Lorde Henson lavou as mãos na bacia com água morna, e a mesma ficou machada de vermelho. Olhou para a esposa desacordada, queimando de febre. Já era noite e ela não tinha melhorado, desde que o médico controlara o sangramento. Ele precisou costurar a pele, no meio da coxa, e o lorde quase desmaiou ao ver o tamanho do estrago da facada.
Sentou-se ao lado dela, numa cadeira.
Suspirou.
Por que não contara tudo a ele? Por que não tinha dito que tinha sido escravizada por aquele monstro? Não mudaria nada de seus sentimentos, não importava qual fora a vida dela antes de se conhecerem.
Henson se culpava muito. Por ser tão omisso, devia ter investigado antes, suposto que a esposa escondia algo grave. E o maldito agora queimava no fogo do inferno, e nunca mais precisariam se preocupar com ele.
O lorde estava tendo lembranças do que se passara, e sua memória estava voltando, mas ele não precisava lembrar, para amar a esposa. Amou Mnemosyne no primeiro segundo que a viu, toda suja de lama, com fome, assustada.
Ele sentiu os olhos ardendo. Há quanto tempo não chorava? Desde a morte da mãe, que Deus a tivesse, fora morta por aquele desgraçado e ele quase sofrera o mesmo destino.
Tivera sorte de encontrar Selma naquela manhã, e ela lhe entregar uma carta. Ele leu durante a viagem, e voltou rapidamente para salvar a esposa. Mas nem ele, nem ela, que acredite, planejava matar o demônio com suas próprias mãos, precisaram sujar as mãos com sangue dele.
— Acorde, passarinho. Eu estou aqui. — ele dizia, segurando a mão dela.
Mais tarde, Henson recebeu a visita do amigo, que estava preocupado com a saúde da jovem. Lorde Tremelin não parava de fumar, e aparentava estar muito nervoso.
— E isso é tudo que aconteceu. — contou o lorde, revelando os acontecimentos daquele dia.
— Nem os contos de terror que leio são tão intensos. Espero que sua esposa se recupere, bom amigo.
— Eu também espero. — bebeu um pouco de vinho e pensou. — Eu deveria estar sentindo este remorso tão terrível como sinto agora?
— Deveria. Um homem que não sente remorso não é um bom homem. — concluiu Eric.
Henson foi obrigado a rir.
— Obrigado por me animar, amigo.
— Oh, é para isso mesmo que eu sirvo. Apenas para animar, divertir as pessoas, eu não tenho mais nenhuma serventia do que isso. — Tremelin reclamou.
— Isso foi muito específico. Está tudo bem?
— Não, não está. Eu concluí que sou um inútil. Um lorde que só serve para beber, fumar e dormir com mulheres. — soltou um pouco de fumaça e olhou pela janela do escritório o entardecer.
— Isso deve ser uma crise existencial, Eric. Também já passei por isso. — consolou o amigo.
Revoltado, o loiro cruzou as pernas, depois descruzou e ficou de pé. Andava de um lado para o outro.
— Não posso acreditar que minha vida se resume a isso. Quero viver algo, alguma coisa que me faça mudar. — explicou o homem, sonhando. — Por que minha vida é tão pacata?
— Não disse que ia a Normandia?
— E vou, dentro de alguns dias. Espero que haja algo bom esperando por mim, lá.
— Eu aposto que será o começo da sua felicidade.
— Está usando seu lado cigano para adivinhar meu futuro? — brincou Eric.
Robert piscou para ele.
— Apenas considerando. — olhou a hora no relógio de bolso. — Quer ficar para o jantar?
— Não. Vou ver uma... Você sabe. — o olhar malicioso dizia tudo.
Despediram-se ali, com a certeza de que lorde Tremelin não estava batendo bem da cabeça, e que ele deveria sim viajar e procurar por aquilo que tanto lhe fazia falta. Quanto ao lorde, voltou ao quarto, com o coração na mão, pensando que acontecera um milagre e sua esposa tinha acordado. E, como se os céus respondessem verdadeiramente sua prece, ao abrir a porta, ele encontrou sua esposa acordada.
— Olá.
— Como se sente? — ele sentou ao lado dela. — Estava preocupado.
— Com dor. Me dê água? — pediu, a boca seca.
O marido encheu um copo com água e entregou a ela, que bebeu tudo. Devolveu o copo e o olhou com carinho.
— Obrigada.
Mosyne ergueu a coberta para ver que estava apenas com uma bata, e tinha a perna costurada. Franziu a testa para o marido.
— Não sei por onde começar.
— Não precisa ser agora. — tranqüilizou-a ele.
— Eu achei que seria uma salvadora para todos. — ela confessou, sentindo-se humilhada por isso.
— E você foi, de certa forma. Tanto que foi ferida.
— E ele...?
— Morto. — confirmou Henson, segurando a mão dela. — Seu inferno acabou hoje, Mnemosyne. É uma mulher livre. Não precisa mais fugir de ninguém.
Essa sim era uma boa oportunidade para a jovem chorar, porque não era demonstração de fraqueza, e sim lágrimas de vitória, não para comemorar a morte de alguém, mas sim por sua liberdade.
— Fui uma escrava, Robert, passei por tantas coisas, que não sei se um dia serei capaz de contar tudo a você. — secou as lágrimas. — Mas quero que saiba que estou feliz de estar aqui, e quero que me perdoe por tudo.
Henson depositou um beijo na fronte dela.
— Te amo, passarinho. Esqueça o passado e viva o presente comigo. — pediu, emocionado.
— Eu passarei o resto dos meus dias ao seu lado.
Era uma promessa, de corpo, de alma.
**
Nos dias seguintes, a jovem não pôde mover a perna ferida, e ficou na cama, enquanto o marido tratava de fazer tudo por ela. Levava comida para a esposa, dava banho, penteava os cabelos e claro, roubava-lhe beijos.
A situação em torno de Mnemosyne era grave, e envolveu as autoridades, que julgariam Selma por ser cúmplice de John, seu irmão, por ajudar e planejar a morte de Alba, através de pagamento a uma criada que se suicidar pouco depois de tudo descoberto. Fora um plano muito bem orquestrado, mas que terminara mal para os bandidos.
A jovem não queria falar mais do acontecido, e o marido não perguntava também. Ela só pensava que agora poderia ser feliz, ter a vida que desejava... Porque ao contrário do que tinha imaginado, Henson não a odiou por seu passado, não a condenou nem a tratou mal por isso. Ele simplesmente não se importava com o que tinha acontecido com ela ante, porque a amava.
Quando já podia caminhar, Mosyne se levantou.Tomou um banho, e quando saiu da água caminhou até a penteadeira. Olhou-se no espelho e notou algo estranho.
Seu abdome estava maior ou era impressão sua?
Seus seios também estavam diferentes.
Será que?
Sorriu.
Levou a mão aos lábios, para não gritar. Porque essa era a vontade.
Grávida?
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Quando um lorde encontra o amor - As irmãs Bredley livro I
Fiction HistoriqueTudo que lorde Henson queria era encontrar uma nova esposa, uma que não morresse tragicamente como as duas outras que tivera. Também queria, desesperadamente, um herdeiro, pois acreditava que já estava ficando velho. Acontece que devido sua fama p...