vinte e sete.

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primeira quinzena de outubro
por Catarina.
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Respiro fundo ao me jogar no sofá, na minha primeira madrugada em que não estou exausta, ou estudando, ou no plantão. Acabei de fazer um balde inteiro de pipoca e nada me tira desse sofá até que eu termine seja lá qual for a série juvenil que vou escolher agora.

Ou não.

Até dou uma olhadinha no relógio pra saber se são mesmo as uma e meia da manhã que eu tinha visto agora a pouco, porque estão batendo o cadeado e eu já até espero o caos que eu vou ter que lidar mais uma vez.

─── Deixa lá, Catarina. Você não vai. ─── escuto minha mãe ainda da porta do quarto dela, ao tempo em que eu já tirava as chaves do suporte na parede.

Respiro fundo e junto o meu cabelo para trás, pensando no que dizer porque sei que ela está certa e que inclusive disse que aqui ele não entrava mais.

Mas estou colocando na balança. São quase duas horas da manhã, eu já tenho uma mínima ideia do que aconteceu e ainda assim, é o João. Que cresceu aqui e chama ela de tia.

─── Mãe... ─── resmungo, já destrancando a porta. ─── Você não precisa dar atenção, tá bom? Eu resolvo sem te envolver. Pode voltar pra dormir.

─── Uhum, e amanhã ele-

─── Amanhã ele vai embora pros braços da namorada dele, eu sei. Eu tenho certeza absoluta que é isso o que ele vai fazer. ─── termino de abrir a porta, calçando os chinelos enquanto ela me encara com a cara que faz quando a desobedeço. ─── Mas você me conhece, né? Eu não vou deixar ele lá em baixo.

Desço as escadas sem a dar o tempo de falar qualquer outra coisa. Abro o portão sem nem olhar na cara de João, o dou o espaço pra entrar. E não me surpreende nada que eu saiba que ele está chorando mesmo quando ele está de costas para subir as escadas, com o braço esquerdo parado na mesma posição desde que o vi. Eu sou simplesmente perita nesse menino.

Dentro de casa, minha mãe já não está mais no corredor. E isso porque ela não sabe o que ouvi no banheiro da academia e muito menos que ele esteve no hospital esses dias.

Decido que vamos ficar pela sala mesmo, porque já não tem mais nada o que esconder. Não tenho mais o estômago de ficar consolando ninguém, então ao tempo em que João está chorando no sofá, eu pego apenas um copo de água na geladeira que ele mesmo comprou e espero que ele se acalme, parada de pé e no meio da sala.

─── João Victor. ─── chamo sua atenção, esperando que ele erga o rosto e me olhe. ─── O que aconteceu?

─── Eu não vou voltar, dessa vez eu-

─── Você não vai, se você quer ficar aqui hoje vai ser pra não voltar mais, já coloca isso na sua cabeça. ─── sigo no mesmo lugar ─── O que aconteceu? Você tá machucado?

𝗩𝗢𝗖𝗘 𝗡𝗔𝗢 𝗣𝗥𝗘𝗖𝗜𝗦𝗔 ⊹ joão gomes 1/2Onde histórias criam vida. Descubra agora