Capítulo 128

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|| Enzo Rodrigues ||

Saí do quarto da Maitê e desci as escadas da minha casa, indo pra cozinha.

Não sei se tô preparado pra essa conversa, mas eu preciso saber da verdade!

- Rosário?- chamei ela entrando na cozinha

- Oi filho- ela apareceu na cozinha- tá precisando de alguma coisa?

- Na verdade sim.- cocei a cabeça- A senhora tá ocupada? Quero falar contigo.

- Não tô, pode falar. - ela falou calma, limpando as mãos na toalha de prato

- Vamos lá pra área externa, o assunto é delicado. - mumurei e ela concordou

Caminhei com ela pra fora de casa e fomos até o final da casa que tinha uma piscina.

Me sentei na beira da piscina e a Rosário sentou do meu lado.

- Cê tá me preocupado. - ela mumurrou e eu suspirei- Oque tá acontecendo contigo? Desde que você foi naquela operação cê tá estranho.

- Eu vou te perguntar uma coisa e quero que a senhora me diga a verdade. - falei e ela assentiu

- Claro filho, nunca vou mentir pra ti.- ela falou calma e eu concordei

- A senhora é a minha avó?- perguntei pra ela, que arregalou os olhos

- Oque?- ela perguntou franzindo a testa

- O Carlos me disse que a minha vó ta viva e que era você, isso é verdade?- ela mexeu a boca pra falar algo, mas eu interrompi ela- Não adianta vim de caô pra cima de mim, se cê for mesmo minha vó, não minta mais pra mim.- virei meu rosto pra frente

- O Carlos falou a verdade, eu sou sua vó...- ela mumurrou, soltando um suspiro

Fechei os olhos e fiquei sentindo a brisa do vento.

Já desconfiava que era verdade, mas ouvi da boca dela foi um baque.

- Por que cê nunca me falou?- perguntei mexendo na minha mão- E por que você mentiu pra mim todos esses anos?- olhei pra ela- Eu confiei segamente na senhora, pra você me esconder uma coisa tão importante igual essa!

- Me perdoe filho, mas essa foi a única opção de eu poder te ver crescer. - ela falou com os olhos marejandos

- Como a única opção?- perguntei erguendo uma sobrancelha

- Eu não fui uma boa mãe pro seu pai, na verdade eu mal estive presente na vida dele, e por isso ele começou a me odiar.- ela fungou- Ele cresceu e estudou muito pra ser alguém na vida, aí ele conheceu sua mãe na faculdade e se casou com ela, e logo veio você. Eu tive coragem de procurar seu pai logo que descobri que ele ia ser pai, eu implorei pelo perdão dele, mas ele estava com um rancor tão grande de mim que não me perdoou, mas deixou que eu visse você crescer com a condição de eu ser a governanta da casa, e eu aceitei.

- E por que cê não foi presente na vida do meu pai?- cruzei os braços

- Eu engravidei na adolescência, com dezesseis anos nas costas e sem nenhum trabalho, e eu era de uma classe baixa, meus pais só tinham um emprego que nem pagava um salário mínimo. - ela suspirou- Quando meu pai descobriu que eu tava grávida ele quis me expulsar de casa, mas minha mãe não permitiu. Eu tive que sair da escola e procurar um emprego, mas ninguém queria contratar uma adolescente grávida- ela riu frustrada- então quando seu pai nasceu, eu deixei ele com a minha mãe e fui trabalhar em um cabaré me prostituindo.

Respirei fundo e abaixei minha cabeça, nunca pensei que a Rosário tivesse passado por isso...

- E o meu avô?- perguntei- Ele te abandonou?

- Não, não, ele nunca ia me abandonar!- ela sorriu em meio as lágrimas- Seu avô foi e é o grande amor da minha vida, mas ele era de uma família rica e os pais deles nunca aceitaram nosso namoro...- ela suspirou- A gente namorou escondido por alguns meses, até eu ficar grávida e contar a ele, ele ficou feliz com a notícia, sempre quis ser pai, mas os pais deles descobriram e mandaram seu avô pra outro país. Ele tentou fugir, mas não deu certo, e infelizmente na viagem o avião dele acabou caindo e ele morreu.

- Eu sinto muito...- mumurei olhando pra ela- Então o sobrenome Rodrigues não é o sobrenome do meu pai?

- Não, o Samuel inventou esse sobrenome pra não ter nada relacionado a mim.- ela suspirou- Eu não julgo ele, eu fiz a vida do seu pai se tornar um inferno, e isso contribuiu pra quem ele se tornou hoje.

- Mas a senhora fez tudo pra dar uma vida boa pro meu pai, ele só se revoltou.- falei calmo e ela concordou, limpando as lágrimas

- Pode ser, mas eu quero pedir perdão a ti, nunca quis esconder isso de você. - ela falou e eu neguei pegando na mão dela

- A senhora errou, mas eu entendo e não vou te julgar por isso. Se eu tivesse descoberto isso antes, pode ser que eu tivesse surtado, mas agora eu amadureci e sei que todo mundo erra na vida, ninguém é perfeito!- sorri fraco- Então sim, eu te perdoou.

Ela sorriu e alisou minha mão com o dedo indicador.

- Posso te dar um abraço?- ela perguntou e eu apenas concordei

Me aproximei dela e abracei a mesma, deixando algumas lágrimas saírem dos meus olhos.

- Meu neto querido...- ela mumurrou segurando meu rosto, e eu sorri dando um beijo nas mãos delas

Abracei ela mais uma vez e voltei pra o lugar que estava, me sentando no mesmo.

- Como era o meu avô, vó?- perguntei olhando pra ela

Ela sorriu fechando os olhos e deixando mais algumas lágrimas caírem.

- Ele tinha olhos verdes e era loiro- ela sorriu de lado- seus olhos são os mesmos dele.

- A senhora fala dele com um brilho nos olhos. - falei calmo

- Eu nunca deixei de amar seu avô, mas nosso amor não era pra ser.- ela falou com o semblante triste

- Como era o nome dele?- indaguei cruzando as pernas

- Francisco.- ela falou calma- Mas vamos parar de falar disso, tenho que fazer a comida da Maitê. - se levantou

- A senhora sabe que não precisa fazer as coisas daqui de casa- me levantei- eu posso contratar uma cozinheira.

- Eu sei, mas eu gosto de fazer as coisas, é a minha distração- ela mumurrou- e ninguém supera a minha comida.

- Isso eu tenho que concordar.- falei rindo, entrando na cozinha

- Então deixe o meu cargo pra mim- ela me fuzilou com o olhar e eu levantei a mão em rendição- vai cuidar da Maitê, já já apareço lá.

- Tá bom vovó. - falei dando um beijo nela e saí da cozinha

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