dezesseis.

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10 de setembro de 2022

por Catarina.
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─── Me responde, tio. Você prefere ganhar do seu maior rival duas vezes no ano ou ganhar uma Libertadores? ─── André começa a plantar a discórdia, sentado de frente para o tio Bento que está literalmente vestido com uma camisa do Fluminense. ─── Tu só pode escolher um, teu time já escolheu um do.

─── Eu prefiro te descer o soco, o que tu acha? ─── como bem foi o imaginado. ─── Vai caçar o que fazer, vai lá. Ó, escutou? Vai abrir a porta.

─── Eu não, Catarina vai lá. É o João.

É aniversário de um das minhas primas hoje e toda a programação foi trocada pra o João poder chegar. Ele teve jogo hoje e tinha me mandado mensagem quando saiu do estádio, então já estava todo mundo esperando.

─── O Joãozinho! Eu achei que o Joãozinho não vinha mais pro meu aniversário. ─── Gabriela, a aniversariante do dia. Ela sai na minha frente e vai ela mesma abrir a porta. ─── Ooooi, João! Meu pai amado, não precisava de presente, você é maluco?

No último aniversário da Gabi que ele estava aqui, ela estava fazendo cinco anos. Agora está fazendo dez e inventou essa falsa modéstia, porque até eu quero saber o que está embrulhado dentro da caixa gigante que ele está segurando.

─── Não precisava? Eu vou colocar no carro, então... Amanhã eu vou lá e devolvo, né. Já que você não quer... ─── brinca, dando a entender que ia voltar mesmo e a fazendo o puxar pelo braço.

─── Calma aí, João! Agora você já tá aqui, né. Obrigada pelo presente. Tu quer salgadinho? Tem salgadinho, tem refri... Entra, a Ina vai te servir e eu vou abrir o meu presente.

Ela passa agora com a caixa maior que ela nos braços, a coloca no meio do corredor e começa a desembrulhar ali mesmo.

─── Tá bem? ─── murmuro ao voltar a atenção para o mais velho, que confirma com a cabeça antes de vir beijar o meu rosto.

Cinco dias desde aquele inferno daquele beijo na varanda de casa e a gente falou sobre isso somente na manhã seguinte. Depois disso nunca mais.

João está confuso, ele está vivendo muita coisa de uma vez só e eu não posso chegar mais perto do que sempre estivemos. Falei isso pra ele e sugeri que a gente esquecesse. Mesmo que eu não tenha esquecido nem mesmo a sensação de sua mão contra a pele da minha nuca.

─── Cadê o puddlezinho? Vem pra cá, João. ─── o contexto é que o meu tio tricolor não acha justo chamarem o João de pitbull sendo que ele é tão meigo. Isso nas palavras dele.

Seguimos para a sala e eu realmente vou buscar os salgadinhos como Gabi disse. Me sento ao lado dele e o entrego a comida, me acomodando como apenas expectadora da discussão da minha família sobre futebol, times sem Libertadores e times sem estádios. Sei que estava mais quietinha nos últimos dias, mas estou mais confortável assim.

─── Você tá bem? ─── vejo João inclinar o corpo para o meu lado, e eu rio fraco. Porque da última vez ele me beijou, horas depois de eu ter dito uma pá de cosias de uma vez só. Confirmo com a cabeça. ─── Tá quietinha...

─── Tô cansada só. ─── enrugo o nariz, agora encostada pra trás. ─── Depois do parabéns eu vou dormir um pouco, antes de vocês quererem ir embora.

─── Puddlezinhooo.. Vem pra altinha! ─── Gabi berra lá da porta do quintal, e João ri ao se levantar, mas segura a minha mão até poder me puxar.

Me contento em me encostar no sofá que fica do lado de fora. André, João, Gabi e mais uma galera se reúne no meio do quintal, começando a altinha que não deve durar nem três toques. Eu respiro fundo, olhando em volta com calma.

Diante dos últimos acontecimentos, tudo o que eu queria eram mais momentos como esse. Assistí-lo gargalhando e sem se preocupar com nada, ser quem ele é sem hesitar e sem me olhar com aquela insegurança toda. Eu sinto falta desse João.

─── Você é sinistra, Ina. ─── preciso abrir espaço pra minha mãe sentar ao meu lado. ─── O que você fez é loucura. E o pior de tudo é que você fez o certo.

─── Que papo é esse, dona Penha? ─── rio fraco, mesmo que a minha atenção esteja toda na brincadeira rolando mais na frente.

─── Você sabe, Ina. Não se faz de sonsa. ─── estala a língua. ─── Você espancou a Vanessa em público, bateu no peito e colocou o João nas costas. Você acha que qualquer pessoa faria isso por um amigo?

─── Qualquer pessoa faria isso por um amigo. ─── afirmo, porque pelo menos eu penso assim. ─── É automático, você não pensa muito. Só faz. Você não faria isso?

Preciso olhar pra ela pra vê-la negar com a cabeça.

─── Tu foi sem olhar pros lados, entrou na frente do João e assumiu uma responsabilidade que não é sua. Você ia sair de casa de madrugada pra ir atrás da Vanessa! Você tem noção?

─── Tá brigando comigo? ─── desvio o olhar, a escutando rir.

─── Não, eu tô te elogiando. Ele tá melhorando, você falou com o Diego, você conseguiu tirar a Vanessa de perto dele... Tu sabe que o que aconteceu com eles mata, né?

Quando ela perguntou se eu tenho noção do que aconteceu, eu teria respondido que não facilmente. Porque eu não tenho mesmo, é verdade que eu não pensei muito. Saber que João estava em perigo e sofrendo como estava me colocaria na mesma posição quantas vezes necessário. Eu faria tudo de novo.

E principalmente por saber que o que aconteceu com ele mata. E ainda mais no ponto que estava, já que eu sei que se não fosse todo mundo em volta estando de olho, João já teria aparecido na porta da Vanessa. Eu sei o tamanho do problema, por isso lido com ele de frente.

─── Sei, por isso que eu fiz o que fiz.
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próxima att tá uma gracinha
um beijo e um abraço

𝗩𝗢𝗖𝗘 𝗡𝗔𝗢 𝗣𝗥𝗘𝗖𝗜𝗦𝗔 ⊹ joão gomes 1/2Onde histórias criam vida. Descubra agora