Capítulo 9 - Inferno particular

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Genevive Molina

Quando eu era criança minha mãe costumava me levar á igreja, íamos ao menos uma vez no mês. Sendo honesta eu não prestava muita atenção pelo simples fato de: estar sempre com sono.
Fala sério manhãs de domingos foram feitas exclusivamente para serem dormidas. Mas teve esse domingo em específico, que o padre falou algo sobre inferno. Ele fez aquele discurso conhecido, sobre pessoas boas vão para o céu e pessoas más para o inferno. Pois segundo ele algumas pessoas merecem sentir o peso da ira e justiça de Deus.

Eu sempre achei isso meio confuso para ser sincera. A verdade é que não concordo com isso.

As vezes as pessoas não são más. Elas não nasceram assim, não escolheram ser assim. Elas são vítimas de acontecimentos infelizes. Acontecimentos esses que tornaram as pessoas fechadas, incompreendidas e talvez até um pouco insensíveis. Quebradas. Mas não más.

O ser humano adora julgar quem é - ou melhor quem eles acham que é  - “mau”. Afinal de contas é mais fácil, está ali, você está vendo. Então apontam seus dedos e te olham com aquela cara de: você vai para o inferno sinto lhe dizer. Você é mau.

O quão ridículo isso realmente é? 

Se alguém julga então é mau também mas, não. Não! A bondade certamente se encontra atrás da lavagem de dinheiro camuflada pelo  emprego ideal. Do casamento que é perfeito ao público e no íntimo é extremamente solitário. A bondade talvez esteja em expor sua filha em eventos fúteis e ridículos para arrumar um bom marido e nunca lhe dar um beijo de boa noite. Talvez a bondade esteja em agressões escondidas com um sorriso.

O que seria a bondade afinal?

De acordo com o que o padre falava  meu pai vai para o céu e eu para o inferno. Pois ele era o marido e pai perfeito e eu...bem. Eu agora tiro a roupa por dinheiro.

O que é irônico pois para mim meu pai era próprio diabo. Ele era e ainda é o rei do meu inferno particular.

Até os 9 anos eu fui amada. A partir dos 10 hoje percebo que fui manipulada.

Existem coisas que devido a nossa inocência não percebemos, ou melhor demoramos a perceber. Hoje vejo que eu sempre fiz o que meu pai queria. Eu fazia exatamente tudo que ele queria, até mesmo quando ele deixou de se importar. Até mesmo quando ele deixou de me amar. Eu simplesmente fazia, ele conseguia entrar na minha mente de uma forma agressiva e doentia. Hoje eu vejo o estrago que isso fez em mim. Vejo as cicatrizes e feridas ainda abertas das palavras que me lançava e atitudes que tinha. Por isso que eu digo meu pai era manipulador e mentiroso. E não costumam dizer que o diabo também é?

Eu posso estar errada, posso ver as coisas de maneira distorcida. Céus! Eu posso até mesmo ser uma vadia amargurada mas, eu ainda tenho o amor e a verdadeira bondade que minha mãe me ensinou a ter. Nunca acreditei nessa baboseira de “o fim justifica os meios” mas, hoje eu entendo. Entendo porque eu estou à um passo de subir no palco e começar a tirar a roupa. E nesse caso tirar a roupa significa ter dinheiro para remédios e tratamentos para ajudar a única pessoa que para mim vale a pena qualquer sacrifício.

A música começa com a sua batida lenta e sensual e então eu não sou mais Genevive Molina.
Eu sou outra coisa, outro alguém. Eu sou só uma dançarina que acabou de apertar o botão para desligar todo e qualquer sentimento. Sigo até a enorme barra em passos lentos porém firmes, o olhar eu sei que está carregado de uma sensualidade que até então estava escondida. Minhas mãos tocam na barra de ferro gelada e ergo meu corpo em um movimento que talvez seja uma linha tênue entre gracioso e sensual. Consigo escutar os assobios, palmas e os pedidos para fazer o tanto eles querem. Dou dois passos a frente, levo minhas mãos para as laterais do meu corpo e desço lentamente a saia branca. Mais gritos e assobios, eu quase posso sentir o cheiro de excitação mas eu ainda não me importo.

In the name of love - Daryl DixonOnde histórias criam vida. Descubra agora