Capítulo 23 - O pior dia

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Genevive Molina

Eu estava certa de que nada poderia piorar. Achava que uma sequência de catástrofes não poderia acontecer em um curto período.

Eu nunca estive tão errada.

Quando entrei naquele hospital acompanhada por Bonnie e Morgan, eu sentia que tinha algo diferente. Talvez fosse o clima mais fresco, ou médicos e enfermeiras andando de um lado para o outro com uma certa pressa. Talvez fosse porque eu sentia saudades de Daryl e não tinha se passado um dia.
Ou talvez eu estava triste e estava vendo demais.

Mas quando eu cheguei na porta do quarto onde minha mãe ficava soube que eu estava errada. Amélia estava  debruçada sobre o corpo da minha mãe chorando compulsivamente, seus ombros tremiam e o médico tinha uma mão sobre seu ombro.
Dou um passo para entrar no quarto, sinto que tudo a minha volta está girando, olho para Amélia e para o médico confusa.

Isso não está acontecendo. Isso não é real.

O médico da um passo em minha direção, inclino minha cabeça para o lado tentando entender tudo a minha volta.

Porque tudo está mais lento? Porque eu não consigo escutar nada?

Dou um passo em direção a cama, meu corpo parece pesar uma tonelada. Meu olhar se encontra com Amélia, que tem os olhos inchados e vermelhos, seus lábios estão pressionados e lágrimas silenciosas escorrem pelo seu rosto.

- Gen. - diz com a voz embargada. Eu balanço a cabeça e finalmente olho para minha mãe. Ela estava tranquila e pacífica. Ela só estava dormindo tinha que ser. Levo minha mão ao seu rosto, porqu seu corpo não está quente? Porque ela não está exalando amor como sempre fez? Olho confusa para Amélia e o médico.

- Eu sinto muito senhorita Molina. Nós fizemos o possível, mas sabíamos que isso poderia acontecer a qualquer momento. - estreito os olhos em sua direção a procura da resposta que eu preciso. - Sua mãe faleceu a quase duas horas atrás. - nego e sinto lágrimas descendo pelo meu rosto. Aperto a mão da minha mãe em uma tentativa de sentir ela mais um vez. Seu toque quente e macio, seu toque amoroso. Isso não era verdade.

Não podia ser.

- Gen. - escuto alguém me chamar, olho para o lado Bonnie e Morgan me olhavam com lágrimas nos olhos.

- Ela não morreu, ela não pode morrer. - digo olhando para o médico. Ele da um passo na minha direção e eu me afasto. - Eu não me despedi, ela não pode ter ido sem se despedir. Ela não faria isso. - balanço a cabeça de um lado para o outro e olho incrédula para o médico. - Você tá mentindo!

- Querida, sua mãe está se despedindo a meses. - escuto Amélia falar e ela vem em minha direção. Dou um passo para trás e olho para minha mãe na cama.

Morta. Marie Molina estava morta.

O mundo não seria mais agraciado com o som da sua risada, seu coração puro e eu não teria mais seus braços cheios de amor. Eu não teria mais a minha mãe.

Dou uma risada amarga e olho para Amélia com os olhos arregalados.

- Ela não pode Amélia, eu não estava aqui, ela precisa saber! Ela precisa saber que eu a amo mais que tudo. Ela não pode simplesmente ir. - falo apressada e ela da mais um passo em minha direção e eu me afasto mais um.

- Meu amor, ela sabia. Ela sempre soube de tudo. - Amélia me olha e eu nego. - Você era tudo para ela querida. - olho inconformada para Amélia, ela tenta se aproximar e mais uma vez eu me afasto. Morgan e Bonnie se aproximam, seus olhos cheios de pena e tristeza. Abraço o meu corpo e sinto que estou sufocando, me afogando nas lágrimas presas em minha garganta. Elas dão mais um passo e sinto minhas costas baterem na parede. Tudo está confuso e embaçado.

- Não. - digo quando elas estão perto demais. - NÃO ME TOCA! - grito e as três se afastam imediatamente. - NÃO ME TOCA, NÃO ME TOCA. - abraço meu corpo na procura de algum conforto, na procura de encontrar o que encontrava nos braços da minha mãe. Meus pulmões gritam por ar, minha cabeça parece explodir. Me apoio na parede e olho em direção a porta. - Eu preciso ir, preciso sair daqui. - digo para mim mesma e corro em direção a saída do quarto, ando pelos corredores do hospital procurando a porta de saída. Eu não vejo nada. Tudo dói. Eu preciso de ar. Corro pela rua, escuto vozes e buzinas . Apenas barulhos perdidos, eu não paro de correr, não posso parar.

Olho para frente e encontro a entrada da mata onde o Daryl me trouxe a primeira vez que saímos.
Entro e caminho perdida, eu só preciso de ar. Só preciso de um pouco de ar. Meus joelhos vão de encontro ao chão, minhas mãos cravam na terra a minha frente e um grito de dor escapa dos meus lábios. Lágrimas caem sem intervalo e cada uma desce como uma facada em meu coração.

Ela se foi.

Se foi para sempre, eu nunca mais a veria, nunca mais escutaria sua voz, seus conselhos, seus carinhos e seu infinito amor.

Marie Molina era rara e única.

Eu não tinha mais ninguém, eu não tinha mais motivos pelo que lutar. E se eu apenas me deitasse aqui ? A melhor parte de mim se foi e eu não queria viver com a pior.

Não sei quanto tempo se passou, uma hora, uma tarde ou uma semana. Eu já não soluçava mais, estava sentada abraçada nas minhas pernas com o rosto apoiado nos joelhos, lágrimas escorriam silenciosas e sem permissão.
Silenciosas e doloridas.
Minha mente estava consumida por memórias com minha mãe e isso partia meu coração ainda mais. Meu celular parou de tocar depois de um tempo e agradeci por isso.
Eu não queria ir para casa, não queria me mexer e acho que mesmo se quisesse não ia conseguir.

- Genevive. - escuto aquela voz que eu aprendi a amar nos últimos meses. A voz que se tornou meu porto seguro. Meu peito parece doer dez vezes mais e sou invadida por uma nova onda de soluços e lágrimas. Sinto quando Daryl senta atrás de mim e me envolve com seus braços. E então com meu rosto enterrado em seu peito, desabo mais uma vez naquele dia.

Ao mesmo tempo que me sinto protegida, me sinto perdida.

Nada mais será a mesma coisa.

In the name of love - Daryl DixonOnde histórias criam vida. Descubra agora