dois.

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    ─── Não cai nessa, ein Catarina

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─── Não cai nessa, ein Catarina. ─── a senhora minha mãe me alerta ao passar por mim, segurando os dois potes de sorvete que já eram tradição nos almoços aqui de casa. ─── Não vai perder amizade de anos por causa de besteira.

Ergo o olhar pra ela, negando com a cabeça e rindo sem humor algum. Ela tem muito medo que a gente se afaste. Nós três, no caso. É algo internalizado a respeito de sentir que não somos mais os mesmos, que os filhos dela não são mais crianças.

─── Você se achar melhor que os outros porque 'tá morando de aluguel na Zona Oeste não é besteira. É quase desvio de caráter. ─── balbucio, falando em tom baixo porque também não queria causar discórdia caso Vanessa me escute. ─── Mas pode ficar tranquila, o seu queridinho não vai deixar de frequentar a sua casa.

─── 'Tô falando por vocês três, Ina. Vocês cresceram aqui ─── me olha séria, e só então eu percebo que ela não está brincando. ─── e não quero ver vocês perdendo isso. Faz um esforcinho, vai. ─── enruga o nariz, me olhando com a carinha que faz quando sabe que está me pedindo pra segurar a língua e que isso já é pedir demais. ─── Você vai superar a sua paixãozinha no João, eu prometo.

Como pode ser implicante, pelo amor de deus. Não é porque o meu mundo caiu quando eu assisti com os meus próprios olhos a pessoa mais próxima de mim pedir a outra pessoa mais próxima de mim em namoro logo depois de dançarem a breguice da valsa de debutante juntos que significa que eu sou apaixonada no menino.

Nem porque eu chorei quando cheguei em casa, ou passei o resto do ano irritada toda vez que os via saindo sem mim. Ou quando sentia que estava sendo trocada já que os planos deles deixaram de me incluir por várias vezes. Nada a ver. Absolutamente nada a ver.

─── Para de ser chata. ─── peço, antes de sair de vez da cozinha, carregando os potinhos e as colheres 'pra tomar o sorvete, junto com o saquinho de amendoim torrado que tem apenas um destino.

─── Isso é quase casar, vocês sabem, né? ─── eu pego o assunto pela metade, com André olhando em choque 'pra o casal.

A área externa aqui de casa é pequenininha, é quase que um corredor. Cabe, na largura, uma mesa de bar e um espaço o suficiente pra uma pessoa passar e tem pra comprimento mais que o suficiente pra duas crianças brincarem de altinha e quebrar a janela do banheiro e essa é uma suposição facilmente baseada em fatos reais. João e eu juntos era sinômimo de bagunça.

─── Quem vai casar? ─── divido o olhar entre os três e coloco as coisas que trouxe sobre a mesa. ─── Não acredito que vocês 'tão fazendo fofoca sem mim.

─── João e Vanessa 'tão pra ir morar juntos, Ina. Imagina.

Até tropeço na cadeira que ia me sentar. Morar juntos? Tipo de dormir e acordar juntos? Viver a mesma rotina? Isso é quase casar.

─── Vocês vão morar juntos? ─── a pergunta está no plural, mas estou olhando diretamente pra João.

E a cara dele me diz o que eu preciso ouvir sem nenhuma palavra. Não, eles não vão morar juntos.

─── A gente 'tá querendo, Catcat. ─── Vanessa se ocupa em me responder, minha mãe chega com o sorvete e André enfia a cara no celular. ─── Depois eu vou te mostrar os apartamentos que eu dei uma olhada. Você pode até ir com a gente quando a gente for visitar. João Victor 'tá fazendo o maior corpo mole 'pra ir lá.

Claro que 'tá. Ele quer ganhar um mundial pelo Flamengo e uma vaga na Seleção principal. Não é o plano dele morar com a namorada aos vinte e um anos. E se eu sei disso, ela sabe também.

─── Eu passo. ─── respondo, e de prontidão enquanto a assisto servir dois potinhos de sorvete. ─── Podem fazer o programa de casal de vocês sozinhos. Depois eu vou visitar vocês e vejo o apartamento.

─── Uhum, você que sabe.

Flutuo o olhar até João. Eu conheço esse menino antes de me conhecer e tenho certeza que esse assunto o deixa desconfortável. Não só porque eu prefiro acreditar nisso, mas porque ele se cala e mal mal agradece quando ela o entrega o sorvete. Estreito os olhos para ele, que nega com a cabeça como quem me diz um "esquece isso" e se desvia da minha atenção. Que historinha mais mal contada.

Depois de todo mundo se servir, eu puxo o pote 'pra me servir também, e como o costume e a tradição pedem, pego o amendoim e vou me sentar ao lado de João. Viro um pouco no sorvete dele e o resto no meu. É assim que a gente atrai sorte. Ele estreou no profissional e eu passei no vestibular depois da gente tomar sorvete com amendoim na frente de casa. É o nosso ritual de criança e não ousamos quebrar até hoje.

─── E a faculade? ─── questiona, dobrando as pernas 'pra minha mãe poder passar, já que estamos sentados no chão. ─── Já pode te chamar de Doutora?

Dou risada.

─── Daqui dois anos, talvez. ─── ergo os ombros ─── Você não sabe o tamanho do estresse, João. Eu 'tô pagando com a alma.

─── Para de bobeira, crânio. Tu é inteligente 'pra caralho. Deve 'tá sendo molezinha.

Não, não tem ninguém que coloque mais fé em mim que João Victor. Quando eu passei no vestibular, ele estava viajando e quase chorou junto comigo por vídeochamada.

─── 'Tá em qual período mesmo, Catcat? ─── Vanessa se inclui no assunto, é o próprio namorado dela que ergue a mão 'pra mostrar um três. ─── Caramba, daqui a pouco 'tá estagiando já. Eu 'tava falando com o meu pai sobre fazer faculdade esses dias. Não sei se eu ia querer me matar igual você faz.

─── Mas a Tarina quer ser médica mesno, né amor. Ela sempre quis. Você não quer isso. ─── o querido segue o assunto por mim, me fazendo abrir um sorrisinho ao escutar o apelido.

─── Mas é bom estudar, talvez outro curso. Eu só não vou enfiar a cara nisso agora porque o papai pode precisar de ajuda na empresa a qualquer momento.

E o pai dela é um simples gerente de RH.

    E o pai dela é um simples gerente de RH

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𝗩𝗢𝗖𝗘 𝗡𝗔𝗢 𝗣𝗥𝗘𝗖𝗜𝗦𝗔 ⊹ joão gomes 1/2Onde histórias criam vida. Descubra agora