Tᴀʟᴠᴇᴢ ᴅᴇ̂ ᴄᴇʀᴛᴏ

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Onde você e Richarlison não se dão muito bem, mas um acontecimento acaba fazendo vocês se aproximarem...

[♟]

Ser irmã de Rodrygo nunca foi algo que interferisse negativamente em minha vida, sempre gostei de sua profissão e o apoiei quando quis segui-la, até porque não tínhamos vínculo com nossos pais, fomos criados pela nossa avó, então depois que ela faleceu tive que cumprir com meu papel de irmã mais velha.

Eram três anos de diferença entre nós dois, mas não empatou que vivêssemos normalmente, sempre nos tratamos de igual para igual, e conseguimos viver bem assim.

Eu trabalhava em casa de família para arcar com a alimentação e com as despesas básicas, minha adolescência foi baseada nisto, era Rodrygo quem estudava, era ele quem se dedicava diariamente para nos tirar daquela vida.

Eu não sabia ler, nossa avó não tinha condição de me proporcionar uma escola, mesmo existindo as públicas eu não podia, eu tinha que ficar em casa para cuidar do meu irmão, ele era muito novo para realizar certas coisas, 4 anos depois veio seu falecimento, sentimos muito pela nossa única família, acima de tudo, ela era tudo que tínhamos...

E foi assim que com apenas 11 anos tive que largar minha infância, todos os dias depois de deixar Rodrygo na escola eu partia para o trabalho, era sempre uma rota difícil, a atuação que fazia para parecer o mais normal possível quando via algum policial era notória, o medo de ser pega era grande, mais o de ser separada de meu irmão, era maior.

Acho que me ver cuidando dele por todo esse tempo despertou sua força de vontade nos estudos, ele sempre foi um aluno muito dedicado, nunca foi de dar trabalho e também nunca precisei ser chamada na escola para ouvir reclamações de sua parte, suas notas eram impecáveis, de longe era muito inteligente.

Após terminar os estudos resolveu que não cursaria uma faculdade ou um cursinho local, sempre gostou de deixar claro que seu verdadeiro sonho era ser um jogador de futebol, nunca o julguei, como disse, sempre o apoiei em tudo.

Quando teve minha aprovação para seguir esse caminho foi como dormir e depois acordar sabendo que ganhou a loteria, porque foi exatamente isso que aconteceu, várias portas se abriram ao seu rumo quando lhes foram mostrado seu potencial, atualmente ele joga pelo Real Madri e é o atacante da seleção brasileira, nem preciso comentar o quanto estamos felizes não é mesmo?

Porque estamos, muito felizes...

— Vê se não esquece que amanhã 'cê tem consulta.- alertei a Rodrygo que andava ao meu lado em direção ao vestuário da seleção.

— Tá bom mãe prometo que não vou esquecer.- disse irônico me abraçando de lado.

— Sai garoto você tá' todo grudento.- reclamei enquanto tentava me afastar de seu aperto, mais sem resultados- Idiota.

— Ah para irmã.- debochou parando e colocando as mãos na cintura fazendo uma pose engraçada— É só um pouquinho de suor, não vai te fazer mal.- o encarei com um feição enojada e virando o rosto para o lado oposto— Fresca.

— Só não sou uma fedida igual você.- falei voltando a andar, mais parando logo em seguida por duas mãos envolvendo minha cintura e sentir ser encostada calmamente na parede— O que 'cê pensa que tá' fazendo pombo manco?- indaguei para o homem que me encarava curioso— Se quer me irritar por favor, hoje não é um bom dia.- anunciei esperando que ele desse ao menos uma provocada como sempre fazia, mais nada— Fala logo o que quer Richar-

— Lê isso pra' mim.- me entregou uma marmita de comida com um rótulo estampado em sua área lateral.

— O quê...- murmurei desacreditada, eu não sabia ler, e agora? 

Será que ele estava brincando comigo...

— Lê o que tá' escrito aqui.- repetiu novamente levando o objeto para a frente de meu rosto.

— Por que isso agora.- o questionei abismada, era inevitável a expressão de dúvida que formava minha face, não estava entendendo aonde ele queria chegar com isso.

— Porque eu quero que leia.- insistiu.

— E se eu não quiser?- retruquei simplista, mais no fundo, o nervosismo tomava grande parte do meu corpo.

— Se você não quiser vou entender que 'cê não sabe ler.- pronunciou leve, para ele, poderia ter sido fácil formular aquela frase, mais para mim, havia sido mais desafiadora que o normal.

Assim que ele declarou o que pensava eu não sabia o que responder, estava claro que o que dissera era verídico, de fato eu não sabia ler, mais porque dizer a verdade está sendo tão difícil, afinal eu nunca me importei que os outros soubessem disso, então porque eu me importo com o que ele pensa sobre mim?

Na verdade eu sabia, eu gostava de Richarlison, só não admitia...

— Eu não sei.- soltei de uma vez fechando os olhos com força— Você tem razão, eu não sei ler...

Após finalmente confessar aquilo que tanto me atormentava, eu me senti leve, porém, a insegurança que ainda rondava meus pensamentos se fez presente, o que ele pensaria de mim depois de saber que eu não sei fazer algo tão idiota.

Sou tirada do transe após sentir sua mão entrar em contato com meu rosto, fazendo uma leve carícia ali, senti um aperto na minha cintura o que consequentemente acabou causando um formigamento aparente no local.

— Abre os olhos.- Prorrogou com uma calmaria em seu tom de voz, atendendo seu pedido vou abrindo os mesmos delicadamente— Eu não vou te julgar, nem sei porque pensou nisso.- relatou respectivamente como se respondesse a mim mesma, mesmo que sem saber— Me desculpe se te deixei mal, só queria ter a certeza.

— Como você sabe?

— Ouvi seu irmão conversando sobre isso com o Paquetá mais cedo.- dialogou sorrindo ladino.

— Eu não entendo, o que você ganha com isso?- questionei intrigada, além do mais eu realmente queria saber o motivo por trás de tanta insistência em um assunto que não lhe cabia.

— Eu nada, mais você sim.- disse alargando seu sorriso com um brilho no olhar— Eu vou te ensinar a ler.

Assim que ele disse as demais palavras quase pulei de alegria, minhas pupilas se dilataram constantemente, o tom pasmo que se fazia presente em minha pele era de se assustar, ele queria me ajudar com meu problema, algo que ninguém nunca fez por mim, vocês podem até pensar que eu estou sendo precipitada, mais não, era algo que realmente despertava meu interesse, e saber que alguém se importa com a minha fraqueza, faz meu coração aquecer...

— Quando começamos?- perguntei animada recebendo uma risada aconchegante do maior.

Quem sabe isso dê certo...

𝐈𝐌𝐀𝐆𝐈𝐍𝐄𝐒, 𝖗𝖎𝖈𝖍𝖆𝖗𝖑𝖎𝖘𝖔𝖓Onde histórias criam vida. Descubra agora