a descoberta.
— Sim. Agora continue ao lado. Vou ditar as letras.
HENSON.
— O que é isso? — quis saber a jovem.
— Meu nome. Henson. Viu como é fácil? — Ele pegou a pena da mão dela, molhou na tinta e fez um desenho envolvendo os dois nomes.
— É um coração. Estamos dentro de um coração. — Havia um sorriso no rosto dela. — Ah, obrigada! Estou tão feliz por estar aprendendo!
— Já que está tão agradecida..., pode me dar um beijo de recompensa...
Ela estava pronta para dizer que não, quando foi pega pela cintura e erguida até a altura da mesa, onde ele a sentou.
— E agora, se me permite, vou beijar minha esposa — e finalmente cobriu-lhe os lábios com os seus.
Era como açúcar derretido, a língua enroscando-se à dela numa dança erótica. A jovem agarrou-se aos braços do marido, que segurou a barra do vestido e puxou. Henson afastou-se para rasgar-lhe a roupa íntima, revelando intimidade de um jeito inesperado...
— Como...? Por quê?
Ele estava chocado.
Ela riu.
— Usei uma lâmina durante o banho. Nunca gostei de pelos. Faço isso em todo o corpo. Até no rosto. Não gosta? — preocupou-se com a reação dele.
— Definitivamente eu gosto. Muito. Vai tornar meu propósito melhor. Agora eu vou...
— Henson! — Mosyne quase gritou quando sentiu a boca dele entre as dobras de sua intimidade.
Ele trabalhou com a língua sobre um ponto que a deixava com calor, que a fazia querer fugir, ao mesmo tempo que ela queria mais. E o que era aquilo, o que era aquela espiral de prazer que subia a cada lambida, a cada vez que ele sugava sua carne?
— Não pare! Ah! — a jovem entrou num estado de êxtase, cravando as unhas na madeira da mesa.
O prazer era intenso, concentrava-se em seu ventre e lhe queimava por dentro.
Henson, quando sentiu que ela se acalmava, ergueu o torso e beijou-lhe a boca novamente, deixando-a, se é que era possível, ainda mais chocada.
O gosto dela para ela. Provocante, pecaminoso e imoral. Do jeito que ele gostava.
— Como se sente?
— Esgotada — confessou ela, arrumando as saias do vestido.
Agora surgira mais um medo: Henson pediria retribuição? Ela simplesmente não podia, não tinha como fazer aquilo. Não depois de tudo...
— Isso foi apenas uma parte do que quero fazer com você essa noite. Nossa aula acabou por hoje, suba para seu aposento e peça à criada que leve um lanche para você. Tenho alguns assuntos para resolver e nos veremos à noite. — Despediu-se com um beijo leve nos lábios dela.
Mnemosyne respirou fundo.
Juntou o que sobrara das roupas e saiu devagar da biblioteca, encontrando Selma no corredor.
— Mande subir um lanche para mim no quarto. Obrigada — e subiu as escadas com rapidez.
Mais tarde, depois de comer os biscoitos e o bolo que lhe foram mandados da cozinha, a jovem dedicou-se a tentar escrever seu nome novamente, fascinada com as letras que aprendera naquele dia.
Mas logo sua atenção foi desviada para Henson. O nome era tão simples de escrever. Havia um coração entre os dois. Era amor? Não, pensou, amor não devia ser assim. Amor, ela nem sabia se existia. Ao menos o amor carnal, não. Ela sim, sabia do amor dos pais pelos filhos. Esse era real.
Levou a mão à barriga. Como devia ser estar grávida? Ter uma pequena vida sendo gerada ali dentro. Tomou mais um gole do chá de nome difícil, enquanto pensava no assunto.
Os problemas de sua vida estavam tomando uma proporção descomunal, e ela já não sabia como lutar para resolver isso. Quando ajeitava de um lado, o outro se arrebentava. Má sorte!
E agora tinha que lidar com a ameaça dele, que a tinha encontrado sabe lá Deus como.
Oh, céus, o que faria?
Ouviu um barulho na porta e imediatamente olhou pela janela. Já era noite. O marido!
Oh, meu Deus! E agora? Precisava dar um jeito de impedir que ele... Pense, pense, rápido!
Ele entrou. Sorrindo. Fechou a porta.
— Mas já? Eu esperava que fosse jantar primeiro, marido.
— Tenho fome de outra coisa — Henson disse tirando o casaco.
Depois desabotoou a camisa revelando o peito nu.
Mnemosyne ficou de pé na cama e pulou para o outro lado. Evitando-o.
Ele ergueu uma sobrancelha sem entender. Mas mesmo assim foi até o lado em que ela estava.
A jovem subiu na cama de novo.
Henson abriu a calça e revelou o membro ereto, pulsante e pronto para o ato.
Sua esposa mal viu aquilo, porque logo em seguida caiu dura na cama.
— Mnemosyne! — gritou o lorde. Lá estava ele, com o membro agora murcho, para fora, enquanto se colocava em cima da esposa, tentando sentir-lhe a respiração. — Acorde!
Obviamente ela não tinha morrido, mas sim desmaiado.
O lorde ouviu o barulho dos criados chegando e teve a dignidade de guardar os "documentos" de volta.
O mordomo apareceu. Olhou para a moça desfalecida, o patrão seminu. Não entendeu nada.
— Chame um médico! Deixe-me sozinho com ela.
Sem mais ninguém no quarto, Henson colocou a cabeça da esposa sobre suas pernas e esperou. Momentos depois ela começou a acordar, confusa e assustada.
— Nós não...
— Não. Você desmaiou. Mas está tudo bem agora, descanse — ele a acalmou.
Ela estava com vergonha por ter desmaiado, mas aliviada porque fora cômodo, e assim pudera evitar o pior...
Enquanto o lorde se vestia, a jovem continuava deitada.
Mas ela não esperava que ele fosse notar uma coisa...
— O que é isso no seu pé? — perguntou o marido.
Mosyne não respondeu. Não tinha tido tempo para vestir as meias.
— Estou perguntando, Mnemosyne, o que é isso no seu pé?
A jovem engoliu em seco.
Como escaparia daquilo?

Quando um lorde encontra o amor - As irmãs Bredley livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora