Capítulo 2

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Cidade dos redemoinhos — 1887

Início do outono

Os olhos perolados fitavam com preocupação o marido sobre a cama, enquanto esse inclinava-se em direção a um vasilhame erguido para si, e vomitava mais uma vez. Tudo havia começado com uma dor de cabeça, que rapidamente evoluiu para um estado febril e debilitado. Teimoso, Nagato lhe dizia: é um resfriado, acontece todo ano.

Ela havia mandado fazer chás, sopas, e pessoalmente cuidava do marido e sua febre que piorava, e agora, além de tudo, começaram os gemidos dolorosos do corpo e dos músculos afetados. Contrariando a vontade do coronel, a senhora Uzumaki mandou chamar o médico do município vizinho a fim de tratar o marido, e lá estava ela naquele instante, vendo-o acabar-se em fluidos enquanto o homem velho o analisava.

— É febre-amarela! — determinou e ela estremeceu. Não era um parecer bom, mas também não era ruim, não é? Afinal, boa parte daqueles que contraiam a doença, curavam-se em alguns dias. Embora o surto de quase duas décadas antes houvesse dizimado uma parte da população, havia agora mais conhecimento, porem não havia tratamento. — Ele deve se manter com hidratação. Se alimentar, sem esforços. Irei separar alguns tônicos para o coronel e compostos para ajudar com a febre e as dores.

— E-Ele... mal tem se alimentado, doutor. — apreensiva, ela tinha olheiras e marcas expressão de quem cuidava-o pessoalmente.

— Faz parte, precisa continuar tentando.

Hinata suspirou, e tomando frente a casa, quando saiu com o médico, tirou da gaveta do escritório a quantidade necessária para pagá-lo pelos cuidados e medicações.

— Ele vai melhorar. É um homem forte como um cavalo e jovem!

Hinata sorriu, ainda que sem legítimo brilho, enquanto apertava duramente seu medalhão de santo, em prece silenciosa. Sem Nagato e sem filhos homens, o que seria dela?

"Precisa manter a fé"

Dois dias depois daquele episódio, o coronel Uzumaki parecia inegavelmente novo. Os sintomas haviam desaparecido da mesma forma que vieram. Com grande disposição comia com voracidade. Com bom humor, livre da febre e apenas ligeiramente cansado. Talvez a fraqueza de ter estado acamado e pouco se alimentado. Ainda carregava a palidez na pele e as olheiras marcadas do desgaste. Para a Hyuuga, era um alívio imenso tal coisa. Poderia respirar. As coisas estavam lentamente voltando ao eixo, seu pasto estava prosperando, as novas colheitas eram otimistas com um bom clima, encheriam os silos com milho, cevada e trigo. O gado engordava... era um bom ano, e só estava começando.

Naquela mesma noite, já em ponte para o amanhecer, Hinata fora acordada pela velha serviçal que lhe conduziu ao quarto do Coronel.

— Quando começou? — indagou, vendo o homem completamente envolto de cobertas e tremendo-se inconsciente.

— Não sei, senhora. Vim fazer a troca de água e cuidados e... o vi assim.

Hinata aproximou-se do marido o tocando a face, e Nagato não só ardia em febre, ele parecia que queimava sob a pele.

— Prepare chá, acorde as outras e traga bacia e panos para abaixarmos a febre.

— Sim, senhora.

Antes do meio-dia chegar, ela temia pelo pior, afinal, era clara a mudança do marido. A febre que não baixava, a pele amarelada e o pior, o vômito que trazia consigo sangue. Com sua urgência mandou buscar o médico outra vez, enquanto se trancou no escritório por instantes enquanto esse o avaliava, encarando pela janela tudo que aquela fazendo era até perder de vista. Então, sozinha e desamparada, Hinata chorou pelo medo do futuro, pelo medo da perda, da insegurança, afinal, o que seria dela depois disso tudo? Nunca estivera tão frágil quanto estava naquele instante, e essa fragilidades apenas prolongou-se e tornou-se seu pior momento...

A viúva do coronelOnde histórias criam vida. Descubra agora